A pegada carbónica associada à instalação e manutenção dos gigantescos data center que vão alimentar a revolução da Inteligência Artificial poderão ter um custo muito elevado para o nosso planeta. O que não parece ser contraditório com a corrida insana que muitas empresas ligadas às tecnologias de ponta estão a fazer para instalarem data centers por todo o lado, dos Estados Unidos a Sines em Portugal.
Saiba qual é o estado da arte atual associado à revolução tecnológica prenunciada pela Inteligência Artificial.
Qual o custo dos data centers para o planeta?
Segundo um relatório recente lançado pela consultora JLL, os data centers atualmente instalados em território norte-americano já consomem mais energia do que toda a região metropolitana de San Francisco. Isso considerando os serviços de energia pública para funcionamento dos transportes, casas e negócios. Mas este é apenas um cenário conservador do impacto energético brutal que os data centers poderão vir a representar.
Neste momento, as start-ups e empresas tecnológicas ligadas a IA que estão a receber centenas de milhões de dólares em financiamento. Querem acelerar o desenvolvimento, aproveitar o máximo de recursos e escalar a instalação de data centers por todo o lado. Virgina do Norte, Dallas e Silicon Valley estão entre as zonas mais apetecíveis para exploração deste setor. Mas lembremo-nos que Portugal também esteve na corrida por oferecer território a troco de centros de dados.
Como está a competição nos data centers?
A competição cresce em particular nos Estados Unidos, onde a oferta de terrenos baratos e de energia acessível está a ser aproveitada por mega projetos de instalação de data centers. Só a Amazon já anunciou o desenvolvimento de um mega projeto de $10 biliões de dólares no Mississipi. Trata-se de um dos estados norte-americanos abertos a uma reestruturação territorial a partir destas iniciativas empresariais.
Mas o que justifica a criação de data centers em massa? A inteligência artificial representa apenas uma pequena percentagem das necessidades de criar grandes data centers. Segundo o Uptime Institute, a IA poderá vir a ocupar 10% das necessidades totais energéticas destes centros até 2025 (atualmente exige 2%). Pelo que as restantes necessidades deverão advir das infraestruturas necessárias para a manutenção de bases de dados de grandes marketplaces, redes sociais, e serviços tecnológicos com interesse governamental ou público.
Como tem crescido o desenvolvimento de data centers?
No ano passado, a construção de data centers cresceu 25%, de acordo com a empresa de investimentos imobiliários CBRE. A Nvidia, uma das empresas mais bem-sucedidas em bolsa com a recente explosão da inteligência artificial, já registou lucros avultados em vendas de associadas aos seus investimentos em centros de dados. Em 2023, a Nvidia tinha registado lucros de $47.5 biliões, o que é um crescimento de 217% face ao ano anterior.
Entrevistado pela New York Times, Christopher Wellise, o vice-presidente para a área da sustentabilidade na Equinix, um operador global em Data Centers, diz que a procura tem vindo a ser avassaladora.
“A tecnologia está a evoluir mais rapidamente do que a nossa capacidade para dar resposta às necessidades de novas infraestruturas”.
A Equinix, que detém 260 data centers espalhados pelo globo, instalou baterias a combustível fóssil da Bloom Energy para ajudar a colmatar eventuais insuficiências de energia em muitos dos seus data centers. Mas a empresa quer reduzir as emissões trazendo mais energias renováveis, aumentando progressivamente a sua posição de sustentabilidade na infraestrutura do processamento dos mega dados.
De que forma a inteligência artificial poderá ajudar a reduzir o impacto energético dos data centers?
A Inteligência Artificial poderá ser determinante para ajudar à sustentabilidade dos data centers. Em Frankfurt, a Equinix já usa tecnologia que permite arrefecer o processamento de dados e ajustar a utilização energética em função do estado do tempo, o que alegadamente torna este data center 9% mais eficiente.
Já Niklas Sundber, um especialista de sustentabilidade na área das TIC e diretor digital da Kuehne + Nagel, uma empresa de transportes e logística da Suécia, disse que a indústria precisará de se focar em investir na capacidade das energias renováveis. Se um dos paradigmas atuais é instalar sistemas energéticos dependentes de energias fósseis, o caminho a fazer passa por apostar nas energias renováveis (como a solar) para ajudar à manutenção dos data centers.
Regulação dos data centers
Vários legisladores têm exigido mais transparência e medidas efetivas para reduzir os impactos ambientais dos data centers. O Senado norte-americano apresentou inclusivamente uma proposta para ficar a conhecer o impacto ambiental da Inteligência Artificial antes de começar a regular este setor. Já os legisladores da Virginia do Norte, que é conhecido como o Estado mais amigo e aliciante para a instalação de data centers, estão a tomar medidas para forçar esses centros a cumprir com os objetivos de sustentabilidade.
O senador do Estado da Virginia, Suhas Subramanyam, propôs já várias medidas de regulação. Entre elas, a obrigação de que os data centers tenham 90% da sua capacidade energética com origem em fontes renováveis. Essa será a condição para receberem financiamento público do Estado.
Será que os data centers são bons investimentos?
Do ponto de vista do investidor de bolsa, as grandes empresas instaladoras destes centros ou ligadas às infraestruturas da Big Data são hoje apetecíveis. Mas será que vale a pena investir nelas a pensar no longo prazo?
Os data centers estão envoltos em polémica pelo enorme custo ambiental que a sua instalação nos territórios traz. Além de que descaracteriza paisagens e pode ter um impacto nocivo sobre os ecossistemas naturais. É por isso que o data center de Sines não conseguiu avançar. E levou mesmo à queda do governo de António Costa. Mas noutras latitudes de maior liberalização do mercado, os data centers multiplicam-se à medida que também a expansão das novas tecnologias acelera.
Para já, estas áreas logísticas parecem ser um bom investimento de curto e médio prazo, mas não sabemos para já se eles serão sustentáveis no longo prazo. Os reguladores poderão exigir o seu desmantelamento ou reconversão. No sentido de cumprirem com os objetivos de sustentabilidade a que não podemos fechar os olhos numa era de crise climática. Assim, os preços das ações destas empresas poderão sofrer grande volatilidade com o passar do tempo.
Será um investimento interessado, mas com um grau de risco assinalável que não devemos ignorar.