A Apple com o seu evento anual Worldwide Developer Conference (WWDC) atraiu muita atenção este ano para investidores e os seus clientes. Isto na esperança de que a empresa anuncie seus esforços de inteligência artificial (IA). Contudo, poucos esperavam que a Apple fosse lançar o seu próprio modelo IA, com o autodenominado Apple Intelligence. Contudo, o que realmente é esse modelo e qual o impacto direto que terá nos produtos da Apple?
O que foi anunciado pela Apple no seu evento anual?
Portanto, é preciso notar que a fabricante do tão famoso iPhone anunciou vários novos recursos, incluindo o que chama a enigmática Apple Intelligence ou “inteligência da Apple”. No entanto, pelo menos até ao momento, os anúncios não entusiasmaram os investidores e as ações da Apple (NYSE: AAPL) fecharam no vermelho, após um primeiro dia de WWDC.
Contudo, o segundo dia já foi bastante mais positivo, levando a que as ações da Apple tivessem subido de forma considerável. Até porque, como se perceberá, especialistas e analistas reagiram aos novos recursos com relativa positividade. Ao mesmo tempo que entendem a nova estratégia e visão inovadora da Apple. Isto após a empresa de 3 bilhões de market cap ter ficado para trás de outras empresas Nasdaq na “corrida” por IA. Assim, porque correr atrás de algo que se parte atrás, quando se poderá cirar o seu próprio IA? Daí surgiu o Apple Intelligence-
Quais as diferenças entre Apple Intelligence versus inteligência artificial?
Antes de mais, é preciso perceber que a Apple está a lançar o seu próprio sistema de IA com a Apple Intelligence, “que coloca modelos generativos poderosos no centro do seu iPhone, iPad e Mac”. Porém, o que tal irá significar na prática? Ora, de acordo com o CEO da AAPL, Tim Cook confessou:
“Tudo isto vai além da inteligência artificial. Trata-se de inteligência pessoal, sendo este o próximo grande passo para a Apple.”
Assim, a Apple Intelligence adicionaria muitos recursos aos seus dispositivos. Por exemplo, este viria com recursos de melhoria de redação, que ajudariam a escrever e-mails e outros documentos e teria um recurso de revisão e reescrita. Ainda, a Apple adicionará resumos em e-mails e terá uma opção de resposta inteligente.
Além disso, como esperado, um recurso de geração de imagens será adicionado ao Apple iOS. Ou seja, a Apple Intelligence poderá criar fotos generativas com base na galeria do telefone do utilizador e teria três estilos: ilustração, esboço e animação. Portanto, o foco estaria na personalização e, de acordo com Cook, “o mais importante é que esta precisará de entendê-lo e estará fundamentada no seu contexto pessoal, como na sua rotina, os seus relacionamentos, comunicações e muito mais”.
Apple Intelligence saberá tudo – Existem preocupações reais de privacidade?
Minutos após o seu anúncio, rapidamente foram levantadas algumas preocupações válidas com a privacidade. Isto porque muitas pessoas estão preocupadas com o facto de o uso de recursos de IA sacrificar a privacidade do seu utilizador. Na verdade, muitos desses temores foram ilustrados quando a Microsoft revelou o seu novo recurso “Recall” para PCs Copilot+. Isto no seu evento de conferência Build, no mês passado. O recurso recuperará snapchots da linha do tempo do PC, o que foi um sinal de alerta para muitos. Porém, depois de muito furor online, a Microsoft anunciou que não será um recurso padrão no dispositivo.
Será que a Apple Intelligence terá mais cuidados que a Microsoft?
De facto, a Apple talvez tenha aprendido com essa polémica. Portanto, desde início, garantiu que a segurança seria o núcleo da Apple Intelligence. Ao mesmo tempo que proporcionará experiências personalizadas. Assim, esta Apple Intelligence seria executada em vários modelos de linguagem grande (LLMs), muitos dos quais seriam executados no próprio dispositivo. Segundo a Apple, caso uma solicitação precise de ir para um servidor em nuvem, esta enviará apenas dados limitados e isso também “criptograficamente” para garantir a segurança. Além disso, a Apple usaria modelos de computação em nuvem privada, executados em servidores alimentados por silício da Apple, e a empresa não teria acesso a esses dados.
Finalmente, para garantir total privacidade, os utilizadores também terão a opção de controlar quais dados são armazenados na nuvem e como estes podem ser acedidos. Como disse Craig Federighi, vice-presidente sénior de engenharia de software da Apple no WWDC: “Queremos estender a privacidade e a segurança do seu iPhone para a nuvem”.
Como a Apple Intelligence seria diferente?
Perante o que foi anunciado durante o seu evento anual, Apple parece estar a dar uma importância tremenda à Apple Intelligence. Cook confirmou as suas prioridades, garantindo: “Acreditamos que a Apple Intelligence será indispensável para os produtos que já desempenham um papel tão importante nas nossas vidas”. Portanto, segundo os especialistas, a Apple Intelligence terá dado um passo além e integrará IA em várias apps. Esta oferecerá alguns recursos incrementais ,em comparação com o que concorrentes como Samsung e Google estão oferecendo.
Por exemplo, embora a geração de imagens com base em fotos armazenadas no dispositivo já estivesse disponível em alguns dispositivos, o Apple Intelligence está preparado para expandir significativamente o conjunto de recursos. Isto ao mesmo tempo que oferece a opção de gerar imagens a partir de fotos de amigos e familiares e utilizá-las em mensagens e e-mails.
Além disso, concluiu-se que a Apple Intelligence também se destacará em termos de recursos de melhoria de privacidade, já que a empresa abordou muitos dos medos que os utilizadores têm sobre a segurança dos seus dados ao usarem recursos de IA. Alguns, com mais notoriedade Elon Musk, não se deixam convencer pelas declarações da Apple. Ao ponto do dono da Tesla estar preocupado com a possibilidade de a Apple conceder à OpenAI acesso aos dados do utilizador de alguma forma:
If Apple integrates OpenAI at the OS level, then Apple devices will be banned at my companies. That is an unacceptable security violation.
— Elon Musk (@elonmusk) June 10, 2024
Apple também anunciou parceria com OpenAI
Vale a pena salientar que a AAPL também anunciou a parceria amplamente divulgada com a OpenAI. Como tal, os utilizadores do dispositivo teriam a opção de acederem ao ChatGPT, enquanto usavam o Siri. Embora muitos utilizadores possam achar que isso representa um valor agregado, o CEO da Tesla, Elon Musk, não está muito satisfeito e ameaçou proibir dispositivos Apple na sua empresa, se o OpenAI for integrado no nível do sistema operacional. De relembrar que o homem mais rico do mundo iniciou a sua própria empresa de IA, X.ai, que aliás arrecadou US$ 6 mil milhões no final do mês passado, o que deu ao concorrente OpenAI uma avaliação de gigantescos US$ 24 mil milhões.
Como os analistas de Wall Street reagiram à WWDC?
Embora a reação do mercado de ações à WWDC tenha sido, nos primeiros dias, volátil, as corretoras parecem bastante impressionadas com os anúncios. DA Davidson, por exemplo, atualizou as ações da AAPL para compra, ao mesmo tempo que aumentou o seu preço-alvo de US$ 200 para US$ 230.
“Acreditamos que a apresentação rima com um dos momentos marcantes anteriores da Apple – a transição da música digital de uma app independente com posição regulatória questionável (ou seja, Napster) para uma experiência integrada em apps de consumo existentes (ou seja, iTunes)”, informou Gil, analista da empresa, em uma nota.
Por outro lado, o analista do JPMorgan, Samik Chatterjee, que anteriormente previu um superciclo do iPhone, admitiu que a “ausência de qualquer ‘app inovadora’” no evento atenuou os sentimentos. Contudo, manteve a sua classificação de “Buy” e um preço-alvo de US$ 225 para a Apple. Ainda, o analista do Citi, Atif Malik, afirmou que: “Acreditamos que a WWDC da Apple foi a melhor conferência WWDC em muito tempo, pois introduziu a ‘IA para o resto das pessoas’”, concluiu.
Ação APPL irá sofrer um enorme impacto pós-WWDC?
Finalmente, o especialista do mercado tecnológico da Goldman Sachs, o Michael Ng, também demonstra-se positivo em relação aos anúncios da WWDC e confessou: “Estamos encorajados pelas implicações financeiras dos anúncios de hoje, com recursos de produtos que devem ajudar a impulsionar a procura de atualização de produtos”. Ou seja, uma nova corrida a novos produtos e lançamentos da Apple para os próximos anos.
Em conclusão, embora os mercados, em geral, não estejam muito entusiasmados com estes anúncios, os investidores observam agora como estas novas funcionalidades estimulam as vendas de gadgets da Apple. Ora, especialmente o iPhone, cujas vendas diminuíram no último trimestre, devido ao aumento da concorrência na China. Será que a Apple Intelligence é a resposta para um maior incentivo de compra de produtos Apple, tendo apenas assim a experiência IA completa?