Vários fabricantes automóveis começaram a oferecer descontos nos seus Veículos Elétricos (VE) na China, numa altura em que se está a instalar um clima de guerra de preços para posicionar estas empresas como líderes mundiais no setor.
A venda de veículos na China caiu em 20% nos primeiros dois meses do ano, ainda que a venda a retalho global tenha crescido 3,5% no mesmo período.
Numa altura de abrandamento das vendas, diversos fornecedores de automóveis como a Ford, General Motors e a Volkswagen estão a oferecer descontos para escoar o seu stock de veículos.
A Tesla também já veio anunciar uma redução de preços na China no início deste ano, a que se seguiram baixas de preço de outras empresas de VE competidoras como a Xpeng Motors.
As receitas e entregas da Xpeng Motors têm vindo a desapontar nos mercados nos últimos quadrimestres, com prejuízos que se vêm acumulando nos últimos registos fiscais.
De acordo com os registos de venda de carros no primeiro quadrimestre de 2023, os números negativos da Xpeng Motors têm assustado os mercados, com vendas de apenas 7.772 unidades (VE) em março.
Quando a China abandonou a sua política de COVID-zero no ano passado, a maior parte dos economistas esperava que a economia da empresa voltasse a florescer em 2023. Contudo, ainda que a atividade económica tenha ressurgido, as coisas não estão propriamente brilhantes para o setor automóvel deste país.
China acabou com os subsídios para VE em 2023
Uma das medidas importantes aplicadas pela China este ano foi o fim dos subsídios para VE, como parte da sua política de abrandar o investimento no setor. O país também acabou com os benefícios fiscais para a compra de carros a combustão interna.
Esta retirada de apoios do governo chinês responde ao abrandamento macroeconómico do país que tem vindo a ter um efeito prejudicial na venda de veículos e de bens de luxo. David Zhang, um analista independente da indústria automóvel baseado em Shanghai, disse que as vendas de alguns fabricantes têm caído drasticamente.
Ele acrescentou que: “A este ritmo, a produção dos fabricantes e as redes de mediadoras poderão colapsar”.
Graças ao apoio do governo sob a forma de subsídios, as vendas de VE na China tiveram um crescimento assinalável durante alguns anos. Em 2022, 26% dos 23.5 milhões de carros de passageiros vendidos na China eram considerados Veículos de Nova Energia, o que inclui tanto veículos elétricos com baterias como veículos elétricos híbridos.
Guerra de preços de VE na China escala com o abrandamento da economia
As taxas de penetração dos veículos elétricos na China subiram 29% nos primeiros dois meses de 2023. Contudo, esta taxa não é suficiente para colmatar o declínio acentuado na venda global de carros.
A penetração de VE no país está muito à frente do que observamos na Europa e nos EUA. Nos EUA, a casa da Tesla que é o maior vendedor de carros elétricos, as taxas de penetração ainda não em um dígito apenas.
No ano passo, o presidente Joe Biden assinou um Ato de Redução de Inflação que pretendia, entre outras medidas, acelerar as taxas de penetração de VE no país.
Os analistas viram a aprovação daquele Ato como uma iniciativa positiva, já que as empresas de carros que não estavam elegíveis para a concessão de crédito fiscal de $7.500 na venda de carros elétricos, agora já podem estar elegíveis desde o início de 2023.
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Cortes no preço poderão levar a uma redução das margens dos fabricantes
Os fabricantes automóveis estão no meio de uma guerra de preços. Numa altura em que oferecer descontos e baixar o preço dos veículos poderia ajudar a aumentar vendas, isso também poderia levar a uma contração nas margens de lucros. As margens para muitas empresas como a Xpeng Motors já vinham baixando desde o Q4 com o aumento dos custos de produção.
A Tesla tem sido muito vocal sobre os impactos da redução de preços, dizendo que isso teria um impacto adverso nas margens, e que espera contornar esse problema com medidas de economia de escala, melhoramentos na eficiência operacional e na redução de custos.
A empresa de Elon Musk tem feito bandeira de uma agenda que quer responder à baixa de preços no setor automóvel.
Ford também vai baixar o preço dos seus carros depois da Tesla
A Ford vai baixar os preços do seu modelo Mach-E nos EUA, dias depois de o líder de mercado Tesla ter baixo o preço do Model 3 e Model Y nos EUA e na Europa.
Respondendo à baixa de preços nos modelos da Tesla, a Ford disse que o corte nos preços dos seus carros tornaria a “Mustang Mach-E ainda mais acessível aos seus clientes, mantendo-se competitiva no mercado”.
É de referir que a Ford foi a segunda maior vendedora de VE nos EUA no ano passado, ainda que ultrapassada por larga margem pela Tesla. No final do ano 2023, a Ford quer melhorar a capacidade de produção de VE em 600.000 unidades.
Enquanto isso, a guerra de preços por VE está a tornar as coisas mais difíceis para empresas startup de VE que já reportam prejuízos. Os prejuízos e perda de liquidez deverão apenas intensificar-se com esta guerra de preços.
Empresas startup de VE enfrentam dificuldades com perda de liquidez
Várias empresas startup de VE, incluindo a Lucid Motors, Rivian e Nikola, angariaram capital no último ano para equilibrar os seus balanços financeiros. Contudo, dada a perda de valor, a liquidez continuará a ser um problema dessas empresas.
Várias empresas de VE vieram a público em 2020 e 2021, com prognósticos de vendas espetaculares (e hoje sabemos, irrealistas). O que é verdade é que os números de produção de veículos estão aquém das estimativas para 2023.
Por exemplo, durante o relatório de contas de Q4 2022, a Lucid Motors revelou a produção de 10.000 a 14.000 caros em 2023. O que é uma fração dos 49.000 veículos que tinha previsto durante a apresentação de resultados em 2021.
As empresas de VE não contaram com o abrandamento das economias à escala macro, nem com problemas nas redes de abastecimento, pelo que a guerra de preços no setor de VE é mais uma machadada nas dificuldades financeiras que estas empresas têm enfrentado.
Agora, com um cenário de guerra de preços e continuidade na deterioração dads economias, as dificuldades parecem apenas estar a intensificar-se para estas empresas de VE.
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