chatbots de IA e solidão
E manos recentes temos vindo a observar um recrudescimento de problemas emocionais ligados à solidão, especialmente depois da pandemia de COVID-19. Os mais afetados foram os jovens que estão dentro da chamada Geração Z, ou seja, que tem hoje entre 11 e 26 anos. Com o surgimento da Inteligência Artificial (IA), mais pessoas estão a abdicar dos contactos físicos e esperam poder conversar com chatbots alimentados a IA.

A epidemia da solidão

Os humanos foram feitos para a interação social. Os comportamentos sociais são uma das vertentes fundamentais para o bem-estar de qualquer pessoa e faz parte do nosso processo evolutivo, tendo sido uma das chaves para o desenvolvimento da espécie. As interações entre pessoas têm efeitos positivos inegáveis, como o melhoramento da saúde mental e a reversão de problemas como a depressão.

A quarentena social e o isolamento imposto às massas durante a pandemia de COVID-19 tornou mais difícil para as pessoas interagirem, o que foi um fator determinante de solidão.

Também causou um aumento nas interações sociais, como forma de satisfazer as necessidades inerentes de socializar. Infelizmente, para muitas pessoas, não foi possível voltar a níveis anteriores de interações físicas, o que resultou em níveis preocupantes de solidão.

Já se começa a falar de uma epidemia de solidão

De acordo com um relatório recente sobre solidão produzido pela Cigna, pelo menos 7 em 10 pessoas com idades entre os 16 e 24 anos sentem-se sozinhas “sempre” ou “por vezes”. Os números têm vindo a aumentar ao longo dos anos, ainda que se registe um salto significativo entre 2019 e 2020. Só em 2019, 49,9% das pessoas da geração Z diziam sentir-se sozinhas. Ao passo que em 2018 eram 48,3%.

Os números são tão expressivos que já se começa a falar de uma epidemia de solidão. No início deste ano, o cirurgião-chefe americano Vivek Murthy redigiu um relatório e fez soar os alarmes sobre a possível crise de saúde imposta pela solidão.

De acordo com o Dr. Murthy, a solidão pode ser tão determinante enquanto fator de risco como fumar doze cigarros por dia, além de que aumenta o risco de morte prematura em 26%. No seu relatório, ele referiu que a solidão deve ser tratada com o mesmo sentido de urgência com que se trata a obesidade, o tabagismo ou a adição de opioides.

Entre as muitas soluções que têm vindo a ser consideradas, a IA surgiu como uma das formas de contornar esta crise. Ainda que muitos acreditem que as soluções que têm por base a IA possam ser parte da solução, os especialistas temem que a tecnologia venha piorar a situação no longo prazo.

Outra das áreas de influência atuais da IA é em robô trader de mercados financeiros, por exemplo para fazer day trade em Portugal.

Contornar a solidão ou piorar tudo

Mais recentemente, e especialmente com o lançamento do ChatGPT, os chatbots explodiram em popularidade e uma das soluções novas de mercado são os chatbots de companhia. A Replika é um desses robôs que está a ser designado como “um companheiro de IA que se preocupa consigo”. Isto pode soar estranho, mas algumas pessoas sentem realmente uma ligação profunda e até amor por estes companheiros com IA.

Tais robôs de IA já tiveram milhões de downloads, numa procura por soluções que combatam a solidão e promovam ligações sociais.

Além disso, alguns especialistas médicos têm referido que esta tecnologia tem o potencial de oferecer alívio e suporte emocional para pessoas que sofrem com a solidão. Na verdade, e de acordo com um Inquérito da Sermo sobre 307 fornecedores de cuidados médicos na Europa e Estados Unidos, 69% dos médicos concordam que os robôs sociais poderão ser úteis para resolver o isolamento e potencialmente melhorar a saúde mental dos pacientes.

Cuidado a construir as regras que garantem soluções morais

“A IA apresenta oportunidades entusiasmantes para robôs de companhia com ótimas habilidades de construir ligações sociais”, diz Elizabeth Broadbent, Ph.D, professoras de Medicina Psicológica na Waipapa Taumata Rau, Universidade de Auckland.

Contudo, devemos ter calma antes de adotar soluções de IA para remediar a solidão. Principalmente ao considerar como as redes sociais também eram vistas como uma solução para o isolamento, mas que resultaram em novas disfunções sociais.

“Precisamos de ter cuidado a construir as regras que garantem soluções morais e confiáveis”, diz Broadbent. Ao interagir mais com a IA e construir ligações com chatbots, os humanos arriscam-se a perder o desejo por ligações outros humanos.

Esta dependência excessiva poderá resultar numa crise maior de saúde mental, muito superior à que atualmente vivemos por causa da solidão. Além disso, as interações com chatbots e robôs não têm equivalência com a dos humanos.

Ao contrário da IA que só fornece conversação por texto, as relações e interações humanas implicam emoções, toque, expectativas e uma autêntica conversa a dois ou mais. É requerido esforço de todas as partes e um grau de compromisso na construção da relação que não existe com os chatbots.

Daniel Cox, um escritor da American Storylines, diz:

“Uma relação que não pede sacrifícios nem concessões, que nunca desafia as nossas crenças nem nos permite corrigir comportamentos, é simplesmente uma ilusão.”

Tecnologia desenvolvida com limites bem definidos

Por isso, os chatbots de IA são remendos simples e rápidos. E será apenas uma questão de tempo até que as pessoas percebam que eles não poderão substituir interações humanas (para a maioria das pessoas).

Além das implicações sociais, usar a IA para ajudar a reduzir a solidão poderá implicar que a tecnologia será desenvolvida com alguns limites bem definidos. Para começar, as conversas com chatbots costumam terminar com muita informação pessoal a ser partilhada. Por isso, é da maior importância que estes sistemas IA sejam desenvolvidos de uma forma que garanta a segurança dos dados das pessoas.

Além disso, e tendo por base o tipo de conversas que as pessoas mantêm com chatbots até agora, é possível que estes programas forneçam recomendações que são perigosas para os utilizadores. Isto é também um grande risco, considerando a forma como as pessoas vulneráveis sofrem de solidão.

É por isso que a regulação é fundamental nos sistemas IA. Servem para prevenir dependências excessivas, e também poderão enquadrar estas soluções como suplementos ou até cuidados médicos, em vez de serem encarados como interações humanas de substituição.

Mesmo tendo em conta a regulação, o Dr. Sai Balasubramanian refere que utilizar a IA para combater a solidão “cria um precedente perigoso.” “Nenhum sistema pode (ainda) replicar a complexidade da natureza humana, as interações, emoções e sentimentos”, diz.

Ao invés disso, ele recomenda que as pessoas em lugares de liderança nos sistemas de saúde, em conjunto com os reguladores, possam viabilizar medidas sustentáveis para o treino de cuidados de saúde profissionais a mais pacientes com problemas de solidão e disfunções sociais.

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