Março de 2024 será o mês das eleições legislativas em Portugal. Os partidos já se começam a movimentar nas várias redes sociais de forma a aumentarem o alcance dos seus públicos. Porém, e ao contrário de anos recentes, 2024 poderá trazer algumas novidades do ponto de vista das tecnologias usadas. Particularmente a inteligência artificial (IA).
As estratégias de deepfake, recorrendo a IA, já estão a ser utilizadas nas eleições indianas e em antecipação às eleições norte-americanas de 2024. Trump está com isso a cilindrar os seus adversários republicanos. Por outro lado, canais tradicionalmente mais associados a um público jovem e juvenil, como o TikTok, estão a ser bastante usados pelas forças políticas.
Vamos dar-lhe uma retrospetiva do que podemos esperar das várias tecnologias atualmente em vigor. A considerar a intenção de aumentar públicos e conquistar eleitorado. Seguir o rasto das melhores práticas neste domínio vai-nos também ajudar a perceber que canais e ferramentas estão à nossa disposição para chegarmos a um público mais vasto. Independentemente de sermos um partido político, empresa, ou simplesmente um influencer.
O cenário dos partidos políticos que usam IA e tecnologia em 2024
2024 vai ser um ano intenso do ponto de vista do processo democrático. Serão mais de 80 países a decidirem os seus governos nas urnas. Será não só Portugal, mas também os Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, Ucrânia e Índia. E é neste cenário intenso de eleições que vamos voltar a observar uma atividade fora do normal nas redes. Com os partidos políticos e os seus apoiantes ou críticos a tentarem a influenciar a opinião pública por todos os meios tecnológicos disponíveis.
As gigantes tecnológicas, nomeadamente a Google, Meta, TikTok e X (ex-Twitter), já mostraram vontade de combater o que chamam “desinformação”. Mas, no meio de milhões de utilizadores dispostos a tudo para influenciar os seus eleitorados, nem sempre é fácil prevenir estratégias como deepfakes.
O que está em jogo nas eleições de 2024
Alguns dos conflitos mais importantes que estão em jogo nas eleições de 2024, e que terão efeitos no ecossistema digital em que a maior parte de nós habitamos, incluem:
- O conflito bélico Rússia – Ucrânia, que verá uma escalada na propaganda, desinformação e estratégias de manipulação em antecipação às eleições em ambos os países.
- A luta de Donald Trump pela Casa Branca – Mais uma vez, o candidato da desinformação e das fake news está bem lançado para as presidenciais norte-americanas. E fará de tudo para repetir o sucesso de 2016.
- A enorme turbulência no sistema político britânico – Foram vários desastres políticos, económicos e sociais protagonizados pelo partido Conservador. Desde os tempos de David Cameron com o Brexit. Agora é hora de o Partido Trabalhista tomar o poder. Pelo que a guerra no digital entre os dois maiores partidos ingleses ganhará novas proporções.
- O jogo político das direitas e das esquerdas em Portugal – O Chega é o campeão da desinformação e da atividade no digital, seguido pela IL. Mas o BE quer estar à altura e fazer-se ouvir também nestes canais. Além disso, o PCP parte muito atrás nas eleições de voto e quererá recuperar. Já o PS e o PSD poderão querer adotar estratégias mais conservadoras, tentando não alienar eleitorado. Será um jogo político feito com pinças. Já que a configuração política pós-eleições poderá trazer enormes desafios a todos. Além da obrigação entre partidos para formar governo de incidência parlamentar ou coligações.
O que as gigantes tecnológicas vão fazer para prevenir a desinformação em 2024
Existem várias iniciativas de combate à desinformação que já estão a ser postas em prática. A Google, por um lado, já identificou como prioridade no aspeto da segurança e integridade da sua plataforma. Isso para garantir que apenas fontes confiáveis sejam promovidas. Isso faz-se por consultas diretas com o Governo português, reguladores, observadores independentes reconhecidos das eleições e sociedade civil. O objetivo é apurar riscos e promover apenas os conteúdos confiáveis.
Se a estratégia da Google parece ser mais diplomática e preventiva, as demais plataformas parecem empenhadas em estratégias proibicionistas. Ou assentes em tecnologia especializada para este momento. O Youtube, por exemplo, quer proibir vídeos manipuladores e enganadores. Faz isso através de um misto de moderação em tempo real com os seus empregados e do seu algoritmo que mantém a integridade da plataforma.
Já o TikTok terá uma solução à medida desta altura histórica – “uma equipa de Integridade Eleitoral”. O objetivo é trabalhar com as principais organizações de verificação de factos para impedir manipulação da informação.
E quanto aos conteúdos gerados por Inteligência Artificial, nomeadamente os deepfakes, estão a ser desenvolvidas estratégias de identificação destes conteúdos que permitam não só impedir a sua circulação mas também adicionar-lhes marcas d’água que sirvam como avisos aos leitores.
Estratégias das redes sociais para amplificar conteúdos ou restringi-los
As redes sociais funcionam, por definição, como amplificadores de mensagens, sejam elas em texto ou imagem. É por isso que a sua responsabilidade é especial no que respeita ao controle e regulação das plataformas que operam, tendo a obrigação de limitar a circulação de certo tipo de conteúdos. Nomeadamente a desinformação, o negacionismo, além de tudo o que represente discurso de ódio ou legalmente proibido. E a Inteligência Artificial vai ter um papel especial nestes processos.
A Meta e o Youtube têm uma abordagem mais preventiva, no sentido em que contratam equipas de moderadores de conteúdos para prevenir a circulação destes conteúdos problemáticos. O TikTok parece querer investir também em equipas especializadas para monitorizar os seus conteúdos em tempo real. Já o X é mais permissivo, e a razão pela qual é a plataforma favorita de extremistas e de populistas como Donald Trump.
O WhatsApp e o Telegram são vistos como dois meios híbridos que acumulam as funções de chat de mensagens privadas e canais de difusão de conteúdos entre grupos. Ali, os conteúdos circulam de maneira mais descontrolada, já que os princípios não são de comunicação para públicos abrangentes mas de conversas privadas. Ainda assim, é fácil comprometer estas lógicas, e foi por exemplo através do WhatsApp que Bolsonaro ganhou imensa popularidade pré-eleitoral.
Quem está a usar a inteligência artificial para ganhos políticos?
A campanha eleitoral indiana já está em curso, com os principais candidatos do regime a utilizar IA para se promoverem pelos meios que têm à sua disposição. O primeiro-ministro em funções, Narendra Modi, pediu claramente a regulação e identificação deste tipo de conteúdos que manipulam mensagens. Mas isso não impediu que o candidato Manoj Tiwari usasse os deepfakes para traduzir a sua mensagem política para vários idiomas e dialetos indianos, tentando fazer chegar a sua mensagem mais longe.
Mais problemática tem sido a utilização que Donald Trump faz das deep fakes, fazendo circular mensagens falsas em redes como a X com sucesso assinalável. Já conseguiu afastar da corrida às eleições republicanas o seu principal adversário, Ron DeSantis. E está bem nas sondagens para vencer Joe Biden, caso se confirme como o candidato democrata.
Não é fácil prevenir a circulação de conteúdos gerados por IA, contudo a Google está a desenvolver estratégias para identificar estes conteúdos mais rapidamente. A ferramenta SynthID poderá vir a dar um importante contributo nesse sentido.
Que sucesso estão a ter os partidos portugueses nas redes sociais?
Uma das ferramentas mais úteis para avaliar o alcance e a participação dos partidos nas redes é o a FOXP2. Como podemos ver no panorama dos partidos políticos portugueses com atividade nas redes, é o Chega quem tem mais crescido em seguidores (12.918) e é o que ocupa o topo do ranking de seguidores (357.695). O Iniciativa Liberal é o segundo partido que faz uma utilização mais bem-sucedida das redes, embora tenha números muito abaixo dos do Chega: mais 2.091 seguidores e 290.469 seguidores no total até dezembro de 2023.
O Youtube é um dos canais onde o Chega domina, tendo os melhores números em seguidores, comentário, visualizações e likes. Por outro lado, o TikTok é onde o Bloco de Esquerda mais tem crescido – tem 25 mil seguidores. Por comparação, o Chega tem 12,5 mil seguidores no TikTok e a IL 4.509.
Veremos de que maneira estes partidos irão agora tirar partido da IA para ganhar votos.
Lições a retirar da promoção dos partidos nas redes
Não há fórmulas mágicas para conquistar o eleitorado, a única coisa a fazer é comunicar o máximo possível, e o mais regularmente que se conseguir, de forma a chegar a mais pessoas. Além disso, estar a par das novas tecnologias ligadas a IA representará uma enorme vantagem.
É esta consistência que tem alavancado o Chega desde o seu surgimento no panorama político português. E há uma relação direta entre este estilo intenso de comunicação e os ganhos eleitorais que é possível conquistar a seguir.
Assim, e caso queira comunicar de forma eficaz, seja um negócio ou tenha outro tipo de iniciativas, é importante seguir estes princípios:
- Comunique em todas as redes sociais que tem à disposição.
- Adapte o formato dos seus conteúdos ao tipo de audiência mais comum dessas redes.
- Mantenha a consistência e regularidade na sua comunicação.