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O nome de Marina Machete percorreu a comunicação social portuguesa depois de ter ganhado o concurso Miss Portugal e se ter descoberto que ela é uma mulher transsexual. Pelo que foi uma conquista simbólica importante para a modelo e para a comunidade trans, já que ela foi votada em massa pela sua beleza e transitou para o concurso da Miss Universo quando ainda não se sabia esse pormenor da sua vida.

Muitos foram apanhados de surpresa quando se soube que Marina Machete é trans, despertando preconceitos e os receios habituais ligados a esta opção. Mas uma das reações mais reacionárias foi a de Miguel Sousa Tavares na sua coluna de comentário na TVI, que gerou indignação e reforçou o apoio a Marina Machete.

Resultados da Miss Universo – em que lugar ficou a portuguesa Marina Machete?

Portugal conquistou a sua melhor posição de sempre no concurso Miss Universo, ao classificar-se no grupo de 20 semifinalistas com a participação de Marina Machete. Ademais, numa uma mulher transgénero tinha pisado o palco e chegado a esta fase final do concurso Miss Universo. Pelo que isso é mais uma conquista importante para a causa trans mas também para a própria Marina.

Marina Machete, a hospedeira de bordo de 28 anos, diz que “durante vários anos não me foi possível participar e hoje orgulho-me de fazer parte deste incrível grupo de finalistas.” São conhecidas as limitações sociais e estigma associado a pessoas trans, pelo que esta palco mundial de beleza feminina fez toda a diferença para afirmação pessoal e global destas pessoas.

A grande vencedora acabou por ser Sheynnis Palacios, uma concorrente da Nicarágua. Mas não foi isso o mais importante deste concurso: os direitos das pessoas LGBT+ foram respeitados e elevados a um concurso com alta visibilidade mediática. E isso é um sinal de abertura da comunidade e de afirmação dos direitos LGBT.

A importância da Miss Portugal e Miss Universo, segundo Marine Machete

Em entrevista ao Jornal de Notícias, um mês antes do concurso Miss Universo, Marine Machete lançava uma bomba:

  • “Fui finalista da Miss Universo sem contar que era trans”, disse Marine Machete ao jornalista do JN.

Esta declaração reveste-se da maior importância porque revela uma conquista importante para toda a comunidade trans, que quer ser tratada de acordo com a orientação sexual que escolheu e não marginalizada. Por isso, a vitória de Marine Machete sem expor a sua condição trans foi tão importante e provou o ponto que a comunidade trans quer defender. Ou seja, que o género é uma escolha social e todos devemos ser respeitados pela opção que tomamos a esse nível.

A vida de Marine Machete até chegar a Miss Portugal e candidatar-se a Miss Universo

Marine Machete revela que desde os quatro anos que pretendia ser tratada como uma menina, apesar de ter nascido com sexo masculino. Assim, esse modo de tratamento prendia-se não só com uma preferência pessoal, mas também com uma identificação forte pelo universo e os valores femininos, que estão no polo oposto do que ela considera ser a “força” da masculinidade. Ou seja, ela procurava o “carinho e o amor”, o lado sensível que observamos na performatividade do género feminino por oposição ao modo de vida mais masculino.

Contudo, o bullying na escola foi marcante e definidor para Marina, que continuou a dar passos decisivos no sentido da sua afirmação social como mulher. Foi assim que a partir dos 15 anos se começou a automedicar, passando depois pela medicação hormonal, e aos 18 anos enfrentou o processo cirúrgico da mudança de sexo. Porém, depois dos 18 anos, também iniciou o processo de mudança do nome no cartão de cidadão, tendo passado a ser chamada Marina para efeitos legais e confirmado perante o Estado português a mudança de género.

Entretanto, Marina iniciou uma carreira na área da aviação como comissária de bordo e é hoje um das figuras mais famosas da causa trans que está associada ao movimento LGBT.

O que se segue para Marina Machete a seguir ao concurso Miss Universo?

Na entrevista ao JN, Marina Machete diz que o concurso Miss Universo foi fundamental para afirmar uma série de valores que vão além da aparência das candidatas. Segundo ela, a mensagem e as causas são da maior importância, e isso foi um dos motivos de orgulho que a fez ir representar Portugal a esse palco mundial.

Assim, com toda a atenção mediática e resultados inexcedíveis de Marina na Miss Universo, ela espera poder continuar a desenvolver a sua carreira e a afirmar os direitos das pessoas trans. Pelo que ela quer apenas que pessoas sejam “autênticas” e vivam uma “vida feliz”, independentemente das suas opções de género. Por isso espera dar a cara por causas que também têm um cunho de combate político e social.

Mas, segundo ela, o concurso Miss Universo permitiu adicionalmente estabelecer contactos importantes com outras modelos como Rikkie Kollé, a representante dos Países Baixos e também mulher trans. Com a união de várias figuras LGBT e movimentos sociais, Marina espera dar novos contributos a uma causa que deve ser de nós todos.

Curiosidades sobre o concurso Miss Universo

O concurso da Miss Universo tem como objetivo celebrar a beleza feminina e distinguir o modelo de mulher que se pretende destacar a cada ano. Assim, para a decisão da favorita, contam aspetos não só de beleza mas também de valores e personalidade.

Dito isto, o concurso Miss Universo foi criado em 28 de junho de 1952, com uma orçamentação anual de $100 milhões.

Assim Organização Miss Universo tem depois alguns concursos satélite que também pertencem ao concurso maior, por exemplo a Miss USA ou a Miss Teen USA. De igual modo, os vários países do mundo podem candidatar-se a esse concurso através de concursos nacionais. Ou seja, segue pouco na lógica da Eurovisão da canção, em que cada país lança os seus concursos nacionais de música onde se pretende apurar um vencedor para representar cada país no palco internacional.

A Miss Universo do concurso em que Marina Machete participou, nesta edição de 2023, foi Sheynnis Palacios da Nicarágua. Assim, ela foi coroada a 18 de novembro de 2023 em San Salvador, El Salvador.

Últimas vencedoras da Miss Universo

Agora veja a lista das últimas vencedoras da Miss Universo, devidamente identificadas por país:

Edição Miss Universo vencedora País
2023 Sheynnis Palacios Nicarágua
2022 R’Bonney Gabriel Estados Unidos
2021 Harnaaz Sandhu Índia
2020 Andrea Meza México
2019 Zozibini Tunzi África do Sul
2018 Catriona Gray Filipinas
2017 Demi-Leigh Nel-Peters África do Sul
2016 Iris Mittenaere França
2015 Pia Wurtzbach Filipinas
2014 Paulina Vega Colômbia

Importância da Miss Universo para a comunidade Trans

rikki miss universe

A portuguesa Marina Machete não foi a única candidata trans na edição de 2023 da Miss Universo. Também a candidata Rikkie Valerie Kollé é trans e teve de enfrentar dificuldades na sua aprovação a candidata para Miss Universo.

No seu perfil oficial do Instagram, Rikkie mostrou-se emocionada por ter sido eleita a mulher mais bela dos Países Baixos. E representando o seu país na miss universo. Mas também ressalvou que a importância de representar a comunidade LGBTQIAP+ e que esperava ser uma fonte de inspiração.

Mas Rikkie enfrentou muitos comentários transfóbicos e preconceituosos. Da mesma maneira que Marina recebeu de figuras muito bem posicionadas na sociedade portuguesa como Miguel Sousa Tavares. É por isso importante refletir sobre o contributo que a Miss Universo dá à causa trans. E como podemos avançar com o debate da defesa dos direitos e respeito destas pessoas.

Vantagens de usar a Miss Universo como plataforma para a comunidade trans

A Miss Universo é um concurso mundial com milhões de espectadores e que tem também algum impacto nas redes e comunicação social. Por isso, é indiscutível o contributo mediático deste concurso para a afirmação das candidatas.

Algumas das vantagens do concurso incluem:

  • Poder expor modelos femininas a uma audiência global, com lugar a entrevistas e a deixar o cunho pessoal e uma voz.
  • Poder defender causas sociais numa montra que celebra a beleza feminina.

Desvantagens da Miss Universo

Mas também há problemas neste concurso altamente capitalista e que objetifica a beleza feminina. Assim, não nos devemos esquecer que o debate sobre os direitos Trans não se devem ficar por aqui.

Problemas do concurso Miss Universo:

  • Objetificam a mulher e o que se considera ser a sua “beleza”.
  • Pode descredibilizar o movimento LGBT que defende fluidez de género e liberdade, num programa que formata o género e faz o seu exato oposto.
  • Pode ser problemático se o discurso em torno dos direitos Trans não avançar além deste concurso.

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