O movimento Greve Climática Estudantil é o que tem vindo a ser associado às ações mais radicais de ativismo climático. Em setembro passado, o Ministro do Ambiente foi atingido com tinta verde durante um evento da CNN. E mais tarde, Fernando Medina seria também atingido com tinta verde durante uma comunicação na Faculdade de Direito sobre o Orçamento de Estado2024.
Estes ataques diretos a dirigentes tiveram a virtude de colocar o tema das alterações climáticas de volta na agenda mediática. Mas também têm sido vistos como atitudes extremistas e radicais que pouco têm a ver com a defesa do clima e que só contribuem para a polarização da sociedade. Apesar de todo o debate e controvérsia o grupo Greve Climática Estudantil vai voltar à ação com novas iniciativas. O final do ano de 2023 poderá ser “quente” para os ativistas climáticos. Será que vamos assistir a novos bloqueios de estradas, vandalização de património e ataques diretos a dirigentes?
Novembro de 2023 terá nova “onda de ações” para acabar com as energias fósseis
Nunca houve um movimento estudantil de defenda do clima e combate às alterações climáticas como o que se vive em 2023. Os sinais de resiliência estão aí, com novas ações planeadas já a partir desta semana que preveem manifestações contra as energias fósseis em todas as escolas do país.
Em comunicado lançado pelo movimento Greve Climática Estudantil, é dito que se vão: “parar escolas e instituições”. Além de que “as instituições e o sistema fóssil não vão ter paz até haver um compromisso com o nosso futuro”.
As novas ações do grupo estão a ser discutidas internamente, sendo que as iniciativas têm por base o mesmo mote: combater todas as lógicas de mercado associadas a “falsas” energias verdes e ganhar o máximo de visibilidade em nome do cumprimento das metas do Acordo de Paris. Nomeadamente acabar com fontes de energia fóssil até 2030 e ter energia 100% renovável e acessível até 2025.
Que tipo de manifestações podemos esperar no final de 2023?
Ainda não há ações pré-anunciadas, já que isso estragaria o chamado “efeito surpresa”. Contudo, o que observamos ao longo do ano foi cortes de estradas, ataques com tinta a arte, ministros e edifícios com conferências da indústria, além de ocupações de faculdades.
O que o grupo promete é “disrupção”, e como temos visto a disrupção das ações recentes lançou o grupo para inúmeras notícias dos media tradicionais e está mesmo a resultar.
Para já, há apenas uma data marcada para uma manifestação: o 24 de novembro. Nesta data, o grupo irá caminhar desde o Largo Camões, no Chiado, até ao Ministério do Ambiente. Segundo um comunicado do grupo, o objetivo é “ocupar o ministério”. Só não sabemos se o dizem de forma literal ou simbólica. O que é certo é que a comunicação social estará presente em peso, assim como um aparelho policial especialmente atento a quaisquer tentativas de vandalização ou violência de que alguns elementos do grupo já demonstraram ser capazes.
Claro que falamos de ações simbólicas que não atentam contra nada nem ninguém (por exemplo, quando foi atirada tinta a arte, ela estava protegida por plástico). Mas, a força dessas ações é tal que a polícia vai mesmo querer evitar quaisquer iniciativas de ocupação real ou de desordem além do que considerem “razoável”.
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Atirar tinta a ministros: uma moda que se poderá vir a repetir
Lembramos uma das iniciativas mais icónicas do grupo que até recentemente se considerava impensável em Portugal: atirar tinta verde a ministros. Foi em setembro de 2023 que, no âmbito de uma conferência organizada pela EDP e Galp e que teve a participação do Ministro do Ambiente, este foi atingido com tinta verde.
É fácil de ver porquê: o que faz um ministro do Ambiente à mesa com dois dos principais organismos responsáveis pela destruição de habitats e de exploração de recursos naturais de forma gravosa e não compensatória? Além disso, tanto a EDP como a Galp integram atualmente investigações do Ministério Público sobre suspeitas de favorecimento ao negócio do hidrogénio verde em Sines. Lembramos ainda que foi no âmbito desta chamada “transição verde” que o a Procuradoria Geral da Republica detetou eventuais crimes que levaram à demissão do primeiro ministro.
De seguida seria a vez de Fernando Medina apanhar com tinta verde, o que criaria uma espécie de moda.
A tinta verde é por isso simbólica das ações de manifestação do grupo, e deveremos ver repetida esta iniciativa. Contra que ministros, governantes, dirigentes? Isso ainda teremos de esperar para ver.
Ocupação estradas
A ocupação de estradas é um ato considerado ilegal e que pode levar a procedimentos criminais por vários motivos: desordem pública, premeditação de ações que levam a perigos rodoviários e da vida de outros, crimes por desobediência à autoridade policial, e outro tipo de acusações. É por isso um tipo de ação difícil de justificar, mas que já tem acontecido.
Em outubro deste ano, ativistas climáticos sentaram-se na Segunda Circular e bloquearam um dos sentidos. Isso levou a retaliações de outros condutores que colocou a integridade física dos ativistas em perigo, e foi por isso uma ação verdadeiramente arriscada. Ainda assim, teve o mérito de receber imensa cobertura mediática e de gerar atenção em torno do grupo.
Por isso, a ocupação da via pública poderá vir a ser uma nova iniciativa a repetir. No centro das capitais, em Lisboa, a ocupação de vias da Avenida da Liberdade ou junto à rotunda do Marquês teria um grande impacto. Fosse pelos distúrbios, entupimento de uma das principais artérias da capital, e pelo impacto sobre o movimento de turistas.
Ocupar edifícios simbólicos
No final de 2022, ativistas climáticos acamparam na Faculdade de Letras numa ação de ocupação que foi das primeiras desta vaga recente de iniciativas. Isso levou a grande atenão mediática. Principalmetne porque a polícia usou força desproporcionada contra os manifestantes.
As ocupações de edifícios poderão não se ficar por aqui e escalar para outro tipo de iniciativas. Por exemplo, poderemos vir a observar a ocupação de edifícios de energéticas como a EDP. Nomeadamente o novo edifício da EDP junto ao Cais do Sodré. Ou de outras instituições como a Galp, o Ministério do Ambiente, e outros.
O vídeo marketing será indispensável para os ativistas se promoverem com iniciativas desta natureza.
Manifestações espontâneas nas ruas
Exigir para si o direito à manifestação, que está consagrado na constituição, e munir-nos de cartazes, tambores e megafones, está entre as iniciativas mais óbvias de protesto.
Lisboa e Porto deverão ter as ações mais contundentes.
Teremos de esperar para ver a natureza das ações. Elas têm alguns efeitos benéficos, e à partida mais fáceis de cumprir, para a missão do ativismo climático:
- As iniciativas marcam a agenda mediática.
- Causa disrupção nas ruas através de ação direta, o que poderá sensibilizar mais pessoas com a consistência e regularidade das ações.
- As manifestações são legais quando comunicadas previamente.
- Poderão atrair novos ativistas de forma orgânica para a causa do grupo.
Ações climáticas de âmbito internacional e em parceria
Greta Thunberg é uma das figuras internacionais mais famosas que estão ligadas a estas matérias de ativismo climático. É por isso que criar movimentos não só nacionais mas também pan-europeus e internacionais são importantes, não só pela questão da visibilidade mas também para a coordenação de ações à larga escala.
Por um lado, é verdade que o grupo da Greve Climática Estudantil está mais focada na alteração de políticas em Portugal. Por outro, unir esforços com estes grupos internacionais com vista a ações de maior escala poderia trazer mais protagonismo e força às iniciativas do grupo português.
Assim, vai ser curioso ver se o movimento Greve Climática Estudantil pretende unir-se a outras iniciativas internacionais relevantes para continuar a marcar a agenda mediática.
O ativismo climático está mais radical, e será que isso é bom ou mau?
A intensidade do ativismo climático destes jovens tem provocado comentários ao mais alto nível da política portuguesa. Marcelo Rebelo de Sousa já se pronunciou com críticas, a classe política condena toda ela os ataques com tinta verde a ministros (incluindo Mariana Mortágua do BE e Inês de Sousa Real do PAN), e a generalidade dos comentadores mostra-se contra.
Catarina Bio, uma das porta-vozes do movimento Greve Climática Estudantil, defende-se ao dizer que “estamos do lado certo da história”. Também refere que nenhuma luta de grande envergadura e de combate aos interesses económicos e financeiros dominantes se fará facilmente e sem polarização. É por isso sua convicção que a continuidade e até intensificação do ativismo climático é necessário e que continuará a desenrolar-se.
De notar que o ex-líder do PAN, André Silva, surgiu recentemente no podcast da Catarina Martins defendendo a radicalização da luta. Poderá ser uma das raras vozes do no espaço político que se mostra compreensivo face ao ativismo climático português que parece cheio de vitalidade e vigor.