Há uma série de boas notícias que estão a chegar à Europa que permitem adivinhar uma retoma dos mercados financeiros nestas regiões. A recuperação das economias nacionais é um desses fatores. Além disso o BCE prepara-se para cortar juros. E o rating das consultoras internacionais está a melhorar o acesso à dívida.
É por isso de esperar que o segundo semestre de 2024 seja de recuperação e otimismo no bloco Europeu. Os principais investidores institucionais da nossa praça já se começam a posicionar para aproveitar uma nova onda de valorização de ativos financeiros.
Saindo do momento de correção e incerteza nas bolsas mundiais
O início de 2024 não foi particularmente auspicioso para as bolsas mundiais. Em abril, a generalidade dos índices acionistas tiveram fortes correções de preços na Europa e Estados Unidos, introduzindo medo e pessimismo nos mercados. Porém, o final de maio está a demonstrar que a recuperação pode mesmo acontecer. Já se recuperou das perdas de abril e os índices preparam-se para atingir novos máximos históricos.
Um desses índices que já alcançou máximos de preços é o MSCI ACWI (o índice que mede o desempenho dos mercados acionistas mundiais). Este índice, que este a perder 3,4% em abril, está agora a valorizar 5%. E tendo em conta que acompanha os principais mercados acionistas, permite também aferir do desempenho mais positivo que o grande capital e os mercados globais já atravessam.
Segundo apurou a Bloomberg, 14 dos 20 mercados acionistas globais estão em máximos ou perto de máximos. Esse é o caso, por exemplo, da generalidade das bolsas norte-americanas, europeias e japoneses. Também as bolsas chinesas estão em altas, depois de vários meses negativos.
Também o índice pan-europeu Stoxx600 tem vindo a acumular ganhos. Mas é em Wall Street que vemos os ganhos mais expressivos em bolsa, com as principais cotadas do S&P500 a acumularem 12 biliões de dólares e uma valorização correspondente a 30% face ao resultado do ano passado. Um desempenho que está próximo do índice Nikkei225, que corresponde à bolsa de Tóquio.
Fatores globais e tendências técnicas justificam crescimento das bolsas
Podemos olhar para alguns fatores técnicos, como as zonas de suporte e resistência, livros de ordens e padrões de crescimento, para aferir dos bons momentos das bolsas. Mas também podemos ver que a tendência geral é de valorização das ações globais.
Um olhar clínico sobre o desempenho do S&P500 perrmite aferir que a valorização média foi de 17,4%. E se tentarmos perceber como se comportou este mercado durante as últimas bull markets, vemos que em média elas duram 4 anos e meio, sendo que neste momento vamos com menos de 2 anos de tendência de valorização. É por isso de esperar que continue a valorizar durante os próximos anos.
De um modo geral, e apesar das correções e canais de consolidação onde as bolsas se inseriram durante meses, os analistas preveem um momentos positivos que poderão até ser surpreendentes. As tensões geopolíticas, os constrangimentos logísticos para a passagem de matérias-primas, a inflação e o conservadorismo dos investidores retalhistas são bloqueios. Mas podemos estar num processo de viragem e, quando ele se tornar evidente, então o crescimento poderá sair reforçado.
Bancos centrais baixam juros – isso sustentará o crescimento dos mercados
Depois da espiral inflacionista devido à invasão russa em território ucrâniano, e consequente destruição de relações comerciais e diplomáticas entre países ocidentais e a rússia, o impacto sobre as economisa fez-se logo sentir. E um dos principais impactos foi a inflaçõu, que obrigou ao aumentar das taxas de juro para evitar um efeito dominó de destruição das economias.
A descida de juros em 2024 parecia evidente, a única questão era o ritmo a que se faria. A descida para 2% é a meta e, se muitos esperavam um início do ano marcado por notícias de coordenação de corte de juros, isso ainda não aconteceu. O BCE poderá, contudo, liderar nas próximas semanas essa decisão do corte dos juros. E espera-se que a Fed lhe siga o exemplo imediatamente a seguir.
Várias notícias têm surgido a indicar que o BCE prepara a sua descida de juros no espaço europeu já a 6 de junho. A Fed poderá querer esperar até ao fim do ano para implementar essa medida, já depois de resolvidas as eleições presidenciais.
Um dos primeiros efeitos da descida dos juros irá fazer-se sentir no valor das obrigações e títulos da dívida. A taxa de rendibilidade irá aumentar, como se começa a ver no investimento em fundos do mercado monetário que disparou para 6 biliões de dólares nos Estados Unidos.
Economias Europeia e dos EUA em recuperação
Aquilo que podia levar a cenários de recessão técnica com a subida coordenada de taxas de juro, revelou-se uma medida acertada e que demonstrou a resiliência das economias. Ou seja, o ritmo de crescimento dos países europeus e dos EUA abrandou mas não recuou. Isto apesar da pressão colocada sobre os preços dos produtos e a pressão para valorizar salários.
O FMI já veio dar melhores perspetivas para a economia global face ao desempenho resiliente das principais economias. O PIB mundial deverá crescer 3,2% até 2025. O ritmo de crescimento está ainda longe da média histórica, mas a evolução depois de um momento negativo demonstra a solidez das economias a ocidente.
Os analistas financeiros parecem especialmente interessados em indicadores económicos como o PMI. Na Zona Euroa, esse indicador está acima dos EUA. E só neste mês, o PMI já atingiu o valor mais elevado desdee o último ano na Zona Europa, denotando o grande dinamismo das economias.
É ainda importante olhar para a economia chinesa, que poderá beneficiar as ações europeias. Com taxas de crescimento que se aproximam da sua média histórica, as grandes empresas europeias que têm massa acionista chinesa poderão beneficiar. Em Portugal, por exemplo, a EDP é uma das empresas mais expostas ao desempenho da economia chinesa, e isso terá também influência na sua atividade financeira e económica.
Atividade empresarial poderá acelerar
A apresentação de resultados do primeiro trimestre do ano permitiu sinalizar o bom momento económico das principais empresas dos índices globais. Isso foi um impulso importante para contrariar um movimento especulativo mais pessimista em bolsa. Agora, todos esperam que o segundo semestre do ano, com taxas de juro mais baixas e maior otimismo, venha a trazer novos ganhos.
O principal índice europeu mostra que mais de 60% das empresas cotadas tiveram resultados acima do esperado. Isto, estão inclusive acima da média de 54% verificada nos trimestres anteriores.
Já o Deutsche Bank espera que a recuperação na atividade económica prossiga a bom ritmo durante os próximos trimestres. O aumento nos lucros durante a segunda metade do ano deverá ser apoiado pelo crescimento acima do esperado do PIB na Zona Euro e na China. Ganhando tração com o sentimento de mercado mais positivo e as medidas de corte de juros do BCE que deverão acontecer em breve.