Os anos de Portugal enquanto país periférico e com riscos sistémicos estão cada vez mais distantes. Ao que parece, Portugal conseguiu sair mesmo de uma situação de enorme fragilidade em 2011 com a intervenção da Troika, para uma década de recuperação de rendimentos, relançamento da economia e redução acelerada da dívida externa.
Isso destacou Portugal como um dos países europeus com ratings saudáveis junto das agências de notação financeira.Hoje, o risco das obrigações portuguesas está próximo do de França. E os analistas estimam spreads baixos face ao desempenho alemão, o que coloca a dívida portuguesa numa situação de sustentabilidade e saúde. Isso criará as melhores condições para atrair o investimento externo, e a preparação de uma boa situação económica e financeira para reindustrializar o país.
Política orçamental portuguesa – Por que está a ser elogiada por toda a Europa?
Todos os anos o risco da dívida portuguesa baixa, o que confere cada vez mais confiança aos investidores para injetarem dinheiro no tecido económico-financeiro nacional. Assim, as políticas do partido socialista nestes últimos oito anos de governação, que colocaram como meta principal a redução da dívida, estão agora a dar os melhores frutos do ponto de vista dos investidores e da atração de capital externo.
Isto é, todos os indicadores económicos parecem ser positivos por comparação com os demais países da EU, particularmente os países de leste e sul da Europa. Se virmos qual o contexto internacional que enfrentamos, em que França e Alemanha têm problemas em relançar a sua atividade económica, é notável que as contas públicas em Portugal permaneçam saudáveis e atrativas do ponto de vida da dívida.
O chamado yield da dívida portuguesa (taxa de rendibilidade) é competitivo, estando a par dos títulos da Alemanha e da França, e o spread é de cerca de 0,6%. Isso significa que os investidores têm em Portugal boas condições remuneratórias que refortalecerá as condições de financiamento do país e os seus recursos disponíveis para fazer face aos desafios das alterações climáticas, coesão social e outros estratégicos.
Moody’s sobe o rating da dívida portuguesa
Numa altura de incerteza política em que o governo socialista de António Costa caiu, uma das mais importantes agências de notação, a Moody’s decidiu subir o rating da dívida. Ou seja, para esta instituição, os riscos políticos não são significativos e não comprometem o desempenho económico e financeiro do país para o próximo ano. Assim, a confiança do setor financeiro em Portugal parece estar garantida.
De acordo com o jornal Público, a Moody’s subiu recentemente o rating da dívida em dois níveis, passando de Baa2 para A3. Deste modo, Portugal passa a estar num patamar superior a Espanha no que toca à confiança dos mercados em que Portugal tem capacidade de cumprir com as suas obrigações financeiras. Pelo que isso está em linha com o tipo de dinâmicas que já se observam no mercado de capitais, em que Portugal consegue aceder a dinheiro com taxas de juro mais baratas do que Espanha.
Com uma dívida pública próxima dos 100% em 2024, Portugal espera ser um exemplo na Europa no que toca à redução da dívida ao mesmo tempo que fortalece a sua economia. É por isso que os próximos anos serão fundamentais do ponto de vista da governação do país, já que a implementação do PRR e as orientações políticas para reindustrializar o país poderão relançar em definitivo a economia portuguesa.
Mais investimento em Portugal, juros mais baratos, maior facilidade de capitalização: este é o momento das grandes obras e da reindustrialização?
Portugal parece estar a atravessar um momento único de melhoramento dos seus indicadores financeiros e económicos, que facilitará os novos programas políticos de reindustrialização do país. Isso significa uma mudança total de paradigma face aos anos da troika, em que passamos de austeridade para maior intervenção do Estado na aplicação de iniciativas estratégicas que trazem indústria e crescimento ao país.
O processo de privatização TAP ainda está em curso, foi anunciado um Data Center em Sines que trará centralidade a Portugal na relação Transatlântica com os EUA e o resto da Europa, pretende-se instalar fábricas de comboios e construir um novo aeroporto. O que poderá mudar com o novo paradigma económico-financeiro em Portugal?
Privatização da TAP está suspensa. O que poderá acontecer à companhia aérea portuguesa?
A TAP tem tido uma vida verdadeiramente atribulada desde que foi anunciada este ano a sua privatização. Este ano reviu-se a posição de acionista maioritário que o Estado português assumiu a partir de 2016, com Medina a anunciar a venda da sua posição maioritária.
Contudo, o governo português caiu e a privatização da TAP encontra-se agora suspensa. Além disso, um dos candidatos à liderança do PS, partido que poderá ganhar novamente o governo de Portugal em 2024, é Pedo Nuno Santos, que considera que a companhia aérea portuguesa se deve manter pública.
Até setembro de 2023, a TAP anunciou lucros recorde nas suas operações na ordem dos 203.5 milhões de euros. Assim resultados, a somar à vontade política de Pedro Nuno Santos, poderão reorientar a posição estratégica do Estado na TAP. Ou seja, poderá continuar a ser acionista maioritário, querendo com isso retirar dividendos importantes para os portugueses.
Comissão Técnica Independente decide a derradeira localização do novo aeroporto
A Comissão Técnica Independente que avaliou as várias hipóteses de localização do novo aeroporto já chegou a uma conclusão. Portela mais Alcochete traz as maiores vantagens. Sendo que o aeroporto se pode mesmo pagar sozinho e sem que isso pese no bolso dos portugueses.
As opções de financiamento do novo aeroporto da região de lisboa, que o instalaria numa fase transitória na Portela e depois de forma definitiva em Alcochete, permitiria multiplicar o tráfego de passageiros e mercadorias. Além disso sustentaria a criação de uma terceira ponte sobre o Tejo entre Barreiro e Chelas. Tudo isso sem que o investimento custo um euro aos contribuintes.
Segundo aquela Comissão Técnica, em pouco mais de uma década será possível construir o aeroporto. Ele terá um “efeito positivo da conectividade aérea na atividade económica dos concelhos até à distância de 90 minutos”. O impacto positivo na economia portuguesa, ainda muito baseada em turismo, poderá ser elevado.
Compra e fabrico de comboios em Portugal
Também iniciativa daquele poderá vir a ser o futuro PM do governo português em 2024, foi Pedro Nuno Santos a lançar um concurso de 800 milhões de euros para compra e produção de comboios. Assim, critérios de lançamento deste concurso implicavam que os concorrentes fornecessem não só novas unidades mas que também as começassem a produzir em Portugal. Isso inauguraria uma nova indústria em Portugal, duas décadas depois do último comboio ter sido produzido em território nacional.
Este era um dos grandes propósitos do ex-ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos. Pelo que não só forneceria o país de mais comboios para servir a missão da coesão territorial. Mas também dar um passo decisivo para se começar a produzir comboios no nosso país.
Com o novo contexto económico que o futuro governo português irá herdar, este programa de expandir a ferrovia e promover a coesão territorial e até transnacional poderá mesmo vir a avançar. A única dúvida é se todos os pressupostos de regulação poderão ser cumpridos.
Lançamento de um Data Center em Sines – o maior investimento estrangeiro de sempre em Portugal
O projeto do Data Center para Sines tem uma importância estratégica e simbólica superiores. É uma mega infraestrutura de servidores que vai servir de porta de entrada das comunicações. O continente americano e a Europa terão Portugal como porta de entrada. Ou seja, é o tipo de infraestrutura que poderá dar mais centralidade ao país. Depois, no que respeita aos avanços tecnológicos, há novos investimentos que poderão resultar daqui.
De acordo com o governo, este seria mesmo o “maior investimento direto estrangeiro das últimas décadas”. O município que ficou conhecido por lançar a campanha da exploração do hidrogénio verde, passaria assim a poder também acolher aquele investimento. Eram cerca de 3.5 mil milhões de euros e transformar a face da cidade e do país.
Os planos de construção do Data Center entretanto pararam devido a questões de impacto ambiental que levariam mesmo à demissão do governo. O próximo que vier a ser constituído em 2024 terá de decidir sobre o futuro do Data Center e da exploração do hidrogénio verde.
Quais os benefícios de Portugal com a conjuntura económico-financeira atual?
Portugal poderá beneficiar em várias frentes e, desde logo, com a confiança dos investidores do setor financeiro que garantem acesso a crédito barato. Assim, é fácil hoje ter acesso a crédito. E isso permite avançar com obras e investimentos públicos.
O PRR, também conhecido como bazuca europeia, é outro dos instrumentos que tem de ser concretizado em infraestruturas e relançamento da economia portuguesa. Há largas centenas de milhões de euros por aplicar em várias áreas estratégicas e estruturais do país
Veja quais são os desafios que se apresentam a Portugal:
- Reforço do Sistema Nacional de Saúde com mais médicos, enfermeiros e técnicos de saúde.
- Valorização dos salários e das pensões.
- Reforma da Escola Pública.
- Responder aos vários problemas de desigualdades sociais, como o acesso acessível a habitação.