As bolsas europeias enfrentam esta semana em baixa. Em Portugal, o índice PSI-20 está também a recuar. Em grande medida, as preocupações com a derrapagem da economia chinesa, mas também a incerteza sobre os vários indicadores económicos nos mercados Europeus estão a contribuir para a retração.
As bolsas financeiras estão assim a enfrentar um risco sério de contração. Porém já há quem venha defender que tudo não passa de uma reação temporária. É que as perspetivas para a economia norte-americana são favoráveis. E sairão reforçadas do atual clima de instabilidade, dizem alguns consultores do setor.
O estado das bolsas europeias
As bolsas europeias enfrentam desafios de confiança neste momento. O Stoxx 6000 cai 0,2%, o mesmo nível que o índice francês CAC-40. Por outro lado, o índice de referência espanhol IBEX-35, também o britânico FTSE 100 e o alemão DAX, corrigem 0,1% de igual forma. Já o índice português do PSI-20 está a recuar 0,17%.
Em relação ao cenário português, a Corteira Amorim é a empresa que está a surtir um efeito de arrastamento mais negativo no PSI-20. Caiu 1,03% para 9,64 euros por ação. Logo a seguir vem a Galp Energia, recuando 0,65% no mesmo dia em que os preços do petróleo também derrapam. O que reforça a queda surpreendente da semana passada de 9%, segundo noticiou a Bloomberg.
O BCP é quem consegue aplacar algum deste impacto negativo. Trata-se do maior vencedor do dia na bolsa portuguesa ao registar ganhos de 0,33% e valendo 27,73 cêntimos por ação.
A China parece ser o principal motivo de preocupação para várias das praças europeias. A reforçar esse pessimismo está o facto de a Moody’s ter baixado as perspetivas para 11 empresas de referência chinesa. Justifica-se simplesmente com “motivos de negócio”.
Agora, nos mercados internacionais, é de esperar a publicação de novos dados económicos. Nomeadamente, o nível de inflação nos EUA que serão definido em breve pela Reserva Federal.
Protestos em setores económicos estratégicos na Europa afundam bolsas
É também pelo ambiente de enorme contestação social em vários setores estratégicos que as bolsas têm vindo a reagir com conservadorismo e até pessimismo. Lembremo-nos da agravante das instabilidades geopolíticas no médio oriente e leste da europa. o cenário traz incerteza relativamente ao preço do petróleo, dívida pública externa, cadeias de abastecimento, e desintegração social e política. Além disso, este é também um ano importante de reivindicações nas ruas.
Um protesto de larga escala do setor agrícola em França já teve efeitos de contágio também em Portugal e noutros países europeus. É por isso que os ministros da Agricultura da EU estão neste final de fevereiro em negociações para aprovar medidas de apoio aos agricultores. Em resumo, eles estão revendo cotas, financiamento e a questão antiga do dumping de preços pelo abatimento da competitividade.
Os agricultores do espaço europeu queixam-se ainda do excesso de burocracia para aceder aos fundos europeus. Além de que o aumento dos custos de combustível e do custo de produção estão a afetar o setor. Soma-se ainda a política de preços baixos quando os produtos chegam ao consumidor.
Agora, com a contestação na rua e as preocupações ao nível da economia europeia como um todo, produtos, confederações profissionais e políticos procuram-se redefinir as regras e o funcionamento da Política Agrícola Comum. Bruxelas quer, para já, simplificar as regras da PAC. Assim como isentar de impostos algumas pequenas explorações agrícolas (menos de dez hectares). Mas serão estas medidas convincentes e eficazes para fazer recuperar a confiança dos investidores?
Economia dos EUA poderá vir a surpreender pela positiva com crescimento de 2,2%
Nem tudo são más notícias, recessão e receios no mundo da finança e economia deste lado do globo. O ano de 2024 poderá mesmo vir a revelar-se uma surpresa positiva para a economia norte-americana. O que será um sinal importante para os mercados, mas também para as intenções dos Democratas em aguentarem as suas posições de poder frente às eleições de 5 de novembro.
Os dados mais recentes mostram que a economia norte-americana poderá vir a crescer na ordem dos 2,2%, já ajustada à inflação. Isso segundo a National Association for Business Economics. O que representa mais 1,3% do que vários economistas indicavam em novembro passado.
Vários sinais de força na economia norte-americana começaram a surgir, desde logo ao ter sido evitado um cenário de recessão que parecia tão provável. Além disso, as altas taxas de juro que pretendiam controlar a inflação demonstraram não afetar demasiado a economia.
Depois de várias manobras financeiras e económicas que visaram controlar a inflação, a verdade é que o consumo interno permaneceu resiliente. E o mercado de trabalho não foi demasiado afetado. Isso melhorou bastante as expectativas de crescimento para os EUA. O país agora enfrenta um ano de 2024 muito mais favorável e com esperança de regressar a tempos áureos de crescimento económico assinalável.
Decisão da Fed sobre as taxas de juro
Neste momento, os EUA estão a sair de um clima estabilizado de controlo da inflação mas em que o preço dos bens aumentou de forma assinalável, como aconteceu no resto do mundo. Ainda assim, os preços não estão a subir tanto como se esperava, a inflação abrandou bastante, e agora há grande expectativa de que as taxas de juro possam ser cortadas.
A decisão última sobre as taxas de juro recai sobre a Reserva Federal, que já disse que as deverá cortar progressivamente ao longo deste ano. Isso permitiria relaxar a pressão sobre a economia e dinamizar preços dos mercados financeiros, dando os melhores sinais para os investidores voltarem a comprar nas várias bolsas.
Sabemos, no entanto, que é preciso esperar um a dois semestres para que as taxas de juro se façam sentir na economia.
Riscos estruturais para a economia e o mundo financeiro em 2024
2024 é o ano de todos os riscos, desde logo devido à conjuntura financeira e económica chinesa, mas também devido aos conflitos bélicos que estão a afetar diretamente o globo.
O conflito israelo-palestiniano teve desde logo o efeito de provocar ondas de choque importantes no restante mundo árabe que tem tentado protestar contra a influência dos EUA naquele conflito. O grupo armado dos Houthis é o que mais tem feito notícias, tentando boicotar a exportação de petróleo para o mundo ocidental e aplicando disrupções nas cadeias logísticas.
Mas lembremo-nos também da guerra na Ucrânia, com várias sanções económicas e financeiras contra a Rússia a terem impacto no custo dos combustíveis e a ter provocado os riscos de inflação no espaço europeu.
Por outro lado, as inovações tecnológicas, e os avanços no âmbito da Inteligência Artificial, são as grandes promessas do setor financeiro, com biliões a serem depósitos em start ups ligadas a estas indústrias.
O que é certo é que as peças do xadrez geopolítico e financeiro estão neste momento a mexer-se e a provocar enormes incertezas. Muito do nosso futuro financeiro a curto e médio prazo poderá decidir a partir deste ano, e por isso os investidores mais ousados e visionários quererão começar a fazer as suas principais apostas sobre a resiliência das economias e dos setores financeiros mais estratégicos.