BCE corta taxa de juros na UE com bom desempenho da Alemanha, e Powell vai adiar o corte de juros nos EUA
Christine Lagarde, diretora do Banco Central Europeu

Em declarações recentes à CNBC, o Banco Central Europeu, dirigido por Christine Lagarde, disse que se prepara para cortar juros na sua política monetária. Essa é uma das medidas mais esperadas no bloco europeu, numa altura em que a Alemanha parece estar a recuperar no consumo interno.

Conheça as últimas sobre a inflação e as taxas de juro que irão influenciar de forma decisiva o custo de vida, o acesso a crédito e a dinamização da economia para os próximos anos. Estes podem ser os sinais de que os investidores precisavam para retomar o momento positivo do mercado de capitais.

A redução de juros vai mesmo avançar na União Europeia

Numa entrevista à CNBC, rede televisiva norte-americana, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, disse que vai cortar juros na União Europeia muito em breve. Ainda que o BCE esteja atento a eventuais choques geopolíticos ou financeiros devido à grande instabilidade internacional que se vive.

Lagarde disse que o BCE está, neste momento, a acompanhar “de perto” o preço do petróleo devido à possível escalada de violência derivado dos conflitos no Médio Oriente. O conflito direto entre Irão e Israel é um dos principais fatores de incerteza para os quais estará a olhar antes de decidir alterar a política monetária europeia. Ainda assim, o preço do petróleo tem estado em linha com as expectativsa, “relativamente moderado”, nas palavras de Lagarde, o que são boas notícias.

Da entrevista e de todo o panorama internacional que observamos neste momento, depreende-se que o corte de juros na UE poderá acontecer já em junho.

Nas palavras de Lagarde: “Estamos a observar um processo de desinflação que vai de encontro às nossas expectativa”. Acrescentou ainda que: “Precisamos apenas de um pouco mais de confiança de que este processo de desinflação vai continuar a mover-se segundo o que prevemos. Se não houver choques nesse processo, chegaremos a um momento em que poderemos moderar a nossa política monetária restritiva”.

Christine Lagarde acrescentou: “Como disse, e em função de um clima sem choques, muito em breve teremos condições para moderar a política monetária restritiva”.

Crescimento das economias dos estados-membro ainda preocupa

O crescimento das 20 nações da zona euro não estão a crescer de forma significativa, e já lá vai um ano desde que essa tendência de desaceleração se instalou. Isso foi consequência direta do corte de relações energéticas e diplomáticas com a Rússia, logo após a invasão da Ucrânia, com a Alemanha em particular a atravessar momentos de crescimento zero nos últimos anos.

Os dirigentes de Frankfurt estão ainda assim otimistas para 2024, acreditando numa inflação de 2% para a zona Euro já nos próximos meses, aplacando o crescimento dos produtos e dando mais poder de compra aos cidadãos com o aumento dos salários. Isso permitirá, ao que tudo indica, retomar as economias europeias e a alemã, em particular, que é vista como a “locomotiva” económica da Europa.

Esta semana, o diretor do banco central irlandês, Gabriel Makhlouf, mas também o seu homólogo finlandês Olli Rehn, reiteraram que juro será o mês para o corte de juros na Europa.

Juros vão descer rapidamente? Lagarde ainda não se compromete com o ritmo da descida

Lagarde disse que não é ainda o momento para debater o ritmo no corte dos juros para empréstimos monetários. O ritmo parece que vai estar dependente da “sucessão dos desenvolvimentos geopolíticos”, que terão efeito decisivo na confiança dos consumidores e nos mercados de matérias-primas.

Apesar da reação “relativamente moderada” dos preços da energia na altura do ataque do Irão a Israel, Lagarde permanece cautelosa, fazendo notar que o controlo da inflação para níveis considerados saudáveis será “um caminho acidentado”.

“Nós não nos estamos a comprometer antecipadamente com um cenário de cortes preestabelecido – tudo depende dos dados que venham a surgir”, disse Lagarde. “Todos os dias reavaliamos a situação [geopolítica]”.

Recuperação da economia alemã poderá estar mais perto

Os níveis de confiança dos investidores na recuperação da economia alemã continuam a aumentar, o que permite esquecer o inverno especialmente complicado para o país com uma das economias mais importantes da UE.

O instituto ZEW apurou um índice de confiança na economia europeia que subiu de 31.7 pontos em março para 42.9 pontos em abril, ultrapassando largamente as expectativas para a retoma do país.

O presidente da ZEW, Achim Wambach, disse à Bloomberg que: “a economia global em recuperação está a melhorar as expectativas para a Alemanha, com metade dos inquiridos a anteciparem uma retoma da sua economia nos próximos seis meses”.

“O que está também a contribuir para o maior grau de otimismo são as avaliações mais otimistas da situação e expectativas económicas para os destinos de exportação da Alemanha. Isso reflete-se, entre outros aspetos, na valorização do dólar americano face ao euro”, acrescentou Wambach.

Lembremo-nos de que a economia alemã entrou em recessão técnica no ano passado, e agora espera-se que comece a crescer no segundo trimestre, ainda que apenas 0,1%. O setor industrial continuará no vermelho, fruto das tensões geopolíticas e desafios na rede de abastecimento de várias matérias primas e energéticas. Mas os serviços estão a atravessar um bom momento, esperando-se por isso uma retoma da economia à boleia do consumo interno.

Powell diz que os EUA devem esperar um pouco mais antes de cortar juros

Em sentido oposto ao otimismo e sentido de urgência europeus para o corte de juros, os EUA e a Reserva Federal Norte-Americana não querem avançar já com uma medida idêntica. Quem o disse foi Jerome Powell, presidente da Fed, que já veio avisar que o calendário para o corte de juros poderá ser mais longo do que se esperava.

Powell referiu que seria de esperar progressos mais assinaláveis no abaixamento da inflação desde os valores do ano passado, por isso é necessário observar o bom comportamento de outros indicadores da economia antes cortar juros. É necessária confiança de que a inflação se mantém na meta da Fed de 2% antes de baixar os custos do empréstimo de dinheiro.

Enquanto a pressão nos preços persistirem, a Fed manterá a sua taxa de juros atual, tentando abrandar a dinâmica inflacionista.

Nas palavras de Powel, que esta semana discursou em nome da Fed, “os dados recentes ainda não nos deram a confiança de que precisamos e, ao invés disso, indicam que poderemos ter de esperar mais tempo do que desejaríamos para alcançar essa confiança.”

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