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Os indicadores económicos na principal economia ocidental continuam a melhorar. A descida lenta da inflação nos EUA fez antecipar uma muito aguardada descida de juros pela Fed. Os economistas estão agora a prever que esse alívio poderá acontecer em junho de 2024.

Porém, continua a haver riscos nos mercados. E o fator geopolítico continua a ser determinante para a política monetária dos EUA. Vamos analisar as principais tendências do mercado e do consumo nos EUA. Pontos que deverão dar pistas sobre a saúde dos mercados financeiros para os restantes países ocidentais no segundo semestre do ano.

O historial de subida de juros para fazer face à inflação

Os juros têm vindo a aumentar consecutivamente desde 2021, ano da invasão da Rússia à Ucrânia. Em 26 de julho de 2023, a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) já registava o seu 11º aumento. A Fed queria então que as taxas subissem a um ponto que tornasse sustentável os elevados níveis de inflação. Atingiu-se mesmo o período mais elevado de juros em 23 anos. É o chamado higher for longer nos mercados financeiros.

Entretanto, a inflação começou a recuar em 2023. E a Fed abriu portas à descida dos juros. Esperava-se que isso viesse a acontecer já em março deste ano. Investidores e economistas fazem eco dessa antecipação, porém a Fed ainda não tomou a decisão. Espera-se agora pela próxima data, junho. Altura em que os juros poderão ter o primeiro sinal positivo de abaixamento.

Quando será anunciada a descida de juros da Fed?

Todas as dúvidas sobre a descida de juros deverão solucionar-se durante a reunião da política monetária da Fed, que irá decorrer durante esta semana. Porém, há alguns riscos de retardar a queda dos juros em um mês e só vir a acontecer em julho ou posteriormente. Assim, o custo de acesso ao dólar na economia mais importante do mundo ocidental poderá manter-se em níveis historicamente elevados desde 2001.

O que se registou entre janeiro e fevereiro de 2024 foi um nível de inflação ainda mais alto. Justo quando a Fed queria até 2% de inflação para começar a aliviar as taxas de juro. A pressão inflacionista, que se mantém nos níveis mais altos desde há 40 anos, significou que os preços ao consumidor aumentaram em cerca de 3% no início deste ano. Além disso, a inflação subjacente que excluiu alimentos e energia está nos 3,8%, ainda muito longe da meta de 2% da Fed.

A confiança que a Fed precisa para baixar as taxas de juros

Estes números da economia norte-americana no início do ano demonstram que a Fed continua disponível para esperar por indicadores económicos favoráveis antes de anunciar o corte de juros. Esses indicadores estão progressivamente a chegar. Os níveis de atividade económica demonstram robustez e o mercado trabalho pujante com redução do desemprego. Isso significa que a Fed estará a adotar uma postura cautelosa à medida que a economia americana recupera níveis de alta competitividade.

A única coisa cerca por enquanto é que o comité FOMC (Comité de Política Monetária da Fed) irá manter as Fed Funds em níveis entre os 5,25% e os 5,5%.

Dados e políticas que vão ser anunciados pela Fed em março?

A Reuters está a realizar sondagens no sentido de perceber junto dos atores económicos e financeiros quando serão os cortes dos juros. Há a expectativa de aconteça já em junho, e com mais duas descidas a anunciar até ao final do ano. Porém, e como referimos, a Fed poderá querer adiar o momento do alívio na sua política monetária. E optar antes por um ritmo lento nesse estímulo de acesso ao dinheiro.

Todas as atenções estão assim viradas para a reunião política desta semana de março da Fed, em que se irá abordar o tema do corte dos juros. Mas também serão anunciados dados relativos à evolução do PIB, da taxa de desemprego, e da evolução da inflação até 2025. Esta projeção de cenários será determinante para qualquer medida a tomar relativa às taxas de juro, e que deverão influenciar decisivamente a economia e o mercado financeiro até ao final deste ano.

Em dezembro passado, os responsáveis da Fed apontavam, sem anunciar calendários, para três cortes nos juros durante 2024. O cenário poderá ser corrigido ou poderá manter-se, e tudo depende da evolução da inflação, que parece estar a dar tréguas.

Investidores e economias surgem divididos a este respeito. Se virmos o que se passa no mercado de capitais de futuros, vemos que há uma probabilidade de 50% de os juros serem mesmo cortados em junho. Com um discurso mais cauteloso da Fed durante esta semana, os mercados de capitais irão ajustar-se fazendo refletir o maior ou menor custo do dólar.

Previsões dos especialistas financeiros sobre corte de juros

O jornal Financial Times realizou uma sondagem junto de académicos da área económica para saber a sua opinião sobre o corte de juros. Dois terços dos inquiridos indicaram que espera observar até duas descidas de juros ainda este ano, com a primeira a surgir entre julho e setembro. Lembremo-nos que, neste período, a Fed voltará a reunir para anunciar novos indicadores e perspetivas para a economia dos EUA – a 31 de julho, a 18 de setembro, a 7 de novembro, e uma última a 18 de dezembro.

O Goldman Sachs vem dizer algo semelhante nesta matéria, indicando que as taxas de juro em 2024 poderão ter cortes num momento posterior devido a uma inflação ligeiramente mais elevada do que se esperava, mas que isso deverá acontecer já em junho. A instituição diz ainda que espera quatro cortes adicionais nos juros em 2025, e um corte adicional em 2026 que nos faça chegar a uma taxa terminal de 3,25% a 3,5%.

Também a Capital Economics está alinhada com estas projeções que apontam para cortes em junho, mas não antecipa um compromisso por parte dos responsáveis da Fed relativamente à continuidade dessa política. O mote até ao fim do ano é a observação cautelosa dos indicadores económicos e financeiros para garantir a sustentabilidade da evolução da inflação em torno dos 2%.

A média dos economistas parece unida na previsão de que o crescimento do PIB nos EUA para este ano será de 1,4% a 1, 7%, e que a evolução da inflação se situará entre 2,4% e 2,5%.

O que dizem as projeções da inflação e do PIB sobre as taxas de juro?

Os economistas da instituição financeira Ing indicam que as dados da atividade económica nos EUA não fazem prever cortes decisivos nas taxas de juro. Isto porque há riscos do ponto de vista do mercado de trabalho e da inflação que tornam mais aconselhável o corte progressivo, fazendo o doseamento dos cortes ao longo dos próximos dois anos.

O diretor global dos investimentos em obrigações da Allianz Global Investors, Franck Dixmier, diz mesmo que os dados da inflação nas próximas semanas serão “decisivos”. Esses dados irão validar as expectativas de mercado, ajudando a decidir sobre cortes de juros em junho ou em julho. Porém, se virmos uma descida de preços no consumidor com a manutenção do dinamismo da economia, então o corte das taxas de juro poderá iniciar-se mais rapidamente.

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