O Banco Central Europeu (BCE), liderado por Christine Lagarde, já não tem argumentos para manter a política monetária restritiva que, neste momento, ainda representa um sufoco para as economias e empresas. Nos EUA, a economia está pujante, mas a inflação ainda é elevada, o que pode obrigar ao adiamento na descida das taxas de juro.
O BCE poderá assim liderar o caminho da retoma dos níveis pré-inflacionistas para as taxas de juro e para o acesso ao dinheiro. Os mercados europeus poderão assim voltar a momentos de crescimento acelerado. Inclusive, antecipando-se a muito esperada retoma na economia norte-americana.
A eterna espera pelo corte nos juros – Como têm evoluído os indicadores económicos?
Em março de 2024 tivemos a confirmação de que os bancos centrais poderão preparar o alívio nas políticas monetárias restritivas. Afinal a inflação está em queda em todo o mundo. Esse movimento de alívio poderá não ser sintonizado entre países, como já se começa a adivinhar no bloco ocidental. A Europa prepara-se assim para baixar juros ainda antes dos EUA. E liderar no aspeto dos incentivos no acesso ao dinheiro.
Ainda assim, faltam algumas luzes verdes para que os países possam dizer sem sombra de dúvidas que bateram a inflação. Os bancos centrais demonstram confiança. Apesar de tudo, já que a meta para o abaixamento da inflação nos 2% já foi genericamente atingido.
Os responsáveis pela Fed mantém a perspetiva de cortar juros em três momentos distintos em 2024. Mas ainda não se sabe se começarão já em junho ou só mais tarde. Os membros do BCE foram até agora mais claros, anunciando já a primeira descida em junho. Sendo que o Banco de Inglaterra e o Banco Central da Noruega também já confirmaram o alívio na sua política monetária nos próximos meses.
Entretanto, a outra boa notícia veio do Banco Central da Suíça. Foi o primeiro do bloco europeu e do G10 a anunciar uma descida em 25 pontos base na taxa de referência.
Quais serão os próximos bancos centrais a aliviar juros?
A Reuters indica que, analisando as perspetivas de mercado e de acordo com informação privilegiada, espera-se que em junho o BCE, Fed e RIskBank (banco sueco) também baixem os juros.
Depois deverá ser a vez do Banco do Canadá a baixar juros (em julho). Enquanto o Banco de Inglaterra, Norges Bank (da Noruega) e os bancos centrais da Nova Zelândia e Austrália deverão esperar por agosto. De fora fica o Japão, que continuará cauteloso durante todo o verão, antes de tomar qualquer medida monetária.
O que se passa com o contraciclo do Japão em relação à sua política monetária?
O banco central do Japão observa um movimento de contraciclo na sua economia. Que é o oposto do que se observa nas grandes economias do G7. Neste país foi recentemente anunciado uma subida de juros, a primeira desde 2007 e uma decisão histórica. A medida foi tomada depois de se observar uma tendência negativa das taxas de juro. O que podia acarretar uma espiral deflacionista.
Contudo, os olhos das principais economias mundiais continuam posto’s na decisão da Fed, que foi observando o agravamento no acesso ao dólar por virtude de uma inflação que chegou aos atuais 5,5%. Foram 11 subidas de juros pela Fed, e 10 subidas pelo BCE, que manteve a taxa dos depósitos em máximos históricos de 4%.
BCE quer liderar uma política monetária mais dinâmica
A política monetária em todo o mundo vai entrar num novo ciclo a partir do verão de 2024, com uma descida na taxa de juros geral que trará maior facilidade no acesso ao dinheiro. A única incerteza é o ritmo que os bancos centrais quererão imprimir à descida da taxa de juros, sendo que a Fed tradicionalmente seria a primeira a dar esse sinal positivo. Desta vez poderá ser o BCE.
O que se antecipa é que o crescimento económico da Zona Euro consiga recuperar de forma positiva já no segundo semestre do ano, ainda que lentamente. Com as principais economias europeias a enfrentarem desafios dos custos da energia e problemas nas exportações, principalmente a Alemanha que é uma locomotiva financeira da Europa mas que permanece parada, os cortes de juro em junho poderão ser importantes para tentar relançar vários setores financeiros.
A Fed está a adiar o início do ciclo de descida dos juros, pelo que o BCE deverá mesmo tomar a dianteira e iniciar cortes nos juros enquanto a economia continuar a dar sinais positivos (e ainda que tímidos), com a inflação controlada. Manter juros elevados significaria, p or outro lado, penalizar a economia e perder a competitividade no bloco europeu.
Os resultados económicos e a influência dos juros 2024
No final do exercício fiscal de 2023, a economia norte-americana tem um desempenho acima do esperado, com o PIB a crescer 3,1% e impulsionado pelo consumo interno em níveis elevados e com os bons resultados do mercado de trabalho. Esses resultados têm sustentado a economia norte-americana que conseguiu escapar a um cenário de recessão, que muitos economistas diziam ser certa.
O cenário europeu é diferente, com várias das economias mais influentes na UE a demonstrarem estagnação desde a invasão da Rússia à Ucrânia em 2022. O Reino Unido enfrenta recessão técnica, a Alemanha está quase nesse cenário, e a Zona Euro poderá estar a perder PIB.
Segundo a OCDE, a Europa e os EUA estão em momentos radicalmente diferentes na sua saúde económico e com a Zona Euro a distanciar-se em competitividade face aos EUA. Os custos da energia e a forte instabilidade geopolítica têm prejudicado seriamente o bloco europeu.
Euro fraco não ajuda no combate à inflação
A política monetária na Europa não seguirá as decisões adotadas pela Fed, e a prioridade é mesmo relançar as economias do Espaço Comum e recuperar níveis de competitividade. Tomar passos concertados com os EUA costuma ser a decisão mais acertada, mas desta vez a emergência da Europa é outra – salvar-se dos constrangimentos financeiros em que se colocou depois da guerra no leste-europeu e de uma série de transformações nos modelos de fornecimento de matérias-primas (nomeadamente a energia).
Se o BCE avançar já em junho com a descida dos juros, antecipando-se inclusive à Fed, então Euro irá perder terreno face ao Dólar. Isso irá impulsionar a atividade económica e as exportações na EUA, mas os produtos americanos de importação ficarão mais caros e a economia poderá dinamismo em função disso. Mais uma vez, o problema reside no fornecimento de matérias-primas, o que poderá ainda assim contribuir para atrasar a descida da inflação para os 2%.
Porém, se esperar por uma decisão da Fed para uma posição concertada na política monetária, o BCE arrisca deteriorar ainda mais a sua atividade económica e a saúde das principais empresas exportadoras. O equilíbrio é difícil, mas o que se espera é que o BCE avance mesmo para a descida das taxas de juro de forma independente da Fed.