A BYD é uma das principais fabricantes chinesas de carros elétricos. Já a pensar em 2025, espera colocar o seu modelo Seagul à venda na Europa. Esse será um momento de grande disrupção no mercado dos veículos elétricos. Uma vez que será a primeira vez que um modelo verdadeiramente low cost de carros elétricos com tecnologia de ponta chega aos consumidores europeus.
O preço estimado do modelo Seagul ronda os $10.000. O que bate a concorrência e forçará ao desenvolvimento de soluções competitivas low cost. 2025 poderá ser, por isso, o ano em que as classes médias europeias poderão começar a substituir os seus carros de combustão interna e passar também para a mobilidade elétrica.
O impacto da BYD na Europa
Houve esforços da Comissão Europeia em impor travões à entrada dos fabricantes chineses no espaço europeu. Mas a verdade é que as parcerias industriais da China com vários dos Estados-Membro, incluindo Espanha, França e Polónia, vão mesmo abrir portas a estas empresas. A BYD poderá ser das primeiras beneficiárias. A empresa já tem um volume de negócios superior à Tesla na área dos carros elétricos. E agora pretende conquistar a Europa.
A BYD anunciou recentemente que tem planos para introduzir o modelo Seagull de cinco lugares na Europa no próximo ano. Para isso, oferece vários addons e modalidades de compra para este veículo.
O carro vem, na base, com o chamado cruise control e carregamento wireless de smartphones. Além de todos os acabamentos premium e tecnologia de segurança e conforto na navegação que associamos a marcas como a Tesla. A única coisa que parece diferente da Tesla é o preço deste Seagull. Vende-se por $10.000 na China, apesar de o seu valor dever subir na Europa. Isso devido a tarifas e outras exigências de fabrico que as autoridades europeias irão impor.
Ainda assim, considerando os fabricantes estabelecidos de carros na Europa, incluindo a Renault, BMW e Nissan, o preço dos veículos da chinesa poderá vir a surgir nos mercados a um preço imbatível. A competição terá de responder a essa ameaça de preços. Pelo que 2025 será um ano de ajustamento profundo da indústria no que respeita ao preço destes veículos.
Preços e modelos da fabricante de VE BYD
Desde já, o modelo Seagull é o cartão de visita da BYD. Foi aplaudido pela qualidade de fabrico, do seu design e da tecnologia implementada nos veículos. Muitos o comparam aos carros da Tesla. Mas há muitas novidades que podem ser adicionadas ao modelo de base para quem queira melhorar a sua experiência ao volante dos Seagull.
Existem versões do Seagull um pouco mais avançadas em funcionalidades e conforto. Esses poderão levar o modelo para a casa dos €25.000 na Europa. Isto a julgar pelo que referiu o Diretor Europeu de Operações da BYD, Michael Shu, numa conferência da indústria em Londres. A BYD planeia agora começar a instalar fábricas para a produção do Seagull na Europa, começando pela fábrica na Hungria que deverá começar a funcionar até ao final deste ano.
Podemos aferir o sucesso dos carros da BYD fora do continente asiático, onde é dominante. No México, onde o Seagull é vendido sob a marca Dolphin Mini, os condutores têm vindo a comprar este modelo de modo preferencial ao dos fabricantes europeus e americanos. Ainda que o valor médio deste veículo, por lá, ronde os $19.780.
O México poderá não passar de um mercado de teste. Assim, o espaço europeu é um dos mais apetecidos pela fabricante graças à grande classe média. O que poderá trazer centenas de milhões de lucros para a fabricante.
As tarifas poderão não demover a BYD de conquistar o mercado europeu
Tanto a Europa como os Estados Unidos têm vindo a aplicar tarifas e constrangimentos legais. O objetivo é atrasar o aparecimento de veículos chineses no Ocidente. Mas essas medidas poderão não passar de meras intenções infrutíferas. Afinal, os Estados Membros europeus e as fabricantes parecem alinhadas em colaborar de forma produtiva.
O presidente norte-americano Joe Biden quase quadruplicou as taxas de importação para veículos chineses. Em uma tentativa de inviabilizar quase totalmente a circulação destes veículos nos EUA. Por outro lado, a Europa tem tentado aplicar tarifas pesadas, com o mesmo fito.
O problema da Europa é, ainda assim, diferente do americano. Uma vez que medidas de guerra comerciais retaliatórias da China poderiam trazer sérios problemas à economia deste bloco a Ocidente. Por outro lado, as difíceis metas de descarbonização até 2030 exigem medidas urgentes de substituição dos carros a combustão interna. E estas soluções low cost vindas da China parecem irresistíveis do ponto de vista da transição energética.
É por isso que a UE está mais permeável às investidas comerciais chinesas. E pode escancarar portas muito em breve para BYD, mas também para outras fabricantes que querem baixar os custos de entrada para VE aos consumidores europeus.
Segundo Julia Poliscanova, diretora logística de e-mobilidade e veículos na Transport & Environment, citada pela Bloomberg, “as tarifas não devem ser usadas para proteger os nossos fabricantes [europeus] da competição justa”. “O que importa, além de cumprir com os objetivos climáticos que são críticos, é criar trabalhos locais além de não promover a descarbonização à custa do desmantelamento das nossas indústrias”.
Contexto financeiro da BYD
A BYD foi fundada em 1995, quando começou a desenvolver baterias para a nova mobilidade verde e elétrica. Só em 2003 é que reconverteria as suas operações para começar a construir veículos elétricos nas suas fábricas, de modo autónomo. As vendas de carros de passageiros na Europa iniciaram-se em 2022, no contexto de feiras profissionais da indústria que ocorreram em Paris e Munique. Foi nestas feiras que a BYD começou a surpreender consumidores e agentes da indústria, e a fazer planos para vendas a mais larga escala aos consumidores da Europa.
Desde então, também as vendas de ações da BYD têm vindo a valorizar, apesar da guerra às importações imposta pelos EUA. Isso provocou uma queda de valor das ações em 23% em 2023, mas em 2024 já estão novamente a valorizar em torno de 9,6%.
É a inglesa MG Motor que representa a BYD para o espaço europeu, depois de ter reconstruído o seu modelo de negócios com a venda da empresa em 2007 à chinesa Shanghai Automotive Industry. Agora, a MG Motor tem o segundo carro mais vendido do Reino Unido na categoria de Elétricos, com o modelo MG4 a ser apenas ultrapassado pelo Modelo Y da Tesla.
Para dar resposta a este avanço avassalador da BYD a ocidente, os fabricantes europeus preparam-se agora para dar passos pouco ortodoxos e formar novas alianças para se manterem competitivos e garantirem as suas cotas de mercado. A Renault está neste momento à procura de parceiros que permitem reduzir custos de fabrico, e a Stellantis irá começar a vender os seus veículos em setembro depois de ter realizado uma parceria com a empresa chinesa Zheijian Leapmotor Technologies.