Em Portugal começam a circular notícias de que vários medicamentos para diabéticos estão a ser prescritos a pessoas obesas para perder peso. A enorme procura por comprimidos que resolvam o excesso de peso já fez a Roche lançar-se no desenvolvimento de novos medicamentos. E esta indústria está a crescer de forma imparável, sendo uma das áreas mais lucrativas dos próximos anos para o setor farmacêutico.
Que soluções existem para perder peso, combater a obesidade, e de que forma vai este mercado crescer até ao final da década? Os principais analistas e consultores de mercado apontam para um crescimento assinalável da indústria, com várias soluções eficazes de perda de peso a poderem chegar às pessoas já no breve prazo.
Goldman Sachs diz q ue o mercado anti-obesidade vai crescer até $100 biliões
A gigante Goldman Sachs disse recentemente num relatório dirigido ao mercado que os medicamentos anti-obesidade valem atualmente $6 biliões. Mas que chegará aos $100 biliões até 2030 (16 vezes mais do que o seu valor atual de mercado).
Os números astronómicos e este crescimento assinalável de receitas para medicamentos anti-obesidade permitem aferir várias coisas:
- Que as populações de todo o mundo continuarão a ter disfunções alimentares que agravarão os números da obesidade.
- Que o mercado dos medicamentos anti-obesidade é muito recente e terá tendência a crescer de forma exponencial.
- Que há ainda bastante caminho a fazer em termos de investigação para medicamentos e tratamentos anti-obesidade.
O relatório da Goldman Sachs diz ainda que, hoje, a obesidade é o quinto fator de risco de mortalidade mais importante, segundo a Organização Mundial da Saúde. E que as tendências atuais apontam para que metade da população mundial possa vir a ter excesso de peso ou ser obesa em 2035. O que compara com a taxa de 38% das pessoas obesas em 2020.
De acordo com Chris Shibutani, um analista da área biofarmacêutica da Goldman Sachs:
“O mercado da obesidade ainda está a dar os primeiros passos”. Adiantando ainda que: “[este mercado] está, do nosso ponto de vista, num ponto de inflexão, com potencial para crescimento sólido e oportunidades de atingir picos. Isso poderá gerar alguns dos rendimentos mais lucrativos de sempre na área dos medicamentos”.
Que nova classe de medicamentos anti-obesidade existe?
Muito recentemente começaram a ser desenvolvidos nos tipos de medicamentos anti-obesidade chamados “miméticos de incretina”. Esta classe de medicamentos tem provado ser bastante eficaz, promovendo a perda de peso em cerca de 20%. Eles atuam em recetores agonistas do péptido 1, chamado GLP-1. E é um tipo de medicamentos que simula recetores importantes do trato gastrointestinal e do cérebro para a promoção da síntese de insulina.
O resultado da toma desta classe de medicamentos é que os níveis de glucose no sangue são regulados, o metabolismo também recupera os seus processos de forma saudável, e as pessoas sentem menos fome e ficam com melhor condição física a partir da primeira toma.
No entanto, continuam a ser desenvolvidos novos medicamentos, como os AOMs, que estão a ser vistos como o futuro do tratamento da obesidade.
É de notar que, em 2013, a Associação Médica Americana reconheceu a obesidade como um problema crónico que aflige toda a sociedade. A urgência e desespero na procura de tratamentos leva pessoas a tentarem todo o tipo de dietas, a procurarem cirurgias de redução de estômago, e a tomarem medicação destinada a diabéticos, mas que lhes permite perder peso. O que cria um problema de desigualdades e riscos do ponto de vista do stock para os medicamentos que tratam a diabetes.
Medicamentos para a diabetes custam milhões ao SNS e estão a ser mal-usados para tratar a obesidade
A notícia corria os jornais portugueses e continua a ser uma realidade dura de observar: cada vez mais são feitas mais prescrições indevidas de medicamentos da diabetes para pessoas com obesidade. Isso cria problemas de stock nestes medicamentos que, em primeiro lugar, devem tratar a diabetes, além de que geram custos avultados ao Estado que os comparticipa.
Em causa estava um medicamento em particular: o Ozempic. Este é um medicamento comparticipado para a diabetes de tipo 2, mas que se tem mostrado também eficaz para perder peso. Os médicos reconhecem-nos, e os pacientes sabem disso através de histórias que passam do boca-a-boca. Resultado? O aumento de prescrições indevidas que já custa 18 milhões de euros ao SNS.
Vejamos o caso do medicamento Ozempic:
- Custa 120€.
- É comparticipado a 90% pelo Estado português.
- O impacto da prescrição médica indevida tem efeito imediato nas despesas do Estado.
Mas o Ozempic não é o único medicamento indevidamente prescrito para a obesidade. O que traz problemas para a saúde pública, mas também gera alguma pressão para que laboratórios e farmacêuticas desenvolvam medicamentos eficazes e destinados efetivamente à perda de peso.
Roche junta-se à corrida da produção de medicamentos para a obesidade – acordo de $2.7 biliões com a Carmot
Segundo a Reuters, a Roche acaba de estabelecer um acordo com a Carmot Therapeutics avaliado em $2.7 biliões para o desenvolvimento de um novo medicamento contra a obesidade.
Essa iniciativa trará dinâmica e aumento de concorrência no mercado farmacêutico. Ele é dominado até agora pela Novo Nordisk e Eli Lilly como principais produtoras de medicamentos para a perda de peso, mas isso poderá estar prestes a mudar.
O medicamento que a Roche quer disponibilizar nos mercados é uma injeção tomada uma vez por semana e a que dá o nome de CT-388. Esta droga funciona segundo o método do recetor agonístico FLP-1 / GIP, e que é um dos mais inovadores atualmente disponíveis no mercado.
Depois de ter sido desenvolvida a fase 1 de testes, o medicamento está agora pronto para ser testado em humanos. A sua aprovação estarão dependente dos resultados de eficácia e segurança que possam ser produzidos, e que irão ainda ser apreciados pela FDA norte-americana. Ainda assim, tendo em conta que este medicamente tem um mecanismo de atuação já bastante conhecido e usado pelas suas duas concorrentes de mercado, a Roche está confiante que este novo medicamento poderá entrar em circulação no mercado em pouco tempo.
Quantos obesos existem em Portugal? Que problema de obesidade enfrentamos?
Um relatório da Federação Mundial da Obesidade indica que 39% dos portugueses adultos serão obesos em 2035. Apesar da dimensão assustadora do problema numa questão de uma década, Portugal é também apontado como o oitavo país em 183 estudados que está em melhores condições para combater esta autêntica epidemia.
O aumento da obesidade irá observar-se nas várias faixas demográficas, crescendo em cerca de 2,8% nos adultos e 3,5% nas crianças. O crescimento da obesidade entre os mais novos é um sinal particularmente preocupante, que exigem medidas a montante de promoção de alimentação saudável, mas também campanhas de sensibilidade e iniciativas de regulação.
Por exemplo, já existe taxação de produtos como bebidas açucaradas (os refrigerantes), o que desincentiva o consumo.
Quais as despesas do Estado com a obesidade?
O Estado tem despesas indiretas com o problema da obesidade, por exemplo, na comparticipação de medicamentos. Também devemos contar com todas as despesas que resultam de problemas provocados pela obesidade: nomeadamente o tratamento de problemas cardíacos, o crescimento da atribuição de subsídios de invalidez, só para dar alguns exemplos.
A somar a estas despesas, a Federação Mundial da Obesidade estima que a despesa com a obesidade e o excesso de peso representem 2,1% do PIB português em 2030. E que esse valor cresça para 2,2% em 2035.
O que fazer para prevenir a obesidade?
Para resolver a obesidade é importante reconhecer que este pode ser um problema complexo. Desde puro desconhecimento do que são hábitos alimentas e de vida saudáveis. Até compulsões de origem psicológica e emocional. Mas também não devemos descurar o fator social, pressão de grupo para o consumo de determinados alimentos, ou as condições socio-económicas que só permitem comprar a pizza a 3€ ou a comida ultra-processada também extremamente barata.
Para prevenir a obesidade, a OMS e a DGS em Portugal, mas também a regulação europeia, promovem uma série de medidas. De campanhas de Marketing, rotulagem com o nutri-score dos alimentos, ações de sensibilização para a alimentação saudável nas escolas, taxação adicional de produtos açucarados.
Veja alguns dos conselhos a seguir:
- Evitar tudo o que sejam alimentos ultra-processados.
- Evitar fritos ao máximo.
- Substituir óleo por azeite na confeção de alimentos, e consumir o mínimo possível de manteiga.
- Manter o consumo de carne em três refeições por semana.
- Aumentar o consumo de fibra – feijão, grão, ervilhas, lentilhas, aveia.
- Não ultrapassar as três refeições por dia.
- Comer doses generosas, mas não exageradas.
- Fazer exercício físico regular – caminhar todos os dias, por exemplo.
O que os dados científicos demonstram é esclarecedor: mais vale ser intuitivo do que prescritivo na maneira como comemos. Uma alimentação variada e consciente é mais importante do que pesar os alimentos ou seguir qualquer tipo de dieta restritiva. Isso é fundamental para perder peso.