A revolução que se prepara no setor da inteligência artificial está a significar movimentações interessantes no tabuleiro dos investimentos de larga escala. Para já, a Blackstone vai investir cerca de $ 25 mil milhões que permitirão alimentar soluções tecnológicas assentes em IA e a partir de data centers.
Esta iniciativa significa que a Blackstone vai comprar grandes territórios através da QTS (Quality Technology Services). A QTS faz a mediação entre o investimento privado e a construção de data centers em massa por vários estados norte-americanos. Esta empresa é uma das mais rentáveis na indústria dos data centers. E prepara-se agora para ser reforçada com biliões da Blackstone.
Qual o impacto imediato do investimento da Blackstone nos data centers?
Esta não é a primeira vez que a Blackstone investe em Data Centers. Na verdade, foi em 2021 que começou a investir através da QTS. Na altura, com um investimento de $10 biliões. O montante rapidamente alavancou a QTS para o topo das empresas mais bem-sucedidas em serviços ligados à IA.
O novo investimento anunciado de $25 biliões reforçará ainda mais essa posição da QTS. E afirma, em definitivo, o setor dos data centers como um dos mais lucrativos para os próximos anos. Eventualmente, os investidores retalhistas prospetivos poderão querer avaliar estas empresas de data centers cotadas em bolsa com o objetivo de comprar as suas ações.
É, ainda assim, de notar que os investimentos em data centers por vezes representam projetos complexos de engenharia e com instalações de larga escala. Uma instalação anunciada para as imediações de Phoenix prevê que o data center a ser ali erigido terá a dimensão de 60 campos de futebol.
Além disso, a energia necessária para manter apenas um desses data centers em funcionamento é o equivalente à energia usada por centenas de milhares de habitações privadas num ano. Ou seja, a pegada carbónica e os custos de manutenção poderão ser massivos.
Quanta energia será gasta nos data centers da QTS?
Segundo indica uma reportagem da Bloomberg, a QTS estima que um data center consuma 6 gigawatts de eletricidade. O que equivale aos gastos anuais de 5 milhões de casas. Além disso, a infraestrutura energética que alimentará esses centros será complexa, com novas linhas de energia de alta potência a poderem impactar os custos da rede elétrica na região. Os consumidores privados em volta destes centros poderão ficar a perder, deste ponto de vista.
O impacto paisagístico e ambiental é outro dos problemas, levando à terraplanagem de grandes regiões naturais e à destruição de habitats. Mas se num país como os EUA o liberalismo vence facilmente essas questões, por outro lado o tema do consumo interno está em debate. É que instalar data centers numa região subdesenvolvida pode significar a seca de novo investimento futuro, que poderia ser canalizado ao comércio local.
É por isso que a QTS tem vindo a enfrentar alguns problemas de regulação. Como foi o caso em Manassas, na Virginia, onde centenas de pessoas se manifestaram contra a instalação de um data center. A localização do centro seria um território com importância histórica e marcado pela Guerra Civil. A votação pública para regular a instalação daquele centro ficou assim em suspenso.
Movimentações da QTS para instalar data centers
A QTS tem agora $15 biliões para a instalação destes data centers. O negócio baseia-se na cedência por empréstimo destas autênticas fábricas de processamento de dados, sendo hoje o maior fornecedor norte-americano desta indústria.
O problema é a expansão e o crescimento, dado o impacto gigantesco destas construções no território. Como se viu, já teve grande contestação popular.
Lembremo-nos que, em Portugal, o projeto de instalação de um mega data center em Sines levou a um importante levantamento popular contra os danos paisagísticos que isso provocaria. Mas, mais tarde, levou mesmo à queda do governo quando se descobriu processos anormais de avaliação ambiental para facilitar aquele empreendimento.
A aposta da Blackstone nos data centers – O grande capital poderá começar a dirigir-se para esta indústria?
O presidente da Blackstone, Jon Gray, identifica esta fase de revolução da IA como o mais importante indicador de que os data centers serão das infraestruturas mais importantes para nosso mundo tecnológico.
Segundo disse Gray em entrevista:
“QTS move-se numa parte muito importante da economia e que está a demonstrar a sua promessa (…). A IA será uma força poderosa para melhorar as nossas vidas”.
Na chamada inteligência artificial generativa, os algoritmos inteligentes percorrem um número massivo de dados para apresentar conteúdos relevantes e úteis. E são esses processos que têm vindo a intensificar a procura por novas tecnologias e infraestruturas.
Os servidores da computação IA podem consumir até quatro vezes mais energia. E, por isso, torna-se imperativo instalar novos data centers capazes de suportar estas sobrecargas energéticas. Assim como precisam de sistemas de arrefecimento avançados.
O papel do grande capital nos data centers
O enorme investimento da Blackstone na empresa QTS foi um marco que trará mais investimento privado de outras proveniências. O seu CEO, Chad Williams, tem vindo a fazer um percurso desde 2005 no sentido de colaborar com governos locais para afirmar o seu negócio como de interesse público.
É esta combinação de infraestrutura necessária às novas tecnologias e comprometimento dos agentes políticos que poderá fazer dos data centers as infraestruturas em maior aceleração para serem construídos nos próximos anos.
Se pensarmos que foi só em 2023 que rebentou a popularidade da Inteligência Artificial, então percebemos que estamos apenas na infância destas novas construções.
Neste momento, o negócio dos data centers já é muito lucrativo. Cobra-se na ordem dos $100 por quilowatt consumido ao mês, quando há apenas três anos esses valores se situavam nos $70 e $80. Porém, já se observam preços que chegam a atingir os $150 kilowatt por hora. O que é representativo da escala de custos e de lucros para as partes envolvidas neste negócio.
Do ponto de vista da Blackstone, trata-se apenas de alocar grande capital institucional em projetos em desenvolvimento que geram lucros e rendas acima da média dos negócios das economias globais.
As principais empresas de data centers com ações listadas em bolsa
Se quer também investir em empresas que, de alguma forma, estão ligadas a data centers, saiba que já há várias cotadas em bolsa. Em suma, tratamos de operadoras e fornecedoras destes espaços e serviços, e agentes que fornecem infraestruturas críticas aos data centers.
Fazemos-lhe um resumo das maiores empresas ligadas a data centers. E as com maior potencial de crescimento depois do investimento massivo da Blackstone.
Digital Realty:
Este é um dos maiores operadores de data centers do mundo. Permite o aluguer de capacidade de computação e acesso à sua rede. Os dividendos compostos anuais crescem continuamente, com lucros na ordem dos 10%.
Equinix:
Com mais de 10.000 clientes em todo o mundo e 452,000 ligações totais aos seus sistemas de computação, a Equinix é outra das empresas mais influentes. Durante 80 trimestres consecutivos, e até 2023, a Equinox só conheceu crescimento. O seu modelo altamente lucrativo e posição de destaque no S&P 500 garantem a sustentabilidade e alta capacidade lucrativa.
Oracle Corporation:
Clássico institucional do cloud computing, a Oracle continua a ampliar os seus serviços da Oracle Cloud Infraestruture para clientes privados e institucionais. Garante capacidade de computação na cloud. Armazena serviços de redes através dos seus data centres espalhados por 22 países.
American Tower Corp:
Este é um fundo de investimentos em imobiliário (conhecido como “REIT”) que detém, opera e desenvolve Data Centers nos Estados Unidos. Desde 2021 que tem vindo a comprar empresas ligadas a este setor dos Data Centers, posicionando-se também como um dos fundos mais importantes a seguir em bolsa.
Iron Mountain:
A Iron Mountain oferece serviços de colocação e desenvolvimento de Data Centers, e é considerada uma das maiores empresas neste setor atualmente em atividade. A Iron Mountain detém 21 Data Centers espalhados pelo globo, fornecendo com isso as infraestruturas e serviços mais relevantes para grandes clientes que precisam de recorrer a cloud computing.