A Temu e a Shein são duas das marcas mais famosas em fast fashion e estão no top 5 das apps mais descarregadas nos EUA mas também na EU. Ambas declararam guerra com processos em tribunal, tentando obter privilégios no acesso a fornecedores chineses e afirmarem-se no mercado.
Apesar das tensões políticas entre os EUA e a China no panorama geopolítico, e também o clamor para banir o TikTok no Ocidente, as apps chinesas permanecem muito populares nos EUA, sendo que quatro do top 5 de apps mais descarregadas são mesmo chinesas, de acordo com a Apptopia.
Tanto a Temu como a Shein são populares entre utilizadores americanos que procuram grandes descontos em artigos de vestuário e outros para a casa. As duas empresas estão num confronto declarado para tentar dominar os mercados americano e europeu.
Em dezembro, a Shein avançou com um processo em tribunal contra a Temu por violações de propriedade intelectual, alegando ainda que a Temu estaria a enganar os utilizadores e a fazer-se passar pela Shein – apesar de serem competição direta.
É também de notar que a Shein obteve vantagens únicas por ter sido a primeira no mercado no seu setor de atividade, mas a Temu tem conseguido aumentar a sua quota de mercado ao longo dos anos, segundo revela a Ernest Analytics num relatório de junho passado. A Temu já ultrapassou até as vendas da Shein para o mercado dos EUA.
Para colocar estes dados em perspetiva, as vendas americanas da Temu foram de apenas 1% das da Shein em setembro de 2022. O que contrasta com os resultados de março de 2023, quando a Temu conseguiu a suplantar a Shein revelando uma dinâmica de constante crescimento.
À medida que as duas gigantes da área do fast fashion online combatem pela sua quota de mercado, há mais preocupações que as estão a levar aos tribunais americanos neste momento.
Temu e Shein processaram-se uma à outra
No início deste ano, a Temu processou a Shein por causa de práticas anti-concorrência, acusando-a de ameaçar e de intimidar os seus fornecedores.
“A Shein tem participado em campanhas de ameaças, intimidação, informações falsas de ilegalidades, e tentativas de impor multas punitivas e sem sentido, forçando acordos de exclusividade com fornecedores de vestuário”, diz-se no processo colocado pela Temu no Tribunal Distrital americano de Massachusetts.
A Temu alega o seguinte: “A Shein pediu a todos os 8.338 fabricantes e fornecedores ou vendedores na Shein que concordem com contratos de exclusividade, impedindo que a plataforma Temu receba os produtos desses fornecedores ou vendedores”.
Também se queixou de que, devido às medidas da Shein, os comerciantes retiraram 10.000 artigos da sua plataforma. Alegou ainda que: “A Shein sabe que os fornecedores precisam do volume de compras da Shein e que o acesso ao mercado americano depende dela. Por isso é capaz de coagir os fabricantes a acordos que os forçam a não fazer negócio com a Temu”.
A Shein já veio a público dizer que o processo que lhe foi colocado não tem “razão de ser” e que se “defenderá vigorosamente”.
Alibaba também pagou multas avultadas para resolver um caso de infração ao direito da concorrência
Este tipo de acordos exclusivos têm sido prática comum entre empresas de e-commerce chinesa. Em 2021, a plataforma Alibaba pagou uma multa recorde de $2.8 biliões para resolver um caso anti-concorrência em que estava envolvida. A China também impôs uma multa de $533 milhões na empresa de distribuição alimentar Meituan num caso anti-concorrência.
Aquele país tomou essas medidas como parte de um conjunto de ações de controlo do setor industrial. Contudo, parece estar neste momento a focar-se em empresas privadas tecnológicas.
📱 @Amazon UK has lost over one million daily users since the start of the year, while @SHEIN and @Temu have continued to see growth, new research has revealed.
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— InternetRetailing (@etail) July 12, 2023
Ainda acerca do caso Temu contra Shein que se está a debater em vários territórios ocidentais, a Europa também parece ser palco de batalha destas duas empresas que estão a ganhar terreno face à Amazon e ao eBay. De acordo com a GWS Research, a Amazon perdeu 1 milhão de utilizadores da sua app no Reino Unido só este ano, enquanto os utilizadores da Shein subiram de 1 milhão para 2 milhões num mês.
A Temu, por outro lado, foi capaz de atrair 3.5 milhões de utilizadores no primeiro mês em que se lançou no Reino Unido. A app foi um sucesso retumbante entre utilizadores britânicos, com os utilizadores a gastarem em média 18 minutos na app, o que é o dobro do tempo que passam na Shein, Amazon e eBay.
Shein e Temu lutam por fornecedores
Enquanto estas marcas lutam por dominação global, a Shein e a Temu também procuram mais fornecedores na China. O Wall Street journal reportou que os empregados atuais e antigos da Shein denunciam, desde o último ano, que a Temu tem vindo a recrutar ilegalmente trabalhadores da Shein – especialmente para área de operações e infraestrutura.
Também se diz que no site de procura de emprego chinês Maimai, alguns responsáveis relatam que a Shein está a oferecer incentivos no recrutamento para que se trabalhe mais horas e até exige um horário de 242 horas por mês.
Consequentemente, a PDD, que é a empresa-mãe da Temu, está em segundo lugar no que toca ao tempo de trabalho para trabalhadores da área tecnológica, e a Shein surge em quinto lugar.
Enquanto isso, e mesmo que as duas empresas estejam hoje envolvidas em duras batalhas por dominância no mercado do fast fashion, elas procuram ao mesmo tempo dissociar-se da China e das tensões vividas na guerra comercial entre EUA-China.
Os reguladores americanos têm vindo a intensificar o escrutínio tanto da Shein como da Temu, à medida que o seu modelo de negócios se vai adaptando às regras “de minimis”, previstas na Secção 321 o Ato da Taxa de 1930, que permite isentar taxas de importação quando o valor dos bens importadores não exceda os $800.
Shein e Temu enfrentam investidas de regulação nos EUA
Um relatório tornado público pelo Comité House Select do Partido Comunista Chinês descobriu que a Shein e a Temu representam 30% de todas as exportações que se enquadram na regra “de minimis”.
O relatório também refere que as duas empresas têm feito pouco para libertar a sua infraestrutura de trabalho escravo. Gallagher diz mesmo no relatório que “a Temu não faz praticamente nada para acabar o trabalho escravo na sua produção”.
A representante Raja Krishnamoorthi, uma Democrata do Illinois e co-autora do relatório, disse: “O que descobrimos inicialmente neste relatório é preocupante e reforça a necessidade de impor total transparência às empresas que possam estar a lucrar com trabalho escravo do C.C.P. (Partido Comunista Chinês).”
Em toda esta problemática está em causa o mercado global do fast fashion, que de acordo com a Statista representava $106 biliões em 2022 e que deverá crescer para $185 biliões em 2027.
Dada a expectativa de crescimento do mercado do fast fashion, os investidores têm depositado dinheiro em empresas privadas da indústria.
Contudo, estas empresas têm também perdido valorização em linha com a quebra na indústria das startups (veja por exemplo o caso das ações Netflix, ou das ações Tesla). Na sua ronda de financiamento mais recente, a Shein, que tem sede em Singapura, viu a sua valorização ser cortada em $66 biliões. Isso representa cerca de dois terços do valor antes desta ronda de financiamento.
Segundo foi noticiado, a Shein terá iniciado conversas preliminares com bancos de investimento para selecionar os organizadores da sua próxima IPO nos EUA. A empresa, entretanto, já rejeitou publicamente que esteja a preparar qualquer plano de IPO.
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