Ouro atinge valores recorde

Um relatório mensal dos EUA, sobre os preços no consumidor, trazem incertezas relativamente ao timing previsto para a Fed cortar nas taxas de juro. O que trará por sua vez consequências no investimento. Os analistas preveem agora que não há calendário certo para o corte da inflação. Pelo que o investimento nos mercados de capitais nos EUA poderá abrandar, com algumas alternativas a considerar em blocos mais a leste como a Rússia.

Ao que tudo indica, a inflação nos EUA para o mês de março subiu mesmo 0,3%. O que não deixa de ser preocupante face à trajetória descendente que temos vindo a observar. Ainda que seja um revés face ao desempenho dos dois meses passados, poderá apenas ser um sobressalto na trajetória positiva da economia americana. Os EUA poderão cortar juros depois da decisão do BCE.

Categorias de consumo mais afetadas pela inflação

Em resumo, o relatório de consumo interno nos EUA anunciado pela Bloomberg revela um agravamento de preços em áreas particulares. Entre essas categorias estão o mercado de arrendamento, a indústria dos carros usados e do transporte aéreo. Outras áreas fundamentais também serão afetadas. Em suma, haverá impacto no consumo interno e nos indicadores da economia que, apesar de tudo, têm demonstrado resiliência.

Estado do mercado de arrendamento nos EUA

O relatório CPI do consumo interno nos EUA olha com especial atenção para as dinâmicas do mercado de arrendamento. Isso porque é dominante naquele país face à compra e venda de imobiliário. As rendas são duas componentes fundamentais do CPI que servem como barómetro do estado da economia. Isso independe de serem residências para viver, seja para alugar a outros.

Esta componente está em ligeira queda, seguindo a tendência de 2023 e a breve recuperação já em fevereiro deste ano. Ainda assim, e segundo os dados disponíveis, 2024 continuará a ser um ano de alguma moderação e de perspetivas conservadoras neste mercado.

Estado do mercado de carros usados nos EUA

O mercado dos carros usados representa um dos principais indicadores para o bom momento da economia. E para a tomada de decisão relativamente ao corte das taxas de juro e do progresso da inflação. Esta indústria é decisiva. E se esteve a valorizar 54% entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2022, em janeiro deste ano corrigiu ligeiramente em 3,4%. Em fevereiro voltou a uma retoma de 0,5%.

Conforme os economistas Manuel Abecasis e Spencer Hill, em declarações à Bloomberg:

“Ambos esperamos que os preços dos carros usados (-0,5%) e dos carros novos (-0,3%) continuem a descer em março, refletindo os preços baixos em leilão de carros usados, e o aumento de incentivos dos concessionários”.

Adiantam que: “daqui para a frente, esperamos que os preços de carros novos e usados continuem a baixar em 8,2% e 1,4% respetivamente, refletindo a normalização da produção automóvel, de maiores inventários, e de mais incentivos à compra de novos veículos”.

Estado do mercado da aviação comercial

Sabemos que a baixa na procura de bens de consumo em massa leva a um desagravamento dos níveis da inflação. O que é fundamental para equilibrar as contas da economia. Mas muitos oficiais da Fed têm-se focado em serviços que excluem mercados com o da aviação comercial, que são mais voláteis e menos indicativos de tendências do estado de saúde da economia. Contudo, as passagens aéreas vendidas ao consumidor ajudam a compreender dinâmicas de preços e a reforçar teses sobre tendências. A verdade é que em janeiro e fevereiro, este mercado tem vindo a ser reforçado e valorizado, numa tendência que continua em crescendo desde meados de 2022.

No relatório do estado da economia agora revelado, os economistas do Banco da América Stephen Juneau e Michael Gapen referm: “A menor procura de passagens aéreas é um fator fundamental por trás das nossas expectativas de um abrandamento em março”.

Com as perspetivas conservadores para a economia dos EUA, o ouro é reserva de valor para muitos investidores

Os indicadores pouco assertivos do estado da economia e a posição conservadora da Fed relativamente a um corte mais rápido das taxas de juro está a levar a uma procura do Ouro como reserva de valor dos investidores.

O Ouro em mercado à vista está mesmo em níveis recorde de valor, atingindo $2.340,06 na última sessão em que esteve a negociar. Os investidores do mercado de capitais parecem adotar uma perspetiva cautelosa face aos resultados do relatório do consumo interno nos EUA, e é por isso que o ouro, tradicionalmente um fundo de conservação de riqueza em momentos negativos para a economia, está a subir de valor. Além disso, é importante notar que o ouro não paga juros.

Desde meados de janeiro que o ouro já está a valorizar cerca de 18%, um grau de valorização que tem trazido alguma perplexidade a analistas financeiros que reconhecem este ativo como um dos menos voláteis e mais previsíveis. Isso explica-se pelas incertas na economia dos EUA neste momento, mas também com toda a imprevisibilidade que a geopolítica está a imprimir no mundo ocidental.

Outros metais preciosos como a prata, platina e palladium estão a corrigir.

IPOs da Rússia que poderão vir a surpreender no mercado de capitais

Vivemos períodos de grande incerteza e insegurança a Ocidente, ainda que os media tradicionais nos queiram vender a ideia de que as guerras na Ucrânia e na Palestina estão controladas e não transbordarão para outros países. Mas se olharmos para o que pensa o mercado financeiro vemos um cenário totalmente diferente: os grandes investidores retalhistas e institucionais estão a refugiar o valor dos seus investimentos no ouro, precisamente por medo de choques sistémicos nas economias ocidentais.

Face a isto, o mercado de IPO da Rússia parece estar a atravessar um bom momento e a acelerar, numa altura em que as autoridades russas planeiam dar luz verde a fundo de pensões privados e em investir no mercado interno.

Os IPO na Rússia já mais do que dobraram o seu valor neste ano para o que está avaliado num mercado de $862 milhões. Estas são estimativas da firma de investimentos russa Aigenis.

O valor é elevado, mas o mercado está longe do seu anterior valor de $3 biliões quando atingiu um pico em 2021, imediatamente antes da invasão da Ucrânia. O plano do governo é agora o de voltar a desenvolver o mercado de capitais para suportar a economia.

Abertura de investidores não estatais na Rússia

O Banco Central Russo já veio anunciar a abertura de investidores não estatais, que poderão comprar ações do fundo de pensões em IPOs que se estão agora a lançar.

De acordo com Kirill Chuyko, analista da BCS, “isto são boas notícias, já que as vendas de IPO são principalmente dinamizadas por investidores retalhistas, o que faz com isto pareça um casino”. Diz ainda que: “Novas fontes significativas de dinheiro de investidores profissionais serão benéficas para os credores e para o mercado”.

Os mercados de capitais da Rússia não podem ser acedidos por muitos investidores internacionais devido às sanções europeias e dos EUA. Além disso, as restrições russas sobre moeda estrangeira e para transferências no mercado bolsista internacional torna o acesso àquele mercado muito complicado em 2024.

Este é um mercado muito apetecível neste preciso momento de alta inflação, com as ações de pequenas empresas russas a tornarem-se especialmente atrativas pelas elevadas taxas de juro e pela abertura aos mercados e investidores chineses.

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