Não restam dúvidas que a inteligência artificial está rapidamente a tornar-se parte do nosso mundo, sendo que o impacto na forma como consumimos as redes sociais é significativo. Texto, imagens, áudio e vídeo são elementos mídia que estão a ficar mais acessíveis para qualquer pessoa criar, usando novas ferramentas generativas de IA. Porém, será o IA nas redes sociais tão útil quanto IA nas criptomoedas, por exemplo?
IA nas redes sociais prejudicará a nossa noção do que é real?
De facto, à medida que os materiais gerados por IA estão a tornar-se cada vez mais populares, fica mais difícil perceber a diferença entre o que é real e o que foi manipulado.
“É um dos desafios da próxima década”, garantiu Kristian Hammond, professor de ciência da computação que se concentra em inteligência artificial na Northwestern University.
Até porque, rapidamente, o conteúdo gerado por IA está já a chegar aos filmes, programas de TV e redes sociais no Facebook, TikTok, Snapchat e outras plataformas. Por exemplo, a IA foi usada para alterar imagens do ex-presidente Donald Trump e do Papa Francisco. Além de que um vencedor de um prestigioso concurso internacional de fotografia este ano usou IA para criar uma foto falsa!
Como IA foi responsável por uma das fotos do ano, sendo totalmente falsa?
Saiba que esta imagem criada por IA, de Boris Eldagsen, em Berlim, ganhou a categoria criativa aberta no Sony World Photography Award, deste ano. Esta fotografia foi produzida com ajuda de IA.
Victor Lee, que se especializou em IA como professor na Escola de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Stanford, disse: “as pessoas precisam ter cautela ao olhar para materiais gerados por IA”. Seja texto, vídeo, imagem ou áudio, com IA generativa vemos coisas que parecem notícias reais ou uma imagem de uma pessoa em particular, mas não é verdade, afirmou o Professor Lee.
Conteúdo musical nas redes sociais é totalmente verdadeiro?
Nesse que também já é outro fenómeno viral, a IA também já está a ser usada para criar músicas que soam como artistas musicais populares e replicar imagens de atores, mesmo que estes já não estejam entre nós há décadas! Por exemplo, numa rápida pesquisa nas principais redes sociais, como X, já é possível encontrar “mash ups” entre Drake e Eminem. Ou até Amy Winehouse a cantar músicas deste ano. Aliás, recentemente, uma pessoa anónima no TikTok usou inteligência artificial para criar uma música com batida, letras e vozes que levaram muitas pessoas a acreditarem que era uma gravação dos pop stars Drake e The Weeknd.
Tal dimensão poderá criar um problema entre os diferentes artistas, tendo já levado a que atores e roteiristas de televisão e cinema, atualmente em greve nos EUA, estejam altamente preocupados com o uso de IA, que já permite replicar rostos, corpos e vozes em filmes e TV, mesmo que esses atores não estejam presentes na gravação. Quem se esquece de como as primeiras cenas do último filme “Indiana Jones” é possível vermos um Harrison Ford com a mesma fisionomia e vitalidade do que os seus sucessos na década de 80?
Sucesso de Avatar 2 é o início de uma mudança para a produção de conteúdo?
“Acho que os filmes Avatar tiveram tanto sucesso porque as pessoas conseguiram identificar-se com a animação dos personagens simulados”, começou por afirmar Bernie Luskin, diretor da iniciativa de liderança da faculdade comunitária Luskin da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
Este especialista Luskin, que faz estudos sobre psicologia da mídia, acredita que, à medida que o uso da IA se tornar um fenómeno mundial, tal afetará as pessoas psicologicamente e influenciará seu comportamento. “Definitivamente terá um impacto dramático nas redes sociais”, afirmou, com base nas suas próprias conclusões. “À medida que a IA se torna mais comum, esta torna-se cada vez mais enganosa”.
Porém, numa nota positiva, Lusk concluiu que a IA promoverá elementos artísticos adicionais, afirmando:
“Teremos uma nova visão do que significa ser criativo e haverá um tipo diferente de apreciação porque os sistemas de IA estão a gerar elementos que eram inalcançáveis, em parceria com um ser humano. Uma grande preocupação, no entanto, é que as pessoas já estão a sentir-se enganadas pela IA e, à medida que a tecnologia se torna ainda mais sofisticada, será ainda mais difícil discernir o que é real ou não”.
Qual o impacto da realidade IA nas redes sociais?
Na verdade, Krishnan Vasudevan, professor assistente de comunicação visual na Universidade de Maryland, teme que as pessoas acabem por tornarem-se imunes a materiais gerados por IA e não se importem se são reais ou não.
“Os utilizadores, cada vez mais, vão querer recursos visuais que reforcem os seus pontos de vista e usarão a ferramenta como uma forma de desacreditar ou de alimentarem a sua narrativa ou visão perante diferentes áreas.”
Especialistas dizem que normas, regulamentos e proteções devem ser considerados para manter a IA alinhada. Até porque, tal como tem sido reportado, os “deep fakes” nas redes sociais têm acabado por misturar, de forma perigosa, o que é de facto real ou não. Sobretudo quando se envolve líderes políticos como Trump, Obama, entre muitos outros.
“Acho que haverá batalhas legais sobre o uso da voz ou aparência de alguém”, referiu Vasudevan. “Temos que começar a olhar com atenção exatamente o que está a acontecer lá fora. Por exemplo, deve haver regulamentos que digam que a sua imagem não deve ser associada a nada que naõ seja autorizado.”
Porém, em forma de conclusão, Lee afirmou que a inteligência artificial criará grandes mudanças com as quais o público acabará por acostumar, assim como a Internet e as redes sociais fizeram nestas últimas décadas. No entanto, até que exista esse período de adaptação, muitas questões éticas e de até de correto manuseamento da tecnologia IA nas redes sociais vão ser altamente questionadas, podendo alimentar algo não existente, num problema real.
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