O conceito de Quiet Quittting – cumprir os requisitos mínimos do trabalho e não dedicar mais tempo, esforço ou entusiasmo do que o absolutamente necessári0 – tornou-se a moda nos primeiros anos da era do trabalho remoto. Contudo, será esta uma tendência crescente que poderá revolucionar o mercado de trabalho? Ou somente uma moda passageira?

A realidade é que no início da década de 2020, impulsionado em grande parte pelas redes sociais, o Quiet Quittting emergiu como uma tendência muito divulgada nos Estados Unidos e também na Europa. No entanto, alguns observadores questionaram o quão comum é realmente – e se é mesmo um fenómeno novo. Porém, os dados e mais recentes estudos revelam que o Quiet Quittting é mais comum do que se poderia inicialmente pensar.

Como realmente funciona a Tendência do Quiet Quittting?

Assim, num artigo da “Harvard Business Review” de setembro de 2022 com o objetivo de explicar o fenómeno do abandono de trabalho de muitos grandes executivos e CEOs, os professores Anthony C. Klotz e Mark C. Bolino observaram:

“Os Quiet Quitters continuam a cumprir as suas responsabilidades primárias, mas estão menos dispostos a se envolverem em atividades: chega de ficar até tarde, chegar cedo ou participar em reuniões não obrigatórias.”

Empresas reagem de forma diversa aos Quiet Quitters

Até ao momento, a reação dos empresários ao fenómeno Quiet Quittting tem sido mista. Alguns têm sido tolerantes, em parte porque o mercado de trabalho apertado dos últimos anos torna difícil substituir estes “desistentes silenciosos”, pelo menos por enquanto. Outros responderam a esta tendência, despedindo quem tivesse essa postura no mercado. Na verdade, “Quiet Quittting” tornou-se uma frase da moda por si só, geralmente definida por um trabalho tão pouco gratificante que o funcionário perde a motivação.

Para além do local de trabalho, o termo “demissão silenciosa” está agora a ser aplicado a aspetos não profissionais da vida das pessoas, tais como casamentos e relacionamentos. Ou seja, vai muito além do mercado de trabalho, numa tendência em que as novas gerações parecem estar mais inclinadas a não assumirem as responsabilidades que se verificavam noutras gerações.

Esta Quiet Quittting é uma tendência real?

Quiet Quitting fenómeno

De acordo com uma pesquisa, realizada pela conceituada “Gallup”, com trabalhadores com 18 anos ou mais, realizada em junho de 2022, os desistentes silenciosos “representam pelo menos 50% da força de trabalho dos EUA – provavelmente mais”. Ainda, no “Relatório sobre a situação do local de trabalho global 2023” da Gallup, 59% da força de trabalho global desiste silenciosamente.

Além disso, nos EUA, a percentagem é particularmente elevada entre os trabalhadores com menos de 35 anos, informou a Gallup. Na sua pesquisa de 2022, a Gallup chegou a essa conclusão. Para isso usando uma série de perguntas relacionadas ao engajamento dos trabalhadores, definido como “o envolvimento e o entusiasmo dos funcionários no seu trabalho e local de trabalho”.

Quais os resultados dos estudos obre Quiet Quittting?

Ora, nessa mais recente pesquisa, apenas 32% dos trabalhadores pareciam engajados com o seu trabalho. Enquanto outros 18% estavam desengajados, o que significa que não escondiam a sua insatisfação no trabalho. Os 50% restantes, teorizou Gallup, poderiam ser classificados como “desistentes silenciosos”. Ou seja, pessoas que não estavam especialmente engajadas em seu trabalho, mas não divulgaram o fato.

Portanto, se estes números forem precisos, então impressionantes 68% dos detentores de empregos, nos EUA, dizem-se insatisfeitos com o seu trabalho, de uma forma ou de outra. Mais do que a compensação financeira, a realidade é que as novas gerações demonstram novas vontades e exigências. Logo, mais do que o valor do salário, existe uma maior valorização neste Quiet Quittting para conceitos de maior liberdade, menor stress e responsabilidades. Assim, como o próprio mercado de trabalho irá reagir a essa nova tendência de Millennials e Gen Z?

Exemplos do que é Quiet Quittting

Quiet Quitting: Should You Embrace it or Worry About it?

Desde logo, é importante detetar os sinais de Quiet Quittting no local de trabalho, para que o apoio certo possa ser implementado, ajudando os funcionários a se sentirem mais conectados ao seu trabalho e à organização. A verdade é que os gestores estão na melhor posição para tal. Uma vez que conhecem melhor as suas equipas, mas os departamentos de RH também devem estar preparados para fornecer formação, informação e estratégias.

Como o Quiet Quittting manifesta-se no ambiente de trabalho?

  1. Menor participação em reuniões, principalmente nas que não obrigatórias
  2. Maior absentismo, que muitas vezes pode estar associado a baixos níveis de motivação
  3. Relutância em assumir tarefas adicionais
  4. Falta de desenvolvimento ou ambição para obter promoções
  5. Afastamento das atividades da equipa social
  6. Recusar projetos “extensivos” fora de uma descrição de trabalho
  7. Uma notável falta de envolvimento com o trabalho e a organização

Quais os cuidados a ter pelas empresas?

De facto, alguns funcionários podem concluir que estes comportamentos são como uma forma de criarem limites entre o trabalho e a vida pessoal. No entanto, estes sinais devem sempre ser levados a sério pelos empregadores, pois podem ser indicativos de problemas de saúde mental, problemas de bem-estar ou problemas mais amplos com a cultura da empresa.

The Myth of Quiet Quitting: What You Need to Know

Assim sendo, cada organização é responsável por motivar e apoiar os seus funcionários, o que ajuda a construir confiança e engajamento ao longo do tempo. Com as estruturas de apoio, estratégias, formação e cultura adequadas, é muito menos provável que o se torne um problema.

Estas são algumas maneiras principais de identificar o Quiet Quittting, tomando a melhores decisões atempadamente:

Bons relacionamentos gerente/ funcionário

Os gestores devem ter um contacto regular com os seus funcionários e devem ser treinados para detetarem quedas no engajamento. Os sinais podem ser subtis. Portanto, construir um bom relacionamento e fornecer uma plataforma para conversar abertamente é muito importante. Um funcionário descomprometido pode começar a afastar-se dos relacionamentos que construiu com os gerentes e outros membros da equipa.

Medição de métricas de produtividade e ausência

Os funcionários psicologicamente desconectados dos seus empregos podem ser menos produtivos no trabalho e ter taxas de ausência mais altas. Por isso mesmo, a monitorização contínua dessas métricas poderá ajudar a revelar padrões. Porém, pode haver muitas outras causas.

Analisar o impacto na lucratividade

Quando a produtividade diminui, a redução da rentabilidade pode ter um efeito indireto. Porém, mais uma vez, lembre-se de que pode haver muitas causas. Logo, boas análises e contribuições de RH serão essenciais. De novo, é essencial a comunicação com os funcionários, como forma de prevenir e tratar desse problema, caso surja.

Gestão de desempenho e avaliações

Além de uma relação forte entre funcionários e gestores, a gestão do desempenho deve ser formalizada para que as metas, as conquistas e as contribuições gerais possam ter alvo de monitorização ao longo do tempo. Assim, uma abordagem estratégica e proativa é importante para detetar a diminuição do envolvimento o mais cedo possível.

Quantos profissionais já aplicaram o Quiet Quittting?

Se a estimativa da Gallup, de que pelo menos 50% da força de trabalho dos EUA pode ser classificada como desistentes silenciosos for precisa, então o número seria superior a 80 milhões. Além disso, somando os dados mais recentes do Bureau of Labor Statistics dos EUA sobre a situação profissional dos americanos. Contudo, é de esperar que também na Europa já se registe um número percentual de Quiet Quittting significativo. Ora, tal tem impacto direto na produtividade das empresas.

Em suma, o Quiet Quittting pode ou não ser uma tendência genuína ou um fenómeno recente. Contudo, os estudos chamam a atenção para o que parece ser uma insatisfação bastante generalizada entre os trabalhadores. De notar que diferentes métricas e estudos permitem chegar à conclusão que as novas gerações têm expectativas bastante diferentes do seu tempo, salário e liberdade. Logo, tratando-se de desafios diferentes e uma cultura Quiet Quittting que poderá ser mais popular do que nunca, caberá as Empresas ajustarem-se perante este novo desafio. Como sempre aconteceu, quer fizer esse ajustamento mais rapidamente e de forma mais eficaz, irá ficar à frente da concorrência.

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