O poder, influência e popularidade da inteligência artificial estão mais uma vez a fazer manchetes. Desta vez, a sua influência na área política está a tornar-se cada vez mais clara, colocando em causa se, dentro de pouco tempo, os líderes políticos não poderão ser de IA. Será que poderiam ser tomadas melhores decisões com a inteligência artificial no poder de empresas e até países?
Ora, à medida que um empresário britânico apoia a candidatura de um chatbot alimentado por IA chamado “AI Steve” para o parlamento do Reino Unido, estas são algumas das questões colocadas. Assim, Steve Endacott, um empresário do Reino Unido, está por trás desta interessante experiência. Visto que este aproveita esta tecnologia inovadora para reimaginar como seria a democracia se o público nomeasse um chatbot de IA para ter representação política. Teríamos mais acertos e menos discriminação face às diferentes pressões da sociedade atual?
Como nasceu o candidato IA Steve?
Todo este fenómeno iniciou-se tendo por base a frustração de Endacott com o sistema político tradicional, levando-o a apresentar a ideia do “AI Steve”. Portanto, a habitual desconexão entre figuras políticas nomeadas para cargos públicos e os seus constituintes foi o que o fez explorar a possibilidade de apoiar um candidato virtual alimentado por IA.
Somando a tudo isto, este “visionário” ficou desiludido com o funcionamento da política depois de ter sido pressionado pelo Partido Conservador a concorrer a vereador num local onde não tinha chance de vencer. Ou seja, este empresário percebeu que o partido não tinha interesse em persuadir os eleitores mais jovens, uma vez que estes nunca votavam nas eleições autárquicas.
“Achei que tal não poderia estar certo. Para mim, ficou muito claro que os deputados estavam completamente desligados dos constituintes”, disse Endacott ao prestigiado “The Independent”, numa entrevista recente. “Estou muito preocupado com o meio ambiente. Precisamos de muitas mudanças no governo para realmente ajudar a controlar as alterações climáticas”, explicou Endacott. “A única maneira de fazer isso é e começar a realmente mudar a política.”
Como a inteligência artificial na política para aproximar os eleitores?
De facto, foi este desejo de estabelecer uma conexão direta entre os legisladores e as pessoas, que estes representam, que inspirou Endacott a criar AI Steve. Em suma, uma personalidade de inteligência artificial projetada para interagir com os eleitores online e moldar as suas ideias e agenda política com base em seus comentários, opiniões e necessidades.
“Estamos a falar de reinventar a democracia. Ou seja, de reconectar os eleitores diretamente aos seus deputados para que possam realmente dizer-lhes o que querem, no conforto da sua própria casa”, comentou o empresário britânico.
Como funciona a experiência “AI Steve” realmente?
Na verdade, pelo que se percebe, a candidatura de AI Steve é uma mistura única de tecnologia de ponta e um grande desejo de servir a comunidade. Por exemplo, acredita-se que os eleitores no Brighton Pavilion, o distrito eleitoral onde AI Steve está a concorrer como candidato independente, poderão interagir diretamente com o chatbot, partilhando as suas preocupações, opiniões e ideias políticas.
Além disso, o software de IA, desenvolvido pela empresa “Neural Voice” de Endacott, é capaz de sustentar até 10.000 conversas simultaneamente, garantindo que nenhuma voz passe despercebida. Como explicou Jeremy Smith, cofundador da empresa: “Um elemento-chave é criar seu próprio banco de dados de informações”.
Qual o real poder e funcionalidade dessa inteligência artificial na política?
Assim, a plataforma da AI Steve é moldada pelas próprias pessoas que pretende representar. Logo, esse chatbot transcreve e analisa conversas com eleitores e identifica temas e preocupações recorrentes. De seguida, essas percepções são então apresentadas a um painel de “validadores” – cidadãos comuns que avaliam as políticas propostas e indicam o seu apoio ou oposição.
“Ter o sistema de votação dos validadores para realmente verificar essas políticas para ter certeza de que são de bom senso, e também no controle de dizer: ‘No Parlamento, queremos que vote desta forma’, simplesmente faz sentido para mim”, enfatizou Endacott .
Mão humana ainda estaria presente
De facto, para aprovar uma ideia, os validadores devem votar e avaliar as propostas de 1 a 10. As ideias políticas são enviadas semanalmente por e-mail. Logo, aquelas que forem votadas por mais de 50% dos constituintes do chatbot AI serão adotadas e adicionadas à sua política. Ainda, Endacott esclarece que AI Steve não foi concebida para substituir deputados por inteligência artificial. Em vez disso, é uma mera “ferramenta” que os políticos podem utilizar para se tornarem melhores representantes dos interesses dos seus eleitores.
“Este IA não pode substituir deputados. Esta é uma ferramenta que os deputados podem utilizar para melhorarem e representarem o seu eleitorado. Não pretendemos tomar decisões por computador”, explicou.
Inteligência artificial irá preencher a lacuna entre políticos e sociedade?
Embora a candidatura de AI Steve possa ser pouco convencional, a sua premissa subjacente atinge o cerne de uma questão fundamental nas democracias modernas. Logo, a desconexão percebida entre os políticos eleitos e as necessidades dos seus eleitores. Assim, ao alavancar a tecnologia de IA, Endacott pretende criar uma linha direta de comunicação entre os eleitores e os seus representantes. Ou seja, garantindo que as políticas refletem verdadeiramente a vontade do povo.
“Certamente, numa democracia, é isso que os seus eleitores querem”, afirmou Endacott. “Eu sei que parece óbvio que um político deva ser informado pelos seus eleitores sobre o que fazer. No entanto, isto nem sempre é o caso. Uma vez que os políticos estão muitas vezes em dívida com um determinado grupo (muitas vezes doadores) acima do seu eleitorado.
Portanto, se o AI Steve conseguir ganhar um assento no Parlamento do país, Endacott servirá como o seu representante físico, participando nas sessões e votando de acordo com as políticas moldadas pelas interações do chatbot com os seus constituintes. Ou seja, a vontade dos eleitores jamais pode cair no esquecimento nesse aspeto.
Assistentes gerados por inteligência artificial são o futuro da política?
Sem dúvida alguma que uma improvável vitória para AI Steve certamente abriria uma conversa sobre como o cenário político sofreria uma transformação com a tecnologia. Embora alguns vejam isto como um mero golpe publicitário, Endacott vê-o como uma tentativa genuína de mudar a forma como o sistema funciona atualmente. Isto ao mesmo tempo que incita uma discussão muito necessária sobre a forma como os políticos interagem com as pessoas que votam nestes.
“É preciso pôr de lado a nossa política pessoal, o nosso próprio ego e realmente fazer o que os nossos eleitores querem. Ora, o que é bastante radical na política”, sublinhou Endacott.
Além disso, esta experiência levanta questões interessantes sobre como os assistentes de IA têm utilidade para promoverem um melhor relacionamento com os eleitores e políticos que tiveram aprovação. Ao aproveitar o poder dos grandes modelos de linguagem (LLMs) e ferramentas como ChatGPT ou Claude, os políticos poderiam conseguir treinar chatbots sofisticados para responderem prontamente às preocupações destes grupos.
Será esta solução de inteligência artificial na política viável em 2024?
A verdade é que os os críticos manifestaram as suas preocupações sobre o potencial dos sistemas de IA como alvo de manipulação ou influenciados por preconceitos. Ou seja, destacando a necessidade de se implementar salvaguardas robustas e transparência no desenvolvimento e implantação de tais tecnologias. Isto para ajudar líderes que têm papéis muito influentes na sociedade.
Vale a pena realçar que as eleições de 4 de julho estão próximas e AI Steve já faz parte da votação. Embora o seu nome tenha sido escrito incorretamente como “Steve AI”. Logo, será que poderá mudar a política, incorporando IA no momento de decisão?
Eleições presidenciais nos EUA também serão afetadas pela IA?
Como se percebeu acima, a inteligência artificial (IA) já está a ter impacto na política. Contudo, será que também terá nas próximas eleições nos EUA, bem como outras disputas políticas em todo o mundo? Grande parte do diálogo público centra-se na capacidade da IA para gerar e distribuir informações falsas. Portanto, os responsáveis governamentais estão a responder, propondo regras e regulamentos destinados a limitarem os efeitos potencialmente negativos da tecnologia.
No entanto, permanecem questões relativas à constitucionalidade destas leis, à sua eficácia na limitação do impacto da desinformação eleitoral. Bem como às oportunidades que a utilização da IA apresenta. Tais como o reforço da segurança cibernética e a melhoria da eficiência da administração eleitoral.
O que os especialistas em política consideram face ao impacto da IA?
Embora os americanos sejam amplamente a favor de que o Governo tome medidas em relação à IA. A verdade é que não há garantia de que as restrições irão reduzir ameaças potenciais. Assim, já é aceite que esta tecnologia de inteligência artificial veio para ficar. Por isso cabe aos líderes e cidadãos adaptarem-se à sua utilização, sem procurarem proteção através de regras e regulamentos governamentais que podem não atingir o objetivo pretendido.
Em suma, do ponto de vista eleitoral, estes avanços na tecnologia de IA provavelmente terão impacto. Tais como: no ambiente geral da informação, na segurança cibernética e nos processos administrativos. Embora esta tecnologia emergente tenha chamado a atenção em grande parte pelos seus riscos, como descrevemos acima, também existem benefícios potenciais em beneficiar a IA no nosso ambiente eleitoral e de decisão política.