Na semana que passou, a UE tornou-se a segunda maior economia global a reduzir a sua taxa de juros na zona Euro, afirmando ter feito progressos no combate à inflação. Como tal, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou um corte na sua principal taxa de juro, de um máximo histórico de 4% para 3,75%. Porém, é importante notar que os mercados previam uma redução mais substancial, como forma de aliviar o esforço das famílias europeias face aos elevados juros nos crédito à habitação.

De facto, é importante salientar que este anúncio seguiu-se à decisão do Canadá, na passada quarta-feira. Esta que também pretende reduzir a sua taxa de empréstimo oficial. Além disso, esta medida do BCE ocorreu num momento em que os eleitores se dirigiam às urnas para as eleições a nível da UE. Ainda que em Portugal os Resultados das Europeias tenham refletido bastante as decisões eleitorais, é importante avaliar como tal medida pré-eleições poderá ter influenciado votos a favor de partidos pró-União Europeia ou de sentido contrário.

Como a BCE justifica o primeiro corte nos juros, desde 2019?

Ora, como forma de justificar esta decisão, Christine Lagarde, a Presidente do BCE, garantiu que as perspetivas para a inflação melhoraram “sensivelmente”, abrindo caminho para o corte das taxas. No entanto, Lagarde alertou que a inflação provavelmente permanecerá acima da meta de 2% nos Bancos “até ao próximo ano”. Ou seja, com média de 2,5% em 2024 e 2,2% em 2025. Logo, como tal irá influenciar os empréstimos bancários dos europeus, com maior relevância para os portugueses?

Acima de tudo, estima-se que o BCE mantenha política de taxas de juro “suficientemente restritiva durante o tempo que for necessário”. Isto como forma de reduzir a inflação para a meta de 2% do Banco. No entanto, Lagarde acrescentou:

“Não estamos a comprometermo-nos previamente com uma trajetória de taxas específica”.

Como os especialistas reagiram a esta medida inédita em 5 anos na zona Euro?

Desde logo, Lindsay James, estrategista de investimentos da conceituada “Quilter Investors”, garantiu que o corte das taxas foi amplamente esperado. Contudo mesmo assim, seria um alívio para os consumidores e empresas no continente existir uma medida mais substancial.

“O BCE acelerou a marcha ao Banco de Inglaterra e à Reserva Federal [dos EUA] – que ainda estão potencialmente a alguns meses de distância de um corte semelhante. Poderá assim dar vida a uma economia que precisa desesperadamente de alguma forma de estímulo”, garantiu esta especialista.

Opiniões não são consensuais – Qual é o Real Impacto Económico deste Corte?

Banco Central Europeu anuncia nova subida de 0,5% nas taxas de juro

Em contrapartida, para outros especialistas, de um ponto de vista macroeconómico, a redução da taxa de juro de 0,25 pontos percentuais, do Banco Central Europeu, a 6 de junho, não foi necessária. Isto tendo em conta os mercados de trabalho restritivos, bolsas de excesso de procura e contínuos estrangulamentos na oferta. Ao que tudo indica, o BCE espera uma nova recuperação económica, ainda que o desemprego na área do euro, de 6,4% em abril, é o mais baixo em décadas. A política fiscal está longe de ser restritiva.

Tomado isoladamente, o corte nas taxas é pequeno demais para se preocupar. Mas poderão surgir problemas se ganhar terreno a ideia de que uma maior flexibilização está a caminho. Embora Christine Lagarde e Joachim Nagel, os presidentes do BCE e do Deutsche Bundesbank, tenham alertado contra as expectativas de novos cortes rápidos, podem esperar-se divisões no Conselho do BCE sobre os próximos passos. Lagarde merece elogios por ter forjado a coesão em circunstâncias complexas, mas traçar o rumo a partir de agora será repleto de dificuldades.

Especialistas apontam responsabilidades para a Presidente do BCE

Vale a pena mencionar que Lagarde afirmou repetidamente que as decisões de política monetária serão tomadas “com base nos dados” – “mês a mês e passo a passo”. Contudo, tendo em conta os últimos valores da inflação, estas condições parecem ter sido apenas parcialmente satisfeitas. A política monetária parece novamente mais dependente de expectativas e interpretações flexíveis de dados passados do que dos números concretos mais recentes.

Uma questão subjacente é que uma taxa de juro real positiva pode ser altamente desejável nas circunstâncias atuais e futuras. Existe ainda uma aspiração profundamente enraizada, construída ao longo de várias décadas, pelas taxas de juro mais baixas possíveis. Logo, será que o BCE tomou a melhor decisão nesta fase?

Economia Europeia apresenta novos desafios em 2024

Perante a avaliação de diferentes métricas, os problemas fundamentais da economia europeia (e de alguns países europeus em particular) nada têm a ver com o atual nível das taxas de juro. Em contrapartida, têm causas completamente diferentes, como a estagnação do crescimento da força de trabalho e o lento crescimento da produtividade.

Assim, a verdadeira questão é como manter o crescimento do produto interno bruto per capita. Isto a um nível suficientemente elevado. Ora, tal requer políticas centradas na tecnologia e nos mercados de trabalho. Os cortes nas taxas de juros têm muito pouco impacto sobre isso.

O que é o ‘Território restritivo’ europeu, referenciado pelo BCE?

BCE confirma corte das taxas de juro. O que muda?

Na verdade, as expectativas foram alimentadas, muito antes do corte das taxas de juro, por uma entrevista com Philip Lane, membro do conselho de economia do BCE. Isto quando disse que, dentro do atual “território restritivo”, havia espaço em 2024 para mais cortes nas taxas de juro.

Assim, ao indicar que a taxa de política neutra (nominal) se situa ligeiramente acima de 2% (ou mais, se a transição climática ou o progresso na inteligência artificial exigirem investimentos elevados), Lane quantificou o conceito de “território restritivo”. Logo. introduziu uma espécie de orientação futura que, noutras declarações, o BCE renunciou. Portanto, a sua declaração tornou praticamente impossível para o Conselho do BCE decidir de forma diferente neste passado dia 6 de junho. Não havia como voltar atrás, embora a 31 de maio a inflação tenha sido superior ao esperado.

Pressão sobre preços e salários na Europa em 2024?

Balanço das perspetivas económicas na Europa para 2024 e mais além

De acordo com as projeções atualizadas do BCE, a estabilidade de preços será agora alcançada um ano mais tarde (em 2026) do que o previsto. isto em março de 2024. Dado que a inflação global e a inflação subjacente subiram novamente no último mês, é demasiado fácil dizer que se trata apenas de “solavancos na estrada”, segundo os analistas. Embora as pressões sobre os preços tenham enfraquecido, a inflação interna permanece elevada, especialmente no setor dos serviços.

No que diz respeito aos salários, o BCE parece assumir que os efeitos de “recuperação” – após o período prolongado de compressão dos salários reais – já terminaram. Contudo, o os salários continuam a subir a um ritmo elevado. Como tal, a dimensão e a duração dos efeitos de segunda ordem são difíceis de estimar no contexto de um mercado de trabalho restrito.

Inflação com enorme impacto nos Preços e Subida de Salários

Além de tudo isto, é provável que a pressão sobre os preços e os salários permaneça relativamente elevada nas nossas economias em crescimento lento, que enfrentam exigências crescentes. Isto como preocupações ambientais, alterações demográficas, desglobalização, IA e conflitos internacionais.

Assim, do ponto de vista da gestão do risco, o BCE precisará de levar mais a sério a sua alegada abordagem de dependência de dados. Antes de tomar medidas, o BCE teria sido sensato em procurar maior certeza relativamente à situação macroeconómica, incluindo a evolução dos salários e dos preços. Portanto, a 6 de junho, Lagarde fundamentou a decisão sobre a taxa de juro referindo-se à fiabilidade das recentes previsões de inflação do BCE. Porém, os analistas apontam que o BCE deveria ter sido bastante mais cauteloso.

Taxas de juro elevadas são normais nos ciclos dos mercados?

Era das taxas de juros negativas chega ao fim | Moedas e Juros |

Segundo especialistas de mercados financeiros, será amplamente percebido que as taxas de juros estão atualmente elevadas. Contudo, isto deve-se principalmente ao facto de termos vivido um período muito longo de taxas de juro baixas. As economias também podem prosperar durante períodos de taxas de juro nominais elevadas e reais positivas.

Além disso, as baixas taxas de juro reais podem causar ou agravar distorções na economia, tais como preços excessivamente elevados dos ativos e manter vivas empresas “zumbis”, o que atrasa os ajustamentos estruturais necessários. Por outro lado, taxas de juro baixas, durante longos períodos, podem ter um impacto igualmente negativos, tais como:

  1. Diminuir a produtividade a uma perspetiva de longo prazo.
  2. Taxas de juro médias sobre novos empréstimos e hipotecas são muito mais elevadas do que nos últimos anos.
  3. Baixa lucratividade para os sistemas bancários.

O que fez a taxa de juro ter disparado em 2022?

Acima de tudo, perante o avaliado acima, percebe-se que os Bancos Centrais mantiveram as taxas elevadas nos últimos dois anos para reduzirem a taxa de subida dos preços. Isto com a maioria a visar uma taxa de inflação anual de 2%. Esta meta foi praticamente atingida na zona Euro este mês. Porém, como se percebe, essa meta de 2% só deverá reduzir-se apenas no início do próximo ano. Ou seja, desacelerando as previsões do início de 2024, levando a um maior cuidado nos cortes desta taxa de juro.

Contudo, taxas de juro mais elevadas tendem a travar o crescimento económico. Daí todo o escrutínio que se verifica pelos especialistas. Por outro lado, uma redução nas taxas de juro deverá impulsionar a atividade económica, tornando mais barato o empréstimo para os consumidores e as empresas. Algo que é desejado por muitos portugueses.

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