Perante novos desafios e problemas, a Europa atravessa uma fase desafiadora no seu desenvolvimento económico. Tendo em conta as incertezas globais, as exigências tecnológicas e as tensões geopolíticas, o continente enfrenta um dos seus períodos mais exigentes das últimas décadas. Ao ponto de várias lideranças europeias já questionarem a força de instituições enraizadas, como é o caso da União Europeia.
De tal forma que, segundo vários especialistas, a Europa deverá agora reposicionar a sua economia e desenvolver estratégias preparadas para o futuro. Ao mesmo tempo, espera-se que estes desafios exijam uma reavaliação das abordagens tradicionais. Assim, acredita-se que a Europa deva aproveitar os seus pontos fortes em inovação e desenvolvimento tecnológico não só para competir com outras grandes economias, como os EUA e a China, mas também para assumir um papel de liderança na nova ordem económica global.
Estudo recente aponta os maiores desafios para a Europa em 2024
De facto, num estudo recente, a consultora de gestão McKinsey analisou 7 desafios prementes para a competitividade da Europa. Ora, destaca-se, desde logo, a introdução deste estudo, que começa com as seguintes palavras, que também destacam a sua relevância para a Europa:
“Os tempos turbulentos expuseram novas vulnerabilidades nas economias europeias. Abordar estas questões poderá ser o catalisador para uma nova onda de competitividade e crescimento.”
Primeiro ponto – Concentrar-se novamente na inovação tecnológica
É importante notar que o estudo destaca o modelo industrial tradicional da Europa, afirmando que esta está sob pressão devido à aceleração da disrupção tecnológica. Portanto, setores estabelecidos, como as indústrias automóvel, aeroespacial e farmacêutica, serão particularmente afetados. Isto porque, todos estarão expostos a uma forte concorrência global.
Embora a Europa esteja na vanguarda das próximas gerações de materiais e tecnologias limpas, ainda há espaço para recuperar o atraso em tecnologias essenciais. Isto como a inteligência artificial e a computação quântica. Aliás, tal reflete-se nos investimentos:
- Em 2023, 23 mil milhões de dólares foram canalizados para tecnologias de IA nos EUA.
- Enquanto a Europa investiu apenas 1,7 mil milhões.
Em conclusão a esses números, segundo a McKinsey, para permanecer competitiva, a Europa deverá duplicar os seus orçamentos de investigação e desenvolvimento e fazer investimentos estratégicos em áreas promissoras. Até porque o IA e a sua respetiva tecnologia deverão marcar este o próximo ano. Ou seja, a Europa não poderá dar-se ao “luxo” de ficar para trás.
Diversificação energética e desenvolvimento de fontes naturais
Além de tudo isto, o estudo sublinha a necessidade de a Europa garantir um abastecimento de energia suficiente e acessível. A fim de manter competitivas as indústrias com utilização intensiva de energia, como a agricultura, a química, o aço e o transporte marítimo.
Ora, um objetivo ambicioso aqui poderia ser reduzir para metade os custos da eletricidade e do gás. Contudo, o progresso nas energias renováveis é impressionante: em 2022, 22% da eletricidade na UE-27 provinha da energia eólica e solar. Isto em comparação com apenas 6%, em 2010. Assim, a ligação a novos fornecedores de energia poderia criar novas dependências. Enquanto um regresso à energia doméstica poderia criar novas dependências. Isto porque a produção de combustíveis fósseis contrariaria os compromissos ambientais da Europa.
De salientar ainda que a polémica fusão nuclear ainda não está disponível comercialmente. Segundo os analistas, a questão aqui é saber quais as fontes de energia que a Europa poderá introduzir rapidamente e que financiamento poderá permitir a transição para alternativas comercialmente viáveis. Além da maior expansão das energias renováveis, as medidas propostas incluem investimentos em fontes de energia de baixo custo e inovações para reduzir custos. Bem como a gestão de sistemas energéticos novos e existentes.
Custos de capital e dinâmica de investimento na Europa
Atualmente, a Europa enfrenta custos de capital crescentes, destacando retornos mais baixos e lacunas de investimento em comparação com os EUA. Aliás, durante a era de taxas de juro baixas, o retorno sobre o capital 20% inferior das empresas europeias, em comparação com as empresas norte-americanas, era um problema menor. Contudo, com as taxas de juro agora a subir e o grande capital necessário para fazer a transição para emissões líquidas zero e apoiar a inovação, as empresas europeias enfrentam o desafio de repensarem as suas estratégias de investimento.
Além disso, a Europa tem, tradicionalmente, investido menos em novas empresas do que os EUA. Os mercados de capitais europeus têm fundos significativamente mais baixos em capital privado e capital de risco. Portanto, para ultrapassar esta situação, a Europa poderia reforçar as suas estruturas do mercado de capitais e fazer uma melhor utilização dos fundos de pensões para investir em projetos orientados para o crescimento.
Nova medida – Diversificar e reforçar as cadeias de abastecimento europeias
Num mundo cada vez mais fragmentado, a Europa poderá ter de trabalhar mais para garantir o acesso a um abastecimento seguro e sustentável de materiais estrategicamente importantes. De tal forma que uma estratégia poderia ser diversificar ainda mais os fornecedores globais. Pese embora se deva ter cautela se estes vierem de mercados geopoliticamente desalinhados.
Outra possibilidade, segundo a McKinsey, seria desenvolver novas fontes domésticas. Mesmo que existam preocupações ambientais sobre a extração de minerais críticos como o lítio, o cobalto e a grafite. Assim, várias medidas visam produzir internamente pelo menos 10% do consumo anual de materiais importantes da UE e processar pelo menos 40% na UE até ao final da década. No entanto, alcançar estes objetivos representa um desafio, especialmente devido aos elevados custos energéticos na Europa.
Necessidade de desenvolvimento de talentos e adaptação tecnológica europeia
Na Europa, a rápida reciclagem e reposicionamento da força de trabalho também é fundamental para acelerar a adoção da tecnologia e a transição para emissões líquidas zero. Cerca de 18 milhões de trabalhadores terão de assumir novas funções como parte da transição para emissões líquidas zero. Assim sendo, a automação e outras tendências tecnológicas conduzirão a mudanças ainda maiores nas funções e atividades de trabalho necessárias para concretizar todo o potencial de melhoria da produtividade das novas tecnologias.
Além da requalificação, é, portanto, crucial desenvolver e atrair os melhores talentos. Especialmente em áreas líderes como a IA. Os decisores políticos europeus também poderiam expandir os acordos de comércio livre para acordos de “livre circulação de talentos” ou introduzir incentivos fiscais para imigrantes e talentos que regressam.
Segundo o mesmo estudo, as empresas poderão trabalhar com instituições educativas e decisores políticos em programas de reconversão profissional e na criação de novos planos de carreira. Isto especialmente para trabalhadores no meio de carreira, que necessitam ou desejam preparar-se para novas áreas de trabalho e para os desafios que IA e novas estruturas de trabalho irão apresentar num futuro próximo.
Ter como objetivo escalar a economia fragmentada da Europa
Embora a economia da Europa seja comparável às economias dos EUA e da China, com um volume de cerca de 21 mil milhões de dólares em 2022, a Europa continua fragmentada, segundo este mesmo estudo. Ora, tal torna difícil para as empresas europeias crescerem de forma eficaz. A receita total de todas as empresas cotadas na Europa com mais de mil milhões de dólares em vendas foi de 12 mil milhões de dólares, em comparação com 18 mil milhões de dólares nos Estados Unidos.
Isto faz com que empresas de setores como as telecomunicações, aeroespacial e defesa gerem 30% menos receitas por empresa do que as suas congéneres norte-americanas. Além disso, a avaliação das principais empresas europeias é significativamente mais baixa em comparação com as suas congéneres norte-americanas. Isso os torna mais vulneráveis a aquisições. Apesar de alguns sucessos, como Northvolt, Doctolib e Bolt, a Europa abriga apenas 13% dos unicórnios do mundo. Em contraste, nos EUA é de 50%. Isto já mostra enormes diferenças nas empresas potencialmente bem-sucedidas de amanhã.
O futuro irá ditar maior concorrência, levando a regulação do mercado na Europa?
Não restam grandes dúvidas que existe uma corrida global para assumir a liderança em áreas de crescimento dinâmico, como a IA e as novas energias. Outras economias já estão a conceber e implementar políticas, que atraem investimento e impulsionam a inovação nestas áreas. Dessa forma, para acompanhar o ritmo, os estrategas da McKinsey garantem que a Europa precisa de repensar a sua abordagem ao financiamento, à regulação e à governação. Algo que já deverá estar na mente dos decisores políticos da Comissão Europeia.
Por isso mesmo, o debate na regulamentação é se a Europa deverá continuar a adoptar uma abordagem cautelosa ou permitir uma maior assunção de riscos. Isso tornaria possível aproveitar oportunidades em rápida evolução, um pouco como já acontece dentro do mercado mais pró-risco americano. Como tal, a Europa também poderia reduzir os encargos administrativos e os prazos de aprovação para dar mais flexibilidade às empresas. Ou seja, dinamizar todo o seu tecido empresarial, motivando-o num maior investimento tecnológico e expansão global.