Recessão em 2024? Eis como 70% dos CEOs reagem a essa possibilidade

Teremos uma forte recessão já em 2024? Mais do que nunca, esta é uma questão que está presente não só entre investidores, mas também empresas e os seus CEOs. Sabendo-se que, na União Europeia, o BCE respondeu à inflação galopante com aumentos severos das taxas de juro, o que acontecerá com a descida dessas taxas? Até que ponto os CEOs das principais empresas nacionais e internacionais estão preparados para uma reversão de ciclo?

Novo estudo falou diretamente com os CEOs

De facto, um novo estudo, realizado pela empresa de pesquisas EY, revelou grandes preocupações em termos de uma potencial recessão, por parte dos responsáveis pelas Empresas. Na verdade, mais de 70% dos CEOs entrevistados esperam pouco ou nenhum crescimento em 2024. Logo, rapidamente tal recessão ou não crescimento levará a que as próprias “balance sheets” não sejam tão promissoras como esperado. Assim, como será a resposta dos investidores a tal potencial regressão?

Atualmente, acredita-se que problemas estruturais e de pressão financeira estão a pesar sobre a economia europeia e a obscurecer as previsões para 2024. Mas que soluções as empresas tentam agora encontrar?

Preocupação com a economia global, na perspetiva das grandes empresas

Ora, neste inquérito recente da EY, os CEOs, tanto em Portugal como a nível internacional, estão cautelosos quanto às perspectivas económicas globais. De acordo com analistas da EY, 76% dos CEO globais acreditam que o crescimento económico poderá estagnar ou mesmo diminuir em 2024.

Além disso, os mesmos CEOs também se referem à expectativa de juros elevados e inflação persistentes como grandes entraves à sua confiança. Esta avaliação foi partilhada por uma grande proporção dos inquiridos. Contudo, apesar destas preocupações macroeconómicas, existe pelo menos um tom mais optimista entre os CEOs, quando se trata do futuro das suas próprias empresas. Eis as percentagens alcançadas dos responsáveis inquiridos:

  • 64% dos CEO em todo o mundo estão otimistas quanto ao futuro e esperam um crescimento das vendas
  • Enquanto apenas uma minoria de seis por cento teme um declínio.

Porém, ao nível português, os CEOs parecem ser mais cautelosos:

  • Aqui apenas 51% dos gestores de empresas esperam um desenvolvimento positivo das vendas.
  • 17% esperam mesmo um declínio nas vendas.

Qual o impacto nas margens das grandes empresas?

É importante notar que os resultados sobre a rentabilidade das empresas portugueses poderá ser mais um sinal de uma potencial recessão. Aliás, a avaliação do desenvolvimento das margens entre os CEOs portugueses é particularmente crítica.

Numa comparação global, apenas 7% dos CEO esperam que as margens de lucro se deteriorem. Enquanto em Portugal esta proporção sobe para 18%. Ainda, nos EUA, apenas 5% dos líderes empresariais veem margens reduzidas, na Grã-Bretanha é apenas dois por cento e na China apenas um por cento dos executivos são confrontados com este cenário. Assim, as empresas portuguesas estão piores posicionadas.

O estudo afirma que este sentimento entre os CEOs nacionais também está relacionado com a forte internacionalização das suas empresas. O que as torna particularmente vulneráveis às tensões geopolíticas – o lado negativo da globalização.

Como a globalização poderá contagiar uma recessão em escala?

Na verdade, os especialistas da EY também afirmam que existe um pessimismo generalizado com esta componente. O inquérito aos CEO deixou particularmente claro que as empresas sofrem de falta de rentabilidade:

“As esperanças de uma recuperação económica foram em grande parte frustradas. Vivemos uma fase de estagnação económica com elevados riscos geopolíticos. As empresas europeias, em particular, enfrentam atualmente uma fraqueza significativa na procura e, ao mesmo tempo, custos elevados. O clima em quase nenhum outro país é atualmente tão mau, quanto na Europa.”

Preocupação alemã contagiará toda a Europa?

Outrora aclamada como o motor de crescimento da União Europeia, a Alemanha enfrenta agora a reputação de ser o país problemático da UE. De facto, uma variedade de problemas caseiros pesam fortemente na economia do país.

Um dos principais pontos de crítica da EY está na falta de estímulos económicos, que possam promover a recuperação económica. Em vez disso, existe muita incerteza entre as empresas, causada por orientações políticas e condições estruturais em constante mudança. Esta volatilidade leva à falta de segurança no planeamento, o que é visto como um obstáculo às decisões de investimento a longo prazo.

Além disso, a burocracia alemã é motivo de preocupação para os analistas. Estas estruturas teriam de ser atenuadas através de uma digitalização abrangente das autoridades e da administração. Isto a fim de finalmente acelerarem os processos de tomada de decisão e aprovação.

No entanto, houve pouco progresso nesta área na Alemanha, durante décadas. Isso leva a uma enorme frustração entre os CEOs. Como resultado, muitos estão cada vez mais a transferir os seus investimentos para o estrangeiro, onde encontram um ambiente mais favorável aos negócios.

Como estas questões levantam dúvidas a novas aquisições?

Tendo em conta as perspectivas económicas incertas e as taxas de juro persistentemente elevadas, muitas empresas estão a afastarem-se dos investimentos planeados. Especialmente das compras e vendas de empresas que teriam de financiar com capital emprestado. Atualmente, apenas 30% das empresas pesquisadas em todo o mundo pretendem realizar uma fusão ou aquisição nos próximos 12 meses – uma diminuição significativa em comparação com pesquisas anteriores. Portanto, as atividades de fusões e aquisições deverão continuar a diminuir acentuadamente em 2024. Na Alemanha esta proporção caiu mesmo para 20 por cento.

Em contraste, as parcerias estratégicas estão a tornar-se cada vez mais importantes. Isto porque muitas vezes significam custos mais baixos e compromissos de capital mais flexíveis, em comparação com transações de fusões e aquisições.

Será que a perspetiva imobiliária também está afetada em 2024?

Somando a todas estas conclusões, no seu último estudo sobre o setor imobiliário, os especialistas da EY apontaram que o mercado de investimento imobiliário sofreu um declínio em 2023. Isto marca o segundo ano consecutivo em que houve um declínio, contrariando as tendências. Os volumes de transações caíram para níveis vistos pela última vez há mais de uma década. Em 2023, o volume ascendeu a 29,3 mil milhões de euros, o que correspondeu a uma nova diminuição de 56 por cento face ao ano anterior.

Curiosamente, os resultados da pesquisa do estudo mostram o seguinte:

  • Apenas 25% dos entrevistados esperam um declínio adicional no volume de transações em 2024. Isto em comparação com 80% no ano anterior.
  • Cerca de 45% dos especialistas esperam que o mercado se estabilize.
  • Enquanto quase um terço prevê mesmo um aumento na atividade do mercado.

Isto pode significar que o fundo do poço está cada vez mais próximo, mas estes resultados não inspiram muita imaginação.

Preços continuam a cair: existe a necessidade de reconstrução?

As conclusões do estudo mostram que uma esmagadora proporção dos investidores inquiridos, nomeadamente 92%, espera novas desvalorizações do imobiliário. Além disso, 93% dos inquiridos acreditam que a oferta de imóveis, que necessitam de reconstrução, aumentará. Estas tendências apontam para um mercado imobiliário em mudança, no qual os investidores podem encontrar oportunidades de compra mais baratas, mas também enfrentam riscos maiores.

Além disso, o estudo indica que os detentores de carteiras ricas em ações são atualmente mais propensos a concentrarem-se na gestão de ativos. Isso significa que se concentram em agregar valor e gerenciar de forma eficiente os seus ativos imobiliários existentes, em vez de fazer novas aquisições.

Segundo a EY, espera-se que os investidores, com foco oportunista ou de agregação de valor, formem o grupo de compradores mais ativo nesta fase do mercado. Aliás, 82% dos inquiridos partilham esta opinião. Até porque os investidores, com uma abordagem oportunista ou de valor acrescentado, procuram normalmente propriedades subvalorizadas ou propriedades que necessitam de melhorias, a fim de renovarem, reestruturarem ou torná-las mais eficientes e, assim, aumentarem o seu valor.

Tudo depende das taxas de juros?

“Tudo depende das taxas de juro” – esta visão está claramente refletida na avaliação atual dos investidores sobre o mercado imobiliário. Apesar dos efeitos contínuos das alterações demográficas, os participantes no mercado continuam a identificar a evolução das taxas de juro como o fator decisivo para 2024.

Contudo, cerca de três quartos dos inquiridos não esperam que as taxas de juro subam ainda mais no próximo ano. Como resultado da inversão das taxas de juro, questões como as alterações climáticas e a digitalização perderam temporariamente a sua urgência. De tal forma que o mundo imobiliário está a olhar para o BCE e espera uma mudança em breve. Porém, apenas uma descida significativa das taxas de juro irá provavelmente encorajar uma reviravolta neste mercado.

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