ESG é uma sigla que designa: Environmental, Social, Governance. Ou seja, é um tipo de produto financeiro considerado responsável em relação aos desafios da nossa vida moderna. Dentro desta categoria encontramos ações e ETFs de energia verde, de soluções para uma transição económica mais sustentável, de apoio às populações locais, entre outras iniciativas.
Esta abordagem da finança a um mundo cada vez mais complexo do ponto de vista do clima e das desigualdades é controversa. Isso porque por vezes é visto como green washing ou pura especulação. E, além das críticas de agentes da indústria, também tem recebido iniciativas de regulação que retiram atratividade destes produtos. Explicamos-lhe em maior detalhe o que são ESG e como funcionam.
Qual é a ideia por traz dos ESG?
ESG é já um chavão bem instituído no setor financeiro. Destina-se a quem tem preocupações de “investimento sustentável”, como a Apple que anunciou o corte nas emissões de gases com efeito de estufa. De modo geral, o objetivo é alcançar impacto social positivo ao promover empresas com valores de sustentabilidade e de gestão de riscos existenciais (como o problema das alterações climáticas).
O historial dos produtos ESG é longo. Surgiu há mais de vinte anos por representantes das Nações Unidas de modo a incrementar o financiamento de indústrias estratégias para o progresso mundial. O argumento era o de que as empresas que incorporam medidas risco ESG no seu modelo de negócios contribuem com uma pegada carbónica reduzida. Ao responder às lutas salariais dos trabalhadores e agilizar processos de governança, o financiamento também passaria a ser mais fácil. Essa análise ESG das empresas seria compatível com as responsabilidades fiduciárias dos investidores, segundo diziam.
Como evoluiu o conceito de ESG?
À medida que as noções em torno do ESG vêm evoluindo, trouxe vagas de investimento a novas empresas que demonstravam níveis de responsabilidade social e ambiental superiores. Mas também o próprio conceito se foi transformando. Inicialmente, o ESG estava diretamente implicado com ações de energia verde. Mas hoje também é uma categoria de fundos indexados a negócios do petróleo. Ou a empresas de países que poderíamos designar como tendo democracias frágeis ou sendo autocracias.
Até mesmo a Arábia Saudita, um país que não é tido como um exemplo de governação ou democracia, já tem empresas que se podem considerar ESG. Isso por cumprirem com os princípios de sustentabilidade. E é por isso que o modelo de risco que o ESG quer resolver começa a levantar contestação. Especialmente numa altura em que os desafios mais importantes a que as empresas devem responder são riscos sistémicos globais:
- Os eventos de clima extremo, fruto da ação humana na libertação de gases com efeito de estufa.
- As greves laborais e o sindicalismo de uma massa crescente de trabalhadores descontentes com as condições de trabalho.
- A responsabilidade das empresas com os ecossistemas sociais e ambientais locais e regionais.
Qual é a dimensão dos produtos financeiros ESG?
As estimativas variam, mas só esta classe de ativos sozinha ultrapassa a dos criptoativos. Estima-se em cerca de $ 3 triliões no final de 2023. Estes são dados da Morningstar Inc., pelo que é possível testemunhar a sua extrema relevância no âmbito dos investimentos financeiros globais.
Que críticas têm vindo a receber as empresas ESG?
Só nos Estados Unidos, alguns responsáveis regulatórios já se referiram aos esforços em torno do ESG como “woke”. Dizem que elas privilegiam valores liberais ao invés de dirigirem o seu modelo de negócios para práticas financeiras saudáveis e escaláveis.
Exemplo disso é o governador da Flórida, Ron DeSantis. Mas também alguns reguladores do Estado do Texas e investidores de peso que decidiram retirar fundos públicos da BlackRock Inc. por ela estar de acordo com as causas ESG.
Os Estados Republicanos nos Estados Unidos introduziram, inclusivamente, legislação anti-ESG. O objetivo é demover quaisquer empresas de orientar modelos de negócio em torno destes princípios de sustentabilidade. Em grande medida, essa tentativa de regulação falhou porque apresenta limitações do ponto de vista da iniciativa privada.
Os ataques estatais e oficiais ao ESG já lançaram ondas de choque sobre o mercado bolsista. Levou bancos e firmas de investimento a recusaram associações a empresas e clientes que sigam práticas ESG.
É de notar que em julho de 2023 houve uma série de catástrofes ambientais a assolar os EUA. Nomeadamente no que respeita a incêndios florestais de grande dimensão e ondas de calor. Esses eventos anormais nos EUA não passam despercebidos aos líderes políticos. Por isso, organizações sindicais e movimentos cidadãos estão a tentar recuperar o ESG como um conjunto de valores fundamentais a implementar numa economia responsável.
Qual tem sido o desempenho das empresas ESG nos últimos anos?
2023 foi um ano de enorme turbulência para todo o setor empresarial e financeiro. Fruto da guerra no leste da Europa que foi originada pela invasão do território ucraniano pela Rússia. Por um lado, isso fez explodir o preço dos produtos energéticos, nomeadamente o petróleo. Por outro, os fundos ESG sofreram um abanão e encontram-se ainda a recuperar valor.
De acordo com todos os benchmarks de mercado, os fundos ESG tiveram um desempenho aquém das expectativas. Vejamos alguns exemplos:
- Na Europa, o maior mercado para fundos ESF: eles valorizaram em média 16% em 2023. O que compara com a subida de 24% no índice MSCI World, e com os 16% de subida no índice STOXX Europe 600.
- Ainda assim, e considerando a evolução de preços desde 2019, os ativos ESG continuam a apresentar um bom desempenho. E demonstram ser promissores para quem procura uma aposta especulativa em empresas com responsabilidade social e ambiental.
O que está a fazer a regulação relativamente aos ESG?
Adoutou-e a categoria ESG para produtos financeiros tão diversos como fundos mutualistas e produtos financeiros derivados. Porém, os reguladores europeus e norte-americanos frequentemente apontam os dedos às supostas empresas ESG que muitas vezes exageram nas práticas ESG. E procuram posicionar-se como mais adequadas a esses valores e princípios do que realmente são.
Veja um historial representativo de iniciativas de regulação associadas a ESG:
- Em setembro de 2023, a SEC norte-americana adotou um regulamento que exige que 80% dos investimentos de um fundo devam representar a missão de investimento expressa nos seus princípios. Em 2022, a SEC começou a processar várias empresas e organizações de interesse público, como um banco de Nova Iorque chamado Mellon Corp., devido a credenciais ESG que eram indevidas dado o portfólio e atividade financeira efetiva.
- O fundo de investimentos alemão DWS, ligado ao banco Deutsche Bank, aceitou pagar uma indemnização de $25 milhões para resolver um caso levantado pela SEC relativo a greenwashing e à falta de controlo em atividades de combate à lavagem de dinheiro.
- Revisões recentes a regulamentos europeus levaram a que alguns gestores de fundos tenham sido obrigados a deixar cair a classificação ESG dos seus negócios, representando um universo financeiro que ascende a €200 biliões de euros indevidamente classificados.
Os investimentos sustentáveis fazem alguma diferença?
Alguns investidores e académicos têm vindo a queixar-se de que o chamado investimento em iniciativas corporativas sustentáveis tem menor impacto do que o sugerido. Claro que isso não é isento de alguma injustiça, já que algumas empresas de facto apresentam melhorias nos salários pagos e no combate às desigualdades, sujeitam-se a auditorias sobre bem-estar e justiça na empresa, e reduzem o uso de plásticos. Também já saíram notícias de grandes empresas energéticas como a Exxon Mobil Corp que substituiu os seus administradores para estar mais alinhada com princípios de sustentabilidade.
Ainda assim, os críticos da ideia do ESG dizem que o investimento sustentável pode não passar de uma manobra de diversão pouco eficaz e que, só por si, não resolve os problemas complexos associados aos enormes desafios laborais ou às emissões de gases com efeito de estufa.
Que problemas do mundo real quer o ESG resolver em 2024?
A popularidade das empresas ESG tem vindo a justificar-se pela crença de que elas teriam um papel decisivo na defesa de um mundo melhor para todos e também para o ambiente. Mas essa ideia foi rapidamente usada como estratégia de marketing que impulsionou modelos de negócio antes de impactar positivamente o planeta em que vivemos.
Ainda assim, o chavão do investimento sustentável e responsável continua a permear as bolsas financeiras globais, e Wall Street em particular. Atualmente, o ESG associa-se a iniciativas financeiras como:
- O investimento com base em valores progressistas e éticos: Este é um tipo de iniciativa que permite aos investidores investirem em empresas em função das suas ideologias, religião ou sistemas de crenças e valores. Os primeiros proponentes deste tipo de investimento foram grupos religiosos como os Quakers. Por outro lado, grupos cristãos suecos começaram a investir desde 1965 em fundos mutualistas com princípios virtuosos na sua atividade comercial.
- Investimento responsável do ponto de vista social: Estas iniciativas têm vindo a ganhar tração como forma de apoio a movimentos pacifistas, de apoio a empresas que se posicionam do lado dos anti-apartheid ou tidas como responsáveis tendo em conta as dinâmicas complexas da geopolítica global. Por outro lado, empresas diretamente ligadas a energia verde também cabem neste filão de investimento social.
· Investimento de impacto: Neste caso, trata-se de promover o investimento socialmente responsável em empresas com projetos para a reabilitação de comunidades e promoção de coesão social. Por exemplo, os fundos que investem na construção de habitação a preços controlados são tidos como exemplares no que respeita a investimento de impacto.