Os acionistas do principal índice da bolsa portuguesa, o PSI, vão poder aceder a mais de 2.6 mil milhões de euros em dividendos. O volume resulta de um bom desempenho das maiores empresas portuguesas em 2023. Este aumento nos dividendos é, ainda assim, inferior aos lucros registados, com rácio que mede os lucros e os dividendos a diminuir.
No entanto, estes dados demonstram o bom estado de saúde da economia portuguesa. E a intenção de compensar os acionistas pela confiança que depositaram no setor financeiro e económico português. Apresentamos-lhe as empresas com melhor desempenho em Portugal. E as que melhor estão a pagar os dividendos.
Quanto aumentou o pagamento de dividendos em Portugal?
Conforme os dados financeiros revelados, e que já foram comunicados ao Banco de Portugal, as principais empresas do índice português PSI estão a pagar dividendo 3,2% superiores. Um valor que atingiu em 2023 os 2.602,60 milhões de euros. Estas contas ainda não são definitivas. Afinal, falta apurar os resultados financeiros de outras empresas que estão agora a calcular o seu ano financeiro, como a Altri ou a Ibersol.
Note-se que, para estes cálculos do pagamento de dividendos, são somados os dividendos intercalares e os pagamentos de direitos de subscrição para novas ações. Como no caso da EDP Renováveis.
O aumento nos dividendos totais é assim potenciado pelo desempenho do tecido económico e industrial português em 2023. Somadas as 12 principais empresas do PSI, o lucro foi superior a 5 mil milhões em 2023, o que é um aumento de 36% face ao ano anterior. Assim, se virmos a relação entre lucros da atividade económica e o pagamento de dividendos, na prática as empresas baixam a capacidade de remuneração do capital em 52%, apesar do aumento líquido do valor. Esse valor é o mais baixo desde 2017, apesar de continuarem a ser boas notícias para os acionistas.
A tendência é para que, já em 2024, continuemos a observar uma descida do chamado “payout”. Do ponto de vista dos negócios, isso sinaliza também uma atividade económica mais sustentável e com maior capacidade de investimento, nomeadamente na capitalização do próprio negócio, o que são boas notícias para todos.
A subida de rendimentos das principais empresas portuguesas do PSI
As empresas cotadas na bolsa PSI já não precisam de se sujeitar aos anos de resultados líquidos bons para devolverem uma boa fatia aos seus acionistas, fazendo em muitos casos com que o negócio parecesse refém dos interesses de capital. Agora, os pagamentos atrativos de dividendos já não colocam um travão na capacidade de investimento dos negócios.
As seis empresas com melhor desempenho no aspeto do negócio, mas também com pagamentos de dividendos mais atrativos, foram os CTT, Jerónimo Martins, Sonae, Galp Energia, Mota-Engil e a EDP. Com crescimentos superiores aos lucros, a empresa destacada a este nível foi os CTT, com um aumento de 36% nos pagamentos por assim – o crescimento dos lucros foi de 66%.
Por outro lado, a Sonae está a subir o pagamento de dividendos há 10 anos consecutivos. Se em 2013 o pagamento de dividendos era de 3,3% por ação, em 2023 passou a 5,639 cêntimos – uma média de 71% de aumento no pagamento de dividendos.
O bom desempenho do BCP, EDP e Jerónimo Martins, Galp
O BCP colocou uma pausa no pagamento de dividendos até 2023, após ter registado lucros superiores a 400%. O banco vai assim voltar ao pagamento de dividendos sobre os lucros, entregando 30% dessa receita no que representa cerca de 1,7 cêntimos por ação.
A EDP é, por outro lado, a empresa que paga os dividendos mais elevados do PSI. O valor por ação não aumentou tanto assim – apenas 0,5 cêntimos – mas já supera os 800 milhões de euros distribuídos. Segundo a nova política de pagamentos, prevê um payout entre 60% e 70%, e osa dividendos irão subir progressivamente até aos 20 cêntimos por ação em 2026.
A Jerónimo Martins e a Galp Energia são as outras duas empresas com excelente desempenho e no pagamento dos dividendos mais elevados. Juntas, atingem um nível de pagamento superior a 400 milhões de euros, sendo que a Jerónimo Martins paga dividendos em proporção dos lucros superiores e a petrolífera é um pouco mais modesta face aos lucros extraordinários de mil milhões de euros. Note-se que a Galp já tinha efetuado pagamentos intercalares de metade dos dividendos.
Dividendos globais atingem recordes
A subida extraordinária do pagamento de dividendos em 2023 entre as cotadas do PSI vai em linha com o tipo de dinâmicas que observamos noutras economias ocidentais. De acordo com a consultora financeira Janus Hendersen, o valor apurado para as empresas de 22 países do mundo ocidental também revela recordes de pagamentos aos acionistas.
De acordo com essa fonte, os dividendos globais aumentaram em 5,6% para um valor recorde de 1,66 biliões de dólares, e 86% das empresas aumentaram ou estabilizaram os seus níveis de remunerações.
O aumento no pagamento de dividendos fez-se sentir um pouco por toda a europa, subindo em cerca de 10,4%, uma aceleração recorde. Para este ano, a Janus Hendersen prevê novo aumento no pagamento de dividendos, na ordem dos 3,9% que representa cerca de 1,72 biliões de dólares. Isso acumula o efeito da retração no pagamento de dividendos extraordinários.
O pagamento de dividendos atrativos aos acionistas é uma das principais estratégias que as empresas da economia dita “tradicional” têm para evitar a fuga de investidores. Numa altura em que os avanços na Inteligência Artificial, nos serviços de streaming, na indústria automóvel e na tecnologia como um todo estão a acelerar de forma impressionante, são as empresas da big tech que acumulam o maior investimento. Por isso, o pagamento competitivo de dividendos serve para estancar essa transferência de capital entre setores da economia.