A consultora Citi, através da sua equipa da City Research, alerta para uma tempestade perfeita que poderá vir a assolar os mercados em 2025. Investidores, empresas de logística e distribuição, e tecido económico em geral que dependa de cadeias de distribuição globais deverão estar atentos à instabilidade no Mar Vermelho. Volatilidade está muito acentuada no preço do petróleo e isso poderá trazer surpresas negativas ao longo deste ano e até 2025.
Para já, a Citi baixou as expectativas para os preços do barril de Brent no curto prazo. Espera-se ainda assim que ande pelos $70 e poucos mais de $80 em 2024 desde que a OPEC+ mantenha o “equilíbrio dos mercados”.
O que explica o pânico dos mercados e a perspetiva “bearish” sobre o preço do petróleo?
Os consultores da Citi mencionam neste momento uma dinâmica de mercado em que a oferta é superior à procura. Ou seja, regista-se um superavit que poderá trazer desequilíbrios ao mercado. Além disso, os novos acontecimentos geopolíticos, nomeadamente o bombardeamento colaborativo entre EUA e Reino Unido no Iémen, estão a provocar uma “subida acentuada” nos preços do crude. Por causa deste desenvolvimento, o “preço do petróleo está muito vivo”.
O relatório aponta assim como principal fator que irá influenciar o preço do petróleo: os riscos de escalada de conflito no Iémen, com intervenção dos poderes ocidentais. Ou seja, com uma disrupção de larga escala nas rotas de processamento e passagem do crude naquela zona, os preços poderão disparar. Ainda assim, e durante 2024, é expectável que os preços se mantenham relativamente estáveis. Mas antecipando futuros desenvolvimentos.
É de notar que o preço do barril de Brent é o que serve de referência à Europa. Neste momento, vale 80 dólares nos mercados. Tem assim um momento de alguma volatilidade e incerteza quando valia 76 dólares a 78 dólares durante os bombardeamentos norte-americanos e britânicos.
Quais serão as medidas que os produtores de petróleo tomarão em 2024?
De acordo com aquele relatório da Citi, é esperar que o grupo OPEC+, que representa os maiores produtores de petróleo, venha a tomar medidas face às disrupções bélicas na zona do Iémen. Os analistas referem o seguinte:
“Acreditamos que a OPEC+ irá adiar a previsão de cortes [na produção] do primeiro trimestre de 2024 para 2025”.
É de referir que, no mês passado, a OPEC+ informou que iria realizar cortes em 2.2 milhões de barris por dia em 2024, o que faria disparar preços. Agora, com a desestabilização provocada por EUA e RU, essa medida foi adiada para não criar problemas aos mercados e aos investidores.
Segundo se pode ler no relatório da Citi:
“2025 irá trazer mais desafios para a OPEC+, já que existe um excesso de procura e não haverá cortes na produção, o que deverá dificultar a proteção dos preços na zona dos $70 por barril de Brent.”
A Citi afirmou que os mercados globais de petróleo irão entrar num superavit de 1.2 milhões de barris, pelo que se espera que no segundo semestre de 2025 haja um corte para metade da produção de barris.
O que devem fazer os investidores face ao aumento do preço do petróleo em 2025?
Para 2024, a Citi espera um excedente na oferta em cerca de 100.000 barris. Mas se continuar a registar-se mais disrupções geopolíticas é de esperar que mais barris sejam produzidos. A Arábia Saudita e a Rússia têm juntas 2 milhões de barris que poderão também colmatar falhas de distribuição. Isso devido a eventuais interrupções no Médio Oriente e Norte de África.
A partir de 2025, a Citi espera a oferta venha a superar largamente a procura. E, assim, a consultora financeira espera que a OPEC+ avance com os anunciados cortes em proporção do excedente de barris em circulação. Espera-se algo na ordem dos 700.000 barris excedentes diários. Se esses cortes não forem efetuados, poderemos chegar a um ponto de 1.2 milhões de barris acumulados. E a um nível insustentável em termos de preços.
Os analistas da Citi recomendam assim os investidores bolsistas e empresas que lidam com petróleo comercial para que ativem seguros ou comecem a reposicionar os seus ativos antecipando quebras de preços ao longo dos próximos um a dois anos. Se virmos o que se passa no mercado de futuros de Brent, que negoceia na ordem dos 80 dólares por barril, percebemos a preocupação já que os preços projetados para 2025 são de $50 por barril.
O que sustenta a projeção da Citi para quebras significativas de preços do Brent em 2025?
A consultora baseia-se no princípio de que a procura global por petróleo vai desacelerar de cerca de 1.9 milhões em barris em 2023 para 1.3 milhões já este ano, continuando em ritmo descendente para 700.000 em 2025. Os analistas projetam um crescimento do PIB mundial em 2.5%, o que poderia implicar um crescimento de procura de barris em 1.2 milhões.
Um fator de desestabiliza estes cálculos tem a ver com a presença dos veículos elétricos, segundo disse o banco. Dos 80 milhões de carros vendidos num ano, cerca de 30 milhões dirão respeito a “veículos de nova energia”. Ou seja, veículos que podem combinar baterias elétricas, modelos híbridos plug-in, e modelos híbridos tradicionais, referem os analistas da Citi. Esses veículos irão deixar de consumir 500.000 dos barreiros tradicionais de petróleo que seriam destinados à indústria automóvel, levando a uma reavaliação do ponto de vista da produção.
Avaliação técnica do petróleo nos mercados financeiros
É sempre interessante voltar aos gráficos e à análise técnica de produtos como o petróleo para percebermos que há um comportamento padronizado e sincronístico de preços com outros momentos históricos.
Os preços atuais do Brent, na ordem dos $80, estão em níveis que representam máximos de 2018 (quando houve um “double top”), mas também valores intermédios relativamente em 2023 (quando os preços variavam entre $94 e $70$). Assim, e tendo em conta as análises de preços da Citi para 2025, poderemos esperar os seguintes cenários:
- Queda de preços do barril de petróleo para a zona dos $50, o que estaria em consonância com os máximos de 2020 e que levariam depois a uma bull run.
- Estabilização de preços na zona dos $65 assim que os valores do barril começarem a recuperar, o que corresponde a uma forte zona de suporte e resistência multi-anual.
É de notar que entre os patamares de $125 e $130 encontramos os valores máximos históricos do barril de petróleo, que foram atingidos em março de 2022 depois da escalada bélica da guerra da Ucrânia. No mundo crescentemente mais ambientalista, que quer reduzir as emissões de carbono, promover energias limpas e a indústria do automóvel elétrico, não é de esperar que esses patamares máximos sejam revisitados tão cedo.
Os únicos fatores imponderáveis nos cálculos do valor de petróleo têm a ver com as disrupções na geopolítica. Por isso vale a pena ir estando atento às movimentações dos Estados Unidos e Reino Unido no Iémen, mas também dos desenvolvimentos do conflito de Israel contra a Palestina que poderá vir a gerar novas instabilidades nos mercados globais.