custo alimentos essenciais

A Deco Proteste analisou os preços dos produtos alimentares nos supermercados para tentar perceber o que mudou na indústria com o fim do IVA Zero. Esta medida, que foi aplicada em 2023 para apoiar os portugueses num ano de agravamento geral dos preços devido à escalada da inflação, foi agora retirada. E as conclusões da Deco Proteste para os alimentos considerados “essenciais” surpreende. Em resumo, há produtos quer subiram acima do esperado.

Mas isso não quer dizer que os preços permanecerão altos. Ou ainda que os portugueses estejam destinados a ver agravado o custo de vida. Vamos dar-lhe uma perspetiva sobre os resultados desta avaliação da Deco, e indicamos-lhe também o que pode fazer para realizar poupança e recuperar algum do dinheiro perdido com a inflação e o aumento do custo de vida.

Maioria dos alimentos essenciais tiveram aumentos de preços acima do previsto

Segundo analisou a Deco Protesto junto de supermercados do país, os preços de 14 dos 41 produtos analisados e que são considerados “essenciais” subiram acima da taxa habitual de IVA de 6%. Ademais, os produtos que mais sofreram agravamento de preços foram o iogurte líquido, óleo alimentar, o atum em posta e o azeite.

Segundo se pode ler no relatório da Deco:

“Entre os dias 04 e 08 de janeiro, o aumento médio dos 41 produtos foi de 5,29%, totalizando 7,51 euros e elevando o custo médio do cabaz de 141,97 euros para 149,48 euros, respetivamente”.

Agora que muitos dos produtos essenciais voltaram a ser taxados com IVA a 6%, os supermercados devem repor o seu preço habitual sem fazer especulação de preços. Mas não é evidente que a “normalidade” esteja a regressar aos preços dos alimentos. Sendo que o óleo alimentar, que agora passa a ser taxado a 13% contra os anteriores 23%, deveria mesmo ter um PVP mais competitivo do que o anterior.

Como se explica o aumento de preços nos alimentos essenciais?

Nesta primeira análise sobre os preços dos alimentos no mercado, a Deco Proteste indica que outros retalhistas aumentaram o preço dos alimentos abaixo dos 6% esperados para mais de 21 produtos. Segundo se diz no relatório, isso explica-se deste modo:

“Poderá ter havido uma tentativa de mitigação do impacto imediato da reintrodução do IVA através de promoções em produtos abrangidos pela isenção. Essa prática pode ter contribuído para minimizar o impacto inicial sentido pelos consumidores”, diz Rita Rodrigues, Diretora de Comunicação da DECO PROTeste. E indica também “ser possível que, especialmente no primeiro dia da reintrodução do IVA, tenha havido algum atraso na atualização dos preços afixados”.

A análise ao preço dos produtos alimentares no mercado é o início de uma prospeção mais ampla que irá continuar a decorrer durante este início de ano. Para já, a comparação de preços incidiu sobre o PVP de vários produtos alimentares essenciais entre os dias 4 e 8 de janeiro deste ano e tendo em conta os valores de abril de 2023.

Assim, há produtos que sobem acima do esperado, e outros que sobem abaixo do esperado. E as explicações podem ser várias:

  • O “efeito de mitigação”, levando o mercado a ajustar-se à realidade dos portugueses e fazendo subir os preços de forma progressiva.
  • O efeito da oferta-procura, segundo o qual os produtos mais comprados sobem mais, e os menos requisitados sobem menos.
  • Disrupções ou encarecimento geral de processos logísticos.

O que é o IVA Zero? Que efeitos produziu?

Em resumo, o IVA Zero foi uma medida implementada pelo governo português e que incidiu sobre um cabaz de produtos alimentares considerados “essenciais”. Por isso, a medida entrou em vigor a 18 de abril de 2023 como resposta ao aumento sucessivo dos preços dos produtos que resultou de uma inflação histórica na Europa e em Portugal.

Assim, e apesar de o objetivo ter sido baixar o preço da maioria dos produtos essenciais, o que se observou foi um cenário heterogéneo. Ou seja, alguns produtos baixaram efetivamente de preço. Mas outros ficaram mais caros.

Esse cabaz de alimentos era composto por 46 produtos que fariam parte de uma “alimentação saudável” e que incluem:

  • Quatro variedades de carne e seis de peixe.
  • Frutas, legumes, hortícolas, leguminosas, lacticínios, cerais e derivados.
  • Tubérculos.
  • Gorduras e óleos.
  • Produtos em conserva como atum e sardinhas.
  • Bebidas e iogurtes de base vegetal e produtos sem glúten.

Quais foram os produtos que mais subiram e desceram com a implementação do IVA Zero?

O cenário é surpreendente e revela que uma grande variedade de produtos teve aumentos ou descidas de preços relativamente imprevisíveis e acentuadas desde o IVA Zero. O que nos leva mesmo a questionar sobre a eficácia desta medida.

Os produtos que mais aumentaram de preço desde 18 de abril de 2023 foram:

  • A Couve-flor, com um aumento superior da 30% no seu preço.
  • Alface frisada, custando mais 26,25% agora.
  • Maçã Golden, que encareceu 10,78%.
  • Massa em esparguete, que ficou 8% mais cara.
  • Outros produtos que encareceram: Curgete (mais 6,87%), ervilhas ultracongeladas (mais 4,71%), atum posta em azeite (mais 2,79%), bacalhau graúdo (mais 0,84%).

Os produtos que mais desceram de preço com a implementação do IVA Zero foram:

  • O óleo alimentar, que beneficia agora de taxa reduzida (desconto de 36,54% relativamente a 2023).
  • Cenoura, que desceu 18,66%.
  • Tomate chucha, que custa menos 14,77%.
  • Manteiga com sal, custando menos 11,97%.
  • Cebola, que custa menos 10,42%.
  • Outros produtos que ficaram mais baratos: Arroz carolino e pão de forma sem côdea (com descidas na ordem dos 9%), queijos e leites (com descidas de cerca de 7%), carapau e dourada (com descidas entre os 5% e 6 %).

Como se compara Portugal com os restantes países europeus na descida dos preços dos alimentos?

Cerca de um mês depois da entrada em vigor da medida IVA Zero, o preço dos alimentos em Portugal parece ter sido o que mais desceu considerando os restantes países da Zona Euro. Segundo o jornal Público, a variação de preços foi de -0,4% face a abril, e isso representou a descida mais pronunciada entre os restantes 20 países europeus.

As descidas nos preços dos alimentos essenciais nessa altura foi em média de 2%, o que ficou ainda assim aquém das previsões de descida entre 5% e 7% estimadas pela Deco. Ainda assim, e por efeitos da oferta e da procura no mercado, alguns dos alimentos tiveram um desempenho superior na descida de preços e outros foram agravados.

Como poupar em 2024 na alimentação?

Como vimos, a evolução de preços no cabaz dos alimentos foi muito diferenciada. Sendo que alguns produtos a pesarem mais no bolso das famílias e outros a ficarem mais baratos.

Assim, e dependendo da sua dieta, poderá fazer escolhas inteligentes de produtos para garantir poupança. Assim, os princípios base que deve seguir para poupar no cabaz dos alimentos incluem:

  • Comparar preços entre diferentes supermercados, para garantir os preços mais vantajosos para uma classe de produtos.
  • Manter o princípio de uma alimentação saudável com a aplicação de uma dieta variada, evitando consumir demasiada carne ou demasiado peixe em detrimento dos vegetais.
  • Opte pelas sopas de vegetais ao jantar, que são uma fonte nutricional excelente e representam em geral poupança nessa refeição.
  • Evite produtos processados e pré-preparados.
  • Privilegie os ultracongelados de vegetais, como ervilhas, cenoura, bróculos e espinafres. A qualidade nutricional é tão boa como a dos produtos frescos e são mais baratos.
  • Faça uma lista de compras e controle as suas despesas em função das suas necessidades.

O que esperar da evolução de preços dos alimentos em 2024?

Agora que acabou o IVA Zero e que a inflação desceu para níveis normais, o mercado irá novamente adaptar-se à realidade da oferta e da procura do nosso país. Isso significa que os produtos sazonais e com boas colheitas irão novamente ter preços mais competitivos, além de que será possível obter descontos em produtos quando a procura não for suficiente.

Assim, 2024 poderá por isso ser um ano de retoma da normalidade. Porém, alguns produtos poderão manter-se historicamente caros, como é o caso do azeite, um dos itens de maior consumo dos portugueses.

Estou em dificuldades financeiras, é possível adquirir alimentos de forma gratuita?

A pandemia, inflação e a escalada dos preços dos alimentos significaram que muitas famílias entraram em situações de desemprego e perda de poder de compra.

As pessoas mais desfavoráveis não estão sem proteção. E poderão continuar a fazer uma alimentação saudável recorrendo a algumas estratégias de compras. Ou até acedendo a serviço social na área da alimentação. Damos-lhe alguns exemplos:

  • Se a sua zona for servida por entregas gratuitas de alimentos da ReFood, não hesite em inscrever-se como beneficiário.
  • Outras entidades como a Santa Casa da Misericórdia e IPSS também fazem distribuição de comida para pessoas carenciadas.
  • Algumas lojas de frutas, legumes e mercearias entregam os excedentes do dia a pessoas carenciadas que peçam o acesso a esses produtos.
  • Poderá contactar o Banco Alimentar para aceder gratuitamente a um cabaz de produtos. O Banco Alimentar tem uma rede de beneficência espalhada pelo país.
  • Poderá experimentar apps como a Too Good To Go, que dá aos comerciantes a possibilidade de escoar excedentes do dia a preços muito baixos.

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