deflação china

Os especialistas financeiros são claros acerca do problema que a China agora atravessa com o abrandamento significativo no crescimento do PIB e a falta de dinâmica do mercado interno. Segundo dizem, o país deve estimular o consumo em áreas como o alojamento público, saúde pública e educação, uma vez que os riscos de deflação parecem reais.

Um cenário destes numa China pujante economicamente e que quer suplantar os EUA em soft power pode ser um revés importante às aspirações dos seus líderes. Uma economia moderna deve resistir a todo o custo o cenário de deflação que coloca um travão no seu crescimento económico.

Por que a China enfrenta risco de deflação quando o resto do mundo tem problemas de inflação?

A inflação assola em particular os chamados países ocidentais, com o bloco Europeu e norte-americano à cabeça. O que observamos desde o início da invasão Russa ao território ucraniano é que o aumento dos custos energéticos trouxe problemas no abastecimento das cadeias logísticas e, em consequência, subiram os preços de todos os produtos e serviços.

Os consumidores perderam poder de compra, algumas empresas perderam poder negocial e margens de lucros, e o consumo interno ressentiu-se. Mas a China parece estar a atravessar o problema contrário, o da deflação.

Ao contrário do que acontece com as maiores economias mundiais, o risco de deflação na China representa um problema para o crescimento do PIB, que já está a contrair há dois trimestres consecutivos. Por comparação com os Estados Unidos que teve um crescimento de 6,4% no seu PIB no terceiro trimestre, a China só alcançou os 3,5%.

Quais são os desafios da deflação na China?

A confirmar-se um cenário de deflação, há vários desafios e problemas a resolver que os líderes chineses terão de atacar. Desde logo no que toca às taxas de juro que irão subir, e assim também o peso do custo da dívida (ou seja, haverá menos interesse de investidores em dívida chinesa). Por outro lado, e mesmo que continue a ser comprada dívida, ela permanecerá como um custo insustentável face ao crescimento do PIB.

Deste modo, se avaliarmos os rácios de dívida para o PIB chinês, observamos uma tendência de afastamento em que a dívida poderá subir muito mais rapidamente.

Por outro lado, estimativas de crescimento fraco do PIB irão afetar negativamente as receitas das empresas e do Estado Chinês, que terão mais dificuldades em aceder ao mercado. E se a deflação se instalar por mais trimestres, a China poderá mesmo enfrentar um ciclo vicioso com pressões deflacionárias mais acentuadas.

Qual é a diferença entre inflação e deflação?

A Investopedia dá um resumo claro do que acontece quando há inflação (caso dos países ocidentais) e de quando há deflação (caso da China).

A inflação acontece quando os preços dos bens e dos serviços sobem de forma descontrolada e muito rapidamente, que foi o que levou o Estado português a impor uma política de IVA 0 para baixar os custos de bens essenciais. Isso foi uma forma de mitigar o aumento excessivo dos preços dos produtos e de tentar reduzir o peso da inflação no nosso país.

Já a deflação acontece quando há um excesso de bens e de serviços disponíveis para a procura, produzindo uma pressão para a baixa de preços generalizada. Também acontece quando não há dinheiro suficiente em circulação que permita comprar esses bens. É por isso que, nestes casos, o preço dos bens e dos serviços vai baixando progressivamente. Com o valor da moeda a perder competitividade face a outras divisa.

O papel dos bancos centrais é o de regular estas dinâmicas de mercado que são geralmente afetadas por acontecimentos externos (no caso da Europa a guerra Rússia-Ucrânia). Eles podem imprimir mais moeda, aumentar a dívida pública, e até informar medidas de governação na regulação de preços.

Como se define a inflação?

A inflação é uma dinâmica económica que observa a tendência de subida de preços generalizada num país. Como referimos, a inflação ocorre quando há muita procura de bens e serviços, mas também quando há fatores externos que obrigam à subida generalizada de preços. Tais como quando a moeda nacional perde competitividade ou quando há quebras logísticas significativas à escala global.

Vejamos alguns exemplos de como a oferta pode ser afetada, e isso aumentar custos e promover espirais inflacionistas:

  • Os desastres naturais ou provocados pelo homem podem afetar produções inteiras e promover a inflação.

Normalmente a inflação é medida em termos de um indicador associado ao cabaz de alimentos. O governo português, por exemplo, decidiu contratar uma consultora independente que acompanhou a evolução de preços desse cabaz, de forma a reagir politicamente sobre alterações significativas de preços.

Riscos de hiperinflação

A inflação é dos fenómenos mais temidos. Isso porque, desde 1970, sempre que se instalou inflação também grassou a pobreza. A hiperinflação ocorre quando os preços sobem em 50% ou mais num só mês, mantendo-se essa tendência durante várias semanas.

Quando a hiperinflação se instala sem que haja resposta política ou económica à altura, a chamada “economia real” começa a sofrer consequências muito nocivas. A dívida pública pode aumentar bruscamente, a pobreza e o desemprego também aumentam, algumas empresas são obrigadas a fechar, e a economia do país fica em geral fragilizada por vários anos.

A hiperinflação não é assim tão comum, e momentos curtos de inflação são até vistos com bons olhos pelos políticos e bancos centrais, desde que isso não represente um choque sistémico que agrave indicadores sociais.

Em alguns casos, como no português, observámos até que curtos períodos de inflação encorajam o consumo interno. Também os investimentos e a poupança, num equilíbrio que pode ser positivo. O problema maior é para o cidadão comum. Porque com o mesmo dinheiro ao fim do mês consegue comprar menos coisas já que tudo fica mais caro.

Como se define a deflação?

A deflação é o problema que o Estado chinês enfrenta atualmente, e define-se pelo excesso de bens e serviços disponíveis para uma procura mais modesta. Tem também fortemente a ver com a falta de dinheiro em circulação, levando a quebras de preços.

O setor automóvel na China tem sido muito pujante, com marcas ligadas à área dos Veículos Elétricos a produzirem novos modelos todos os anos e a acrescentar competitividade ao mercado. O que isso significa é que com mais automóveis disponíveis e concorrência para vender a preços competitivos, os preços tendem a baixar. Isso é a primeira dinâmica ligada à deflação.

O que agora se observa é o excesso de stocks em várias áreas da economia, excedentes e desequilíbrios monetários que levam a despedimentos e à baixa de preços. A deflação é uma tendência preocupante porque a economia entre num loop depreciativo de desvalorização, com produtos mais e mais baratos, e dinheiro cada vez a valer menos face às divisas externas.

Como a China poderá resolver a deflação?

O Banco Central Chinês, designado PBoC – Banco Chinês do Povo –, é a entidade responsável pela aplicação de políticas monetárias que visem o controlo da deflação. Por exemplo, poderá vender títulos da dívida para aumentar a circulação de dinheiro disponível e assim aumentar a procura e o consumo interno. Ainda assim, este contra golpe que pretende aplacar a deflação deve ser estruturante, caso contrário a China arrisca-se a agravar ainda mais a deflação. Usando uma metáfora: tentando apagar o fogo com gasolina.

Agora, para resolver o desafio da deflação, os legisladores e políticos devem combinar uma série de medidas fiscais e monetárias coordenadas. O que já está a acontecer na China é o aliviar deste género de políticas de controle económico de preços e estímulos monetário.

Os especialistas da área financeira indicam que o estímulo ao consumo é o mais importante nesta fase. Assim, o aumento na despesa pública em subídios é bem visto pelos economistas. Seja fortalecendo a educação, a habitação pública ou no reformo do setor da saúde. Isso poderia levar as pessoas a gastar as suas poupanças e a retomar o consumo interno.

Por outro lado, o excesso de investimento em obras públicas, investimentos económicos e de outra natureza são uma despesa volumosa. Isso retira capacidade de dinamizar o mercado interno. Neste momento, o investimento público alcança os 42% do PIB.

O que pode acontecer à China com a deflação?

Se o valor do Yuan depreciar face ao dólar, o tecido económico do país poderá ficar em risco. Poderá haver despedimentos e uma fragilização generalizada da China enquanto poder económico global. E os valores dos bens irá cair. Em resultado disso, menos investimento haverá na dívida pública, já que os juros da dívida tenderão a aumentar. Em termos de capital e de produtos financeiros, os mercados privilegiarão setores tecnológicos a Ocidente. Com a China a perder competitividade também neste domínio.

A China precisa agora de atacar estes desafios que fragilizam a sua economia. Equilibrando-se no sentido de promover mais consumo interno e ampliando ainda mais a classe média dos seus cidadãos. Numa altura em que o mundo enfrenta tendências inflacionistas, este é o momento de a China provar que consegue reequilibrar a sua economia. Ela quer convergir com o ocidente sem se deixar cair na armadilha de afetar os rácios saudáveis entre oferta e procura.

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