elon musk transforma x

Em mais um uma notícia bombástica que caiu na comunicação social a partir da sede da X (ex-Twitter), Elon Musk anunciou que 2024 será um ano revolucionário para a sua app. A X vai continuar a transformar-se e, depois da mudança de logo, de nome e de modelo de subscrição, a app vai transformar-se numa plataforma financeira.

Este anúncio foi adiantado recentemente numa reunião com os trabalhadores da empresa. E a que a comunicação social portuguesa já começou a dar atenção. E apesar de ainda não serem conhecidos detalhes, já há muita especulação de que Elon Musk quer fazer da X uma espécie de WeChat. Ou seja, uma app total que gera toda a vida social e financeira dos utilizadores. Sem precisarem sequer de abrir conta bancária. Depois dos Layoffs no Twitter e de toda a revolução operada nesta rede social, 2024 promete ser mais um ano de revolução.

Qual foi o anúncio de Elon Musk acerca das novidades de X?

As palavras de Elon Musk junto dos seus colaboradores, na hora de anunciar as novidades da X para 2024, foram contundentes. Segundo tem sido citado, ele anunciou que “o que tenha a ver com dinheiro estará na nossa plataforma”.

Ainda assim, Elon Musk foi mais longe do que isto. “Dinheiro, títulos, tudo o que for [estará na X]. Não se trata apenas de enviar dinheiro a amigos. Estou a falar que vai deixar de ser preciso abrir conta no banco”.

A CEO da X, Linda Yaccarino, apontou uma meta para o lançamento desta novidade financeira que é inaudita no mundo das redes sociais. “Ficarei muito surpreendida se não tivermos lançado isto até ao final do próximo ano”, adiantou a CEO.

Isto quer dizer que poderá estar para muito breve (já em 2024) uma revolução financeira no âmbito das redes sociais. Em que se traduzirá isso? Que vantagens trará para os utilizadores da X? De que forma isso vai influênciar as restantes redes e a nossa vida financeira?

Mas a pergunta mais importante que importa colocar agora: que riscos trará esta revolução bancária que Elon Musk quer introduzir?

O que está a ser trabalhado por Musk e o que vai mudar na X?

Segundo noticiam algumas publicações como CNBC, a X de Musk está bem neste momento a obter licenças bancárias nos EUA. A empresa já detém, à data em que escrevemos este artigo, licenças bancárias para operar em nove estados norte-americanos. O processo está a ser expedito, o que pode explicar o anúncio de um prazo relativamente curto para o lançamento das novidades bancárias de X.

Esta aceleração no sentido de criar uma “app que faz tudo” pretende arrepiar caminho em direção à Wechat. A X quer ser uma das referências no mundo ocidental no que respeita a redes sociais, finança, autenticação de pessoas e relações sociais. É por isso que tomou o modelo do WeChat como uma das suas referências, estando a trabalhar para ser a WeChat ocidental já em 2024.

O que é a WeChat e por que o X quer ser igual a ela?

A maior super app do mundo é a WeChat, uma app chinesa sob o controlo da gigante tecnológica Tencent e que tem 1.3 biliões de utilizadores. A WeChat é omnipresente em todo o território chinês, sendo indispensável hoje em dia para várias tarefas do dia-a-dia. Incluindo fazer pagamentos básicos, para comunicar com amigos, para aceder a entrevistas de empresa. E até para simples autenticação em serviços do Estado. Os riscos são grandes, porque as entidades estatais ficam com dados em massa sobre as movimentações rotineiras dos seus utilizadores. Mas o sucesso e a conveniência do WeChat são também evidentes.

A WeChat começou por funcionar como uma app de troca de mensagens instantâneas como o WhatsApp. Mas a implementação de um sistema de pagamentos digitais de fácil utilização em todo o território chinês acelerou a sua adesão. E também o desenvolvimento do setor bancário digital e de e-commerce.

A China foi pioneira no desenvolvimento desta super app, e por isso já há réplicas noutras áreas do continente asiático. A empresa de Singapura Grab, por exemplo, lançou a sua “app total” de pagamentos, comunicação e entrega de alimentos. Também a Kakao da Coreia do Sul está a seguir o exemplo da WeChat.

Agora, chega a altura de Elon Musk assumir a inspiração que obteve do WeChat para continuar a transformar a X. Não havendo ainda uma app equivalente no mundo ocidental, Elon Musk decidiu ser pioneiro e lançar essa solução. Foi por isso que quis comprar o Twitter com a sua base de utilizadores massiva. E, apesar de isso ter sido um processo financeiro conturbado e com buracos e dívidas gigantes, Musk parece estar no bom caminho para a estabilizar e fazer crescer.

Segundo Musk tem vindo a referir aos seus empregados, de forma assumida, a WeChat é já a sua inspiração. “Podemos basicamente viver só do WeChat na China, porque é uma app muito útil e conveniente para a nossa vida do dia-a-dia. E acho que podemos fazer igual com o Twitter. O sucesso seria enorme”, disse ele recentemente.

Será que a “app total” que faz tudo, a X, pode funcionar no mundo ocidental?

Há diferenças culturais de fundo que poderão ser um entrave sério à implementação de um WeChat no mundo ocidental. Os aspetos da regulação e da privacidade dos dados são valores fundamentais no ocidente e que não têm tantos entraves na China. Isso devido aos diferentes modelos políticos e culturais que existem nas duas regiões do mundo.

Podemos compreender a forte implementação do WeChat na China devido à paisagem digital única que lá se vive. Não só o facto de o Estado Chinês conseguir alavancar de forma massiva qualquer iniciativa, mas também esmagar a concorrências ou iniciativas de regulação, em prol de uma app descentralizadora e de adesão em massa. É por isso que algumas das suas firmas tecnológicas de grande dimensão, como a WeChat, tiveram tão grande sucesso num tão curto espaço de tempo.

A WeChat da Tencent tem um módulo chamado WeChat Pay, que é dos maiores serviços de pagamento na China. A alternativa é a AliPay, gerida pela Ant Group e que é afiliada da gigante do e-commerce Alibaba. A Alipay é também considerada uma super app.

Como a Tencent fez crescer a WeChat, e o que isso pode significar para a X?

A Tencent, a empresa por trás do WeChat, teve uma forte implementação porque centraliza serviços de redes sociais e pagamentos numa só plataforma. Mas a empresa tem crescido noutros domínios, com os investimentos na empresa de e-commerce JD.com, e de entrega de alimentos Meituan. A Tencent também opera na área do gaming. Tudo isto tem feito crescer o WeChat de forma tentacular, podendo os utilizadores divertirem-se, comunicarem, fazer pagamentos, comprar produtos e serviços numa só app.

Veja-se que a WeChat tem também uma arquitetura modular que permite a criação de “mini programas” dentro dela. Isso não dá origem a apps distintas, mas permite fazer crescer as funcionalidades e o grau de interatividade da app. O que é uma vantagem de relevo que não é ainda evidente na X, uma app muito mais estática e dependente da sua equipa nativa de programadores.

Criar uma super app no mundo ocidental à imagem da WeChat tem outros desafios. Desde logo porque tudo o que diga respeito a pagamentos está dependente de licenças bancárias, de regulação independente. Mas também de legislação que provavelmente ainda não existe para o contexto da X. Tudo avança mais lentamente na Europa e nos EUA.

Veja como a app concorrente, a Threads, tem respondido a estas movimentações da X.

Desenvolvimentos da X para afirmar uma app bancária

Mas isto não é um travão às aspirações de Elon Musk que, na verdade, parece estar a mexer-se bastante bem para obter licenças bancárias em tempo recorde. No que toca à implementação da X como app bancária nos EUA, isso será mesmo uma realidade me breve, o que demonstra a grande capacidade de trabalho da sua equipa.

Assim, Musk revelou ter tido visão para a X num panorama de enorme estagnação no mundo das redes sociais no mundo ocidental. Se virmos o caso dos produtos da Meta, mas também o exemplo do TikTok, e até réplicas descentralizadas do Twitter como Mastodon e BluSky, tudo é bastante limitado. Não é inovação, já que as lógicas de tagging, criação de reels, seguir utilizadores e publicar conteúdos permanece relativamente idêntica.

Assim, Musk viu uma oportunidade de ouro para transformar a X numa espécie de WeChat à escala europeia. O que isso poderá significar para osa utilizadores e consumidores deste lado do mundo? Veja alguns exemplos…

Vantagens da X enquanto super app com sistema de pagamentos

A X não quer mais ser, simplesmente, uma app à imagem do Twitter. Vai querer crescer exponencialmente e de forma disruptiva à imagem do que fez o WeChat. E a primeira grande novidade a sair em 2024 será mesmo a disponibilização de um sistema de pagamentos que dispensa conta bancária. O que significará isso?

Ainda não temos detalhes sobre como irá funcionar exatamente a X no âmbito das suas atividades financeiras. Ainda assim, podemos especular um pouco com base nas notícias que têm vindo a lume.

Cada utilizador da X terá uma conta com capacidade de armazenamento de dinheiro. Que poderá ser dinheiro fiduciário (como euros ou dólares), ou criptomoedas (como Bitcoin, Ethereum ou Dogecoin). E essas carteiras digitais nativas da X poderão aceder a fundos de forma não tradicional.

Ou seja, ainda que possa solicitar transferências de clientes, patrões ou de outras pessoas para a sua conta, também poderá gerar os seus fundos. Como? Sendo um utilizador ativo na rede social X, desenvolvendo as suas próprias campanhas mediáticas, lançando produtos digitais a partir da sua rede na X, e outras iniciativas.

O que o sistema de pagamentos da X vai também permitir é gerir um ecossistema financeiro independente a partir desta app. Ou seja, poderá investir na bolsa e nos restantes mercados financeiros. E com isso gerar dividendos ou lucros de capital. Poderá também utilizar esse dinheiro para fazer pagamentos em retalhistas online ou offline (por exemplo, no carregamento de passes).

Mas a X não quer ficar-se por uma rede social com sistema de pagamentos. Se seguir mesmo o exemplo da WeChat, é possível que venha a lançar o seu Marketplace de produtos e serviços de acesso livre. Que abra portas ao desenvolvimento de funcionalidades de uma forma horizontal. Permitindo a integração de jogos. O acesso a um ambiente de recrutamento. Entre outras possibilidades.

Riscos da X quando Musk a transformar numa super app total

A X quer seguir o exemplo da WeChat, mas é muito duvidoso que esta super app chinesa tivesse sucesso na Europa ou nos EUA. E isso também aponta riscos para o futuro desenvolvimento da X. E tudo porque há muitas questões em torno de privacidade e proteção de dados que devem ser respondidas.

A China não tem propriamente a melhor fama entre cidadãos, reguladores e agentes políticos e da sociedade civil no mundo ocidental. Sendo um país de pendor autoritário, o desenvolvimento de apps como o WeChat serve para controlo mais completo da população. E está por trás, por exemplo, de um sistema de classificação social que pode impedir o acesso a viajar e leva a punições imediatas. O sistema judicial e a liberdade das pessoas fica assim em risco.

Por isso, pode não ser uma boa jogada para Elon Musk afirmar o WeChat como a sua maior referência. Muitos irão perguntar-se se os seus dados irão ser usados para os mesmos fins de controlo, vigilância e punição, tal como já acontece na China. E, se for esse o caso, a adesão ao X poderá ser muito limitada, privilegiando-se antes os sistemas descentralizados que estão a ser lançados.

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