É já no próximo domingo que entrará em vigor o novo horário de inverno. Assim, dia 29 de outubro os relógios vão atrasar uma hora. Ou, como se diz habitualmente, iremos dormir um pouco mais de manhã como forma de nos ajustarmos aos dias mais curtos.
Esta mudança irá ser aplicada em Portugal continental e regiões autónomas. As indicações são para acertar os relógios no próximo domingo, sendo que quando foram 2h00 os relógios deverão passar a marcar 01h00.
Quando vai mudar a hora em Portugal?
Se o horário de inverno entrará em vigor a 29 de outubro, o horário de verão terá início a 31 de março de 2024.
Estes ajustes de hora têm dois objetivos: fazer com o ritmo biológico das pessoas se adaptem da melhor forma a dias mais curtos, em que se tenta maximizar as horas de sono e as horas de exposição à luz. Mas também o objetivo de poupar energia.
Contudo, a mudança da hora em Portugal está longe de ser uma matéria consensual. Particularmente depois de o Parlamento Europeu ter votado a favor do fim da mudança de horário. Foi um relatório do Observatório Astronómico de Lisboa, solicitado pelo governo português, que permitiu manter a mudança da hora. As vantagens continuam, aparentemente, a superar as desvantagens.
Por que muda a hora no inverno e no verão?
É fácil de perceber o argumento do ajuste do nosso organismo às novas condições de luz de cada estação. No inverno temos menos horas de sol disponíveis, sendo que o sol se levanta mais tarde e se põe mais cedo do que no verão. Por isso, quem tem de ir trabalhar às 6h ou 7h teria de enfrentar mais horas de escuridão quando despertam de manhã do que se não ajustassem o relógio. Esta mudança visa compensar isso mesmo.
Dados históricos sobre a mudança da hora
Historicamente, a mudança de hora é feita desde praticamente o século XIV, ou até antes. Veja alguns dos aspetos fundamentais sobre a contagem do tempo e a sua manipulação:
- Até ao século XIV, as civilizações dividiam o dia em períodos de 12 horas. Foi só a partir de 1784, com a construção dos primeiros relógios mecânicos, que passamos a contar o tempo com a ajuda de dispositivos, o que transformou a nossa relação com o dia.
- Benjamin Franklin foi a primeira figura a propor o horário de verão. Assim era possível maximizar a exposição solar, as horas de sono e principalmente poupar na energia elétrica.
- No final do século XIX os comboios e ferrovia permitem uma nova relação com ao horário, que teria uma função organizadora desta atividade comercial e de mobilidade fundamental.
- Em 1908, William Willet apresenta o seu primeiro estudo para a poupança de energia. Com base nos estudos de Benjamin Franklin, propunha-se que os relógios fossem adiantados 80 minutos no verão.
- A 30 de abril de 1916 seria pela primeira vez implementado o horário de verão em plena I Guerra Mundial. O objetivo era poupar no carvão utilizado nas atividades energéticas.
- Em 1973 é novamente implementado o horário de verão. Isto porque os maiores produtores de petróleo reduziram a exportação desta matéria-prima, e os EUA e Europa viram-se obrigados a reduzir os seus consumos.
Em que países é utilizado o horário de verão?
O horário de verão está em vigor nos seguintes países além de Portugal:
- Nos EUA
- Bermudas
- Bahamas
- Cuba
- Vários países da América do Sul
- Nos continentes asiático e africano
- Em grande parte da Europa
- Austrália e Nova Zelândia
Quais são os argumentos dos especialistas a favor da mudança da hora?
Em 2018, e na sequência da aprovação do Parlamento Europeu de se parar com a mudança da hora, o primeiro-ministro António Costa solicitou um estudo sobre os efeitos desta medida. A entidade responsável pelo estudo foi o Observatório Astronómico de Lisboa que, na voz do seu diretor de então, Rui Jorge Agostinho, defendeu a posição de “aproveitar a luz solar ao máximo”.
Citada pela Visão, Susana Ferreira do Observatório Astronómico justifica a mudança de hora deste modo. “Na nossa posição a nível geográfico faz sentido haver mudança da hora, enquanto noutros países, mais a norte, como têm dias muito pequeninos ou muito grandes, não faz sentido”.
No caso português, e caso não se mudasse a hora, o sol nascia às 5 da manhã no verão. E no inverno só nascia às 9h. Isto provaria grandes instabilidades do ponto de vista da exposição solar e inclusivamente da desregulação hormonal. Do ponto de vista orgânico, o nosso corpo produz cortisol por exposição a fontes de luz, dando-nos uma fonte de energia fundamental para começar o dia. A escuridão promove o processo oposto, com a produção de melatonina. É por isso que estar ativo com pouca luz é contraproducente.
Susana Ferreira diz ainda o seguinte: “A população iria começar o horário de trabalho ainda de noite e isso é mau para o nosso organismo. Nós acordamos com a claridade do sol e naquele caso ainda estaríamos um bocado dormentes”.
Quais são os argumentos contra a mudança da hora?
Temos alguns especialistas de relevo como Miguel Meira Cruz, diretor clínico do Centro Europeu do Sono, que se dizem contra a mudança da hora. Em 2019 este especialista disse à agência Lusa que não se devia mudar a hora por respeito a grupos da população especialmente suscetíveis a imposições artificias de que alteram os nossos ritmos de vida bruscamente.
Segundo o especialista, mudar a hora pode revelar-se “bastante nocivo sobretudo para alguns grupos populacionais”. Pensamos por exemplo em pessoas fragilizadas na sua saúde, os mais velhos ou com distúrbios psiquiátricos e estabilidade emocional frágil.
Diz ainda que: “A agressão maior não é exatamente nós mudarmos a hora, porque adaptar-nos-íamos, uns mais depressa e outros menos depressa. A questão é que duas vezes por ano ora andamos para a frente, ora andamos para trás, e exigimos que os nossos genes, que são coisas que demoram muitos, muitos anos a adaptar, se adaptem imediatamente. E isso não acontece”.
Dicas para se ajustar a dias mais curtos no inverno
Os dias mais curtos no inverno são associados a estados mais frágeis nos humores, também conhecidos como “depressão sazonal”. É fácil de perceber porquê: há menos horas de sol disponíveis, menos síntese de vitamina D em consequência, e como os portugueses têm défice crónica desta vitamina a depressão chega mais facilmente.
Além disso, há uma série de efeitos psicológicos que devemos considerar. E, ainda que passageiros, eles podem ter impacto realidade na qualidade de vida. Os dias mais curtos podem-nos fazer sentir frustrados, já que sentir-nos-emos menos produtivos. Os dias frios, de chuva e cinzentos podem-nos fazer sair menos de casa, o que leva também a uma acumulação de tensões. Além de que os dias mais curtos fazem-nos sentir mais stressados de uma forma generalizada.
Veja algumas dicas úteis para que o ajuste a dias mais curtos no inverno não tenha tanto impacto.
Portugueses têm défice crónico de Vitamina D: Suplemente no inverno
Esta matéria não é nova e, ainda assim, a maioria das pessoas não toma medidas para resolver o défice crónico de vitamina D. O jornal Público anunciava em 2021 os resultados do estudo do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa sobre os níveis de vitamina D nos portugueses. Os resultados são surpreendentes:
- Os portugueses têm alterações genéticas que os colocam em maior risco de défice de vitamina D do que outros povos europeus.
Assim, e para avaliar os seus níveis de vitamina D no sangue, o mais indicado é aceder ao seu médico de família e pedir umas análises. Poderá também querer pagar análises não comparticipadas, que em laboratórios comuns custam cerca de 15€ a 20€.
Assim ficará a saber se tem ou não défice de vitamina D. Contudo, e ao que tudo indica, muitos portugueses poderão mesmo passar largos meses do inverno com défice de vitamina D sem o saberem. E isso tem impacto não só no humor mas também num desempenho menos eficiente do seu sistema imunitário.
Assim, considere tomar suplementação de vitamina D. Ajudará a atravessar o inverno com mais energia!
Seja disciplinado com os seus horários de inverno
Se quer atravessar o inverno com mais energia, boa disposição e produtividade deve ser também mais disciplinado com os seus horários. Isso implica deitar-se e levantar-se a horas certas para não produzir choques no seu ritmo circadiano.
O seu relógio biológico vai naturalmente adaptar-se a dias mais curtos, por isso ajude-se a si mesmo nessa transição e mantenha hábitos de sono regulares.
Maximize a sua exposição à luz solar
Se no verão temos luz praticamente desde que acordamos e até às 21h, no inverno a coisa muda de figura. Como passamos muitas horas em casa a trabalhar (por vezes até em teletrabalho), a exposição à luz solar não é tão fácil.
Faça assim por criar hábitos saudáveis de forma a aproveitar a luz do sol. Tome o pequeno-almoço cedo fora de casa, dê um passeio na hora de almoço, faça atividades desportivas ao fim do dia aproveitando o pôr-do-sol.
Tenha uma alimentação variada e nutritiva
Esta dica pode soar um pouco estranha, mas a nutrição vai ajudar e ter um inverno mais equilibrado.
Estudos demonstram que os portugueses têm défice de fibra na sua dieta. Além de que fazem uma alimentação rica em proteína animal e hidratos de carbono, mas fraca em conteúdo vitamínico de origem vegetal. Isto pode criar desregulações importantes com efeitos no metabolismo que pode desacelerar no inverno.
Para manter a sua saúde gastrointestinal, cardíaca e a qualidade de vida durante o inverno, preste atenção à alimentação. Adquira o bom hábito de consumir aveia ao pequeno-almoço (super barato e rico em fibra). Coma mais sopas, nomeadamente de abóbora, cenoura, e quaisquer vegetais. Não seja tímico com o consumo de grão de feijão – ainda que possa trazer desconforto inicial, ao fim de dois meses o seu corpo habitua-se e começa a funcionar muito melhor.
Como posso melhorar a minha qualidade de vida nos dias curtos de inverno?
A qualidade de vida irá manter-se desde que seja regrado com as suas rotinas e siga algumas das melhores dicas que temos para lhe dar.
Avalie os seus níveis de vitamina D, mantenha os seus níveis de energia com uma rotina de sono bem estabelecida, e mantenha uma alimentação diversa.
A mudança para o horário de inverno pode soar assustadora, com dias mais curtos e depressão sazonal, mas não tem de se resignar. Verá que este inverno irá ser tão produtivo e energético quanto queira, basta tomar o controle da sua vida e seguir algumas destas dicas apoiadas por especialistas da saúde.