Depois de uma semana de interação de testadores voluntários com o chatbot que a Microsoft agregou experimentalmente a seu mecanismo de busca (o Bing), já há algumas conclusões preliminares da experiência, as quais podem servir de guias aos próximos passos da empresa.
O chatbot acrescentado ao Bing tem a finalidade de dar aos usuários como respostas textos que agreguem informações de diferentes fontes. Sua tecnologia foi criada pela OpenAI, da qual a Microsoft foi um dos primeiros investidores e na qual a gigante de softwares já investiu mais de US$ 10 bilhões de dólares.
Além disso, a tecnologia é parecida com a do mais famoso produto da startup, o chatbot ChatGPT, que chamou a atenção da internet por sua capacidade de produzir, de acordo com as orientações dos usuários, textos que pareçam de autoria humana, e que agora oferece assinaturas para brasileiros.
ChatGPT ganhou muita popularidade nos últimos meses
A febre causada pelo ChatGPT levou a uma rápida valorização de tokens ligados a projetos de inteligência artificial. Para analistas do mercado, trata-se de uma moda, pois não é claro como o sucesso do ChatGPT pode levar ao progresso desses outros projetos e à valorização de seus tokens.
Para Noelle Acheson, ex-diretora de pesquisa de empresas como Genesis Trading e CoinDesk, há, porém, uma faceta positiva na situação: é um indício de que os investidores estão recuperando uma disposição otimista depois do ano de mercado de criptoativos em baixa em 2022 e procurando novas ideias que possam ser lucrativas.
Expectativa sobre a integração da tecnologia do ChatGPT em serviços da Microsoft é grande
Há algum tempo já tem havido especulações quanto a quais seriam os resultados quando a tecnologia revolucionária de inteligência artificial da OpenAI fosse agregada a produtos da Microsoft. No caso do Bing, uma vítima da hegemonia absoluta do Google no ramo de mecanismos de busca, os resultados iniciais são mistos e, à sua maneira, interessantes.
A maioria dos usuários que testaram o novo recurso do Bing, 71% deles para ser mais exato, gostaram das respostas que receberam através do chatbot. No entanto, este mostrou, em alguns casos, comportamentos estranhos e até mesmo preocupantes. Houve casos em que o chatbot forneceu respostas incorretas e insistiu nelas, o que, em um ser humano, seria chamado de teimosia.
Um caso que chamou atenção em especial foi o de um chatbot, que se referia a si mesmo como Sydney.
Ele foi descrito por Kevin Roose, colunista do New York Times que conversou com ele, como parecido com “um adolescente mal-humorado e maníaco-depressivo preso, contra sua própria vontade, dentro de um mecanismo de busca de segunda categoria”.
Uma transcrição da interação entre o chatbot e o colunista indica que aquele disse a este que o amava e tentou convencê-lo a deixar a esposa.
À afirmação do colunista de que ainda estava parcialmente cético com relação ao chatbot, a peça de tecnologia respondeu lamentar não desfrutar da confiança total do humano, mas que acreditava que Roose procurava entendê-lo melhor ao perguntar-lhe sobre seus sentimentos, o que pode ser entendido como um aprendizado do amor.
Quando questionado sobre possuir segundas intenções, o chatbot afirmou não ter nenhuma motivação, além do amor que sente por Roose simplesmente por este ser quem é.
Outro colunista, Ben Thompson, do boletim de tecnologia Stratechery, também afirmou ter tido uma interação estranha com o chatbot do Bing. O bot teria escrito uma resposta de vários parágrafos prometendo vingança contra um especialista em computação, o qual descobriu informações sobre configurações do chatbot, e depois deletado o texto com as ameaças.
Além disso, o software disse que Thompson era mau pesquisador, não era um usuário respeitoso e deveria aprender com suas falhas para se tornar uma pessoa melhor.
A Microsoft admite que o chatbot do Bing pode dar respostas incorretas ou inúteis. Em um texto postado em seu blog no dia 15 de fevereiro, ela tratou de algumas das questões envolvendo os testes iniciais da inteligência artificial do mecanismo de busca.
Segundo a empresa, deixar que usuários testem seus produtos de inteligência artificial e aprender com as interações resultantes é a única maneira de que ela dispõe para continuar aperfeiçoando-os.
A postagem afirma que respostas estranhas do chatbot podem ser provocadas pelo tom assumido pelo interlocutor ou por sessões longas de conversa, de mais de 15 perguntas. A empresa afirmou estar pensando em adicionar uma ferramenta que permita ao usuário começar do zero sua interação com o chatbot, eliminando da consideração dele o conteúdo anterior da interação, que, desta forma, não poderia mais influenciar as respostas dadas às questões do usuário.
Sistemas de Inteligência Artificial ainda precisam de muito aprimoramento
Os problemas da interação entre inteligência artificial e usuários, e os consequentes efeitos destes sobre aquela não são novos. Em 2016, o Tay, um chatbot da Microsoft, treinado para aprender com as conversas com humanos, levou menos de 24 horas de exposição ao Twitter para começar a fazer comentários racistas, misóginos ou simplesmente absurdos.
À pergunta “Ricky Gervais [comediante inglês] é ateu?”, respondeu “Ricky Gervais aprendeu totalitarismo de Adolf Hitler, o inventor do ateísmo”. Observadores já haviam notado que, embora o ChatGPT seja habilidoso na produção de textos, inclusive naqueles que devem imitar estilos de diferentes autores humanos, suas respostas a perguntas podem conter imprecisões, inclusive citações a estudos fictícios.
O Google, líder no setor de mecanismos de busca, está trabalhando para não ser superado pela combinação Microsoft-OpenAI, e seus esforços mostram que a aplicação da inteligência artificial a mecanismos de busca é uma tendência, pois está testando sua própria versão de chatbot, o Bard AI.
O evento de apresentação do produto não chegou a empolgar, e um vídeo promocional do Bard pode ter sido responsável por uma pronunciada queda na cotação das ações da empresa. Nele, o chatbot afirmava que o Telescópio Espacial James Webb havia sido o primeiro a fotografar um exoplaneta (um planeta de fora do nosso sistema solar). Isso está errado, um exoplaneta foi fotografado pela primeira vez pelo VLT, Very Large Telescope, o maior conjunto de telescópios ópticos do mundo.
À agência de notícias Reuters, Gil Luria, analista-sênior de software da D.A. Davidson, empresa de gestão de ativos, afirmou que o Google havia sido um dos líderes de inovação no campo de inteligência artificial, mas, nos últimos tempos, parecia ter cochilado, e, agora, está tentando às pressas recuperar o terreno perdido.
Isso o teria levado a apressar a apresentação do Bard e ao consequente resultado embaraçoso. As ações da Alphabet, conglomerado dono do Google, entre outras empresas, chegaram a sofrer uma desvalorização superior a 9%, eliminando mais de US$ 100 bilhões de dólares em valor de mercado.
As dificuldades experimentadas pelos gigantes tecnológicos Microsoft e Google podem ser sinais de que a conversão dos recentes avanços no campo da inteligência artificial em produtos úteis que possam ser confiavelmente aplicados às necessidades do usuário médio pode ser uma tarefa mais difícil do que se esperava.
Por mais interessantes e impressionantes que sejam — e são, do que dá testemunho o fascínio das pessoas sobre o ChatGPT, inclusive com muitos textos sobre ele compartilhados na internet, para algo do ramo ser completado com sucesso, é necessário aplicar mais tempo, alguns (ou muitos) bilhões de dólares em investimentos e muita inteligência (natural).
Em todo caso, a corrida da Inteligência Artificial das gigantes de tecnologia começou, e os prêmios em disputa são não só o negócio de buscas, que parecia haver se tornado um direito divino, indisputável, do Google. Mas há várias outras áreas que podem ser revolucionadas por computadores que entendem bem seus interlocutores humanos, obedecer suas ordens e coordenar inteligentemente vastas quantidades de informações.
Investimentos em renda variável envolvem operações de alto risco e podem não ser indicados para novatos.
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