Ao planejar a aposentadoria, muitos de nós sonhamos com um futuro financeiramente seguro e confortável.
No entanto, alcançar essa segurança muitas vezes parece um desafio, especialmente no cenário econômico imprevisível em que vivemos no Brasil.
Felizmente, existem estratégias de investimento que podem ajudar a construir um fluxo de renda estável para a melhor idade. Uma dessas estratégias é o investimento em ativos que pagam dividendos.
Mas, como exatamente os dividendos funcionam e de que maneira eles podem ser usados para melhorar sua aposentadoria?
Explicaremos em mais detalhes tudo sobre o mundo dos dividendos, como selecionar ativos de dividendos de alta qualidade, estratégias para maximizar seus retornos e como isso pode impactar positivamente a sua aposentadoria.
Entendendo os dividendos
Dividendos, também chamados de proventos, são porções dos lucros de uma empresa distribuídas aos acionistas.
Esses pagamentos, geralmente efetuados em dinheiro, são uma forma de a empresa compartilhar seu sucesso financeiro com aqueles que investiram nela.
Para os investidores, os dividendos representam um retorno direto sobre o investimento (ROI), refletindo o desempenho e a estabilidade financeira da empresa.
Os dividendos são expressos geralmente de duas formas: como um valor fixo por cota ou como um percentual do preço atual da cota, conhecido como “dividend yield”.
Por exemplo, se uma empresa paga R$ 1,00 de dividendo por cota e você possui 100 cotas, você receberá R$ 100,00 em dividendos.
Da mesma forma, se o dividend yield é de 5% e você possui cotas no valor de R$ 1.000,00, seus dividendos serão de R$ 50,00.
Como e quando os diferentes ativos pagam dividendos
A frequência e o método de pagamento dos dividendos podem variar consideravelmente de uma empresa para outra.
Na maioria dos casos, os dividendos são pagos trimestralmente, mas algumas empresas optam por pagamentos mensais, semestrais ou anuais.
A política de dividendos de uma empresa é geralmente influenciada por seus fluxos de caixa, estabilidade de ganhos, necessidades de reinvestimento e a regulamentação ou práticas comuns do mercado em que opera.
Além das ações, os dividendos também podem ser pagos por ativos como fundos de investimento imobiliário (FIIs) e certos tipos de fundos de investimento.
Esses ativos seguem lógicas próprias de distribuição de lucros. Por exemplo, os FIIs são conhecidos por distribuírem rendimentos mensais, derivados de aluguéis e operações imobiliárias, enquanto alguns fundos de investimento pagam dividendos com base em critérios específicos definidos em suas políticas de investimento.
Datas de declaração, ex-dividendo e pagamento de dividendos
Entender as datas relacionadas aos dividendos é fundamental para poder melhorar sua aposentadoria com eles.
Primeiramente, temos a data de declaração, que é quando a empresa anuncia o pagamento do dividendo, especificando o valor por cota.
Em seguida, temos a data ex-dividendo, o primeiro dia em que as cotas são negociadas sem o direito de receber os dividendos anunciados na declaração.
Nesta data, o preço das cotas no mercado se ajusta para compensar a distribuição dos dividendos que irá ocorrer.
Por exemplo, se uma determinada ação declara que irá pagar R$ 5,00 em dividendos e valia R$ 50,00 no dia anterior à data ex-dividendo, ela “abrirá o mercado” no dia seguinte valendo algo em torno de R$ 45,00.
Por fim, a data de pagamento é quando o dividendo é efetivamente pago e creditado à conta dos acionistas.
Como os dividendos podem melhorar sua aposentadoria
Os dividendos representam uma fonte vital de renda para muitos investidores, especialmente aqueles que estão próximos de se aposentar ou já aposentados.
Ao proporcionarem um fluxo de renda regular e potencialmente crescente, os dividendos podem ser um complemento significativo para outras fontes de renda na aposentadoria, como a previdência social (INSS) ou pensões.
Uma das grandes vantagens dos dividendos para os aposentados é a geração de renda sem a necessidade de vender ativos.
Dessa forma, os investidores podem manter seu capital investido, beneficiando-se da valorização de longo prazo, enquanto recebem um pagamento periódico que ajuda nas despesas diárias.
Isso é especialmente atraente em um cenário de juros baixos, onde opções de investimento em renda fixa podem não oferecer retornos significativos.
Proteção que os dividendos oferecem aos aposentados
Historicamente, os dividendos têm desempenhado um papel crucial para os aposentados.
Muitas empresas, principalmente as que são consideradas “blue chips”, possuem um histórico de não apenas pagar, mas também aumentar seus dividendos ao longo dos anos.
Além disso, investir em ações que pagam dividendos regulares e crescentes pode ajudar a combater a inflação, outro aspecto crucial na gestão da renda da aposentadoria.
A inflação pode erodir o poder de compra ao longo do tempo, um dos maiores problemas enfrentados pelo INSS hoje. Isto acaba empobrecendo os aposentados no momento em que eles mais precisam.
Os dividendos que aumentam periodicamente podem oferecer um meio de ajustar a renda da aposentadoria para manter o poder de compra em patamares saudáveis.
Opção de renda alternativa aos problemas do INSS
Para aqueles que se preocupam com a viabilidade de longo prazo do INSS, investir em ações que pagam dividendos pode oferecer uma forma de construir uma independência financeira mais robusta, diminuindo a dependência do sistema de previdência social.
Fatores como o envelhecimento da população e as mudanças nas políticas governamentais são um dos mais discutidos ultimamente, justificando o porquê de a “conta não fechar” quando se trata da previdência social brasileira.
Os valores pagos pelo INSS geralmente são corrigidos pela inflação, mas esse ajuste nem sempre reflete as necessidades reais dos aposentados.
Ao investir em empresas e fundos imobiliários, que são considerados ativos reais, você tem a garantia de que os rendimentos gerados por eles serão devidamente corrigidos pelos seus custos reais.
Dividendos são isentos de imposto de renda
No momento em que escrevo este artigo, todos os dividendos distribuídos por ações e proventos de fundos imobiliários são isentos de imposto de renda.
Caso não fossem, isto pode ter um impacto muito significativo na sua renda e no patrimônio que você acumularia ao longo dos anos.
Por exemplo, se a renda de dividendos ou proventos seguisse a mesma tabela progressiva de impostos utilizada pelos títulos de renda fixa, seu “salário” da aposentadoria seria comprometido em 22,5%.
Como investir para melhorar sua aposentadoria com dividendos?
Investir em dividendos como uma estratégia a longo prazo é uma abordagem considerada por muitos como uma das mais seguras e estáveis no mundo dos investimentos.
Essa tática consiste em escolher ativos sólidos e bem estabelecidos que possuem um histórico consistente de pagamento de dividendos eproventos.
Neste caso, o foco não está na valorização rápida do capital investido, mas sim na geração de renda passiva e no crescimento sustentável do investimento ao longo do tempo.
Como já foi mecionado, existem várias opções que podem melhorar sua aposentadoria com dividendos. Entretanto, no Brasil, há dois que são mais populares e direcionados para aposentados.
Melhorando sua aposentadoria com dividendos de ações
Escolher boas ações pagadoras de dividendos é uma tarefa que requer análise e compreensão de vários fatores financeiros e de mercado.
Abaixo segue um passo a passo de como escolher boas ações pagadoras de dividendos.
1. Verifique o histórico de pagamento de dividendos
Procure por empresas com um histórico longo e consistente de pagamento de dividendos.
Empresas que mantêm ou aumentam seus dividendos regularmente geralmente demonstram estabilidade financeira.
Verifique também como estava a distribuição de dividendos dessas empresas em momentos de crise.
Como aposentado, é fundamental que as empresas possuam reservas suficientes para continuar lhe pagando mesmo em momentos turbulentos.
2. Analise o índice de pagamento de dividendos
O Dividend Payout, ou índice de distribuição de dividendos, indica qual porcentagem do lucro líquido está sendo paga em forma de dividendos.
Uma razão de pagamento sustentável (geralmente entre 35% e 60%) sugere que a empresa pode manter seus pagamentos de dividendos sem comprometer seu crescimento ou estabilidade financeira.
Fique atento para empresas que mantêm um payout superior a 90%, pois podem estar sacrificando parte do seu crescimento apenas para satisfazer os acionistas.
Lembre-se, dividendos que não crescem em valor ao longo do tempo não conseguirão protegê-lo do aumento dos preços (inflação) e dos seus custos fixos.
3. Avalie a saúde financeira da empresa
Examine os fundamentos da empresa, incluindo fluxo de caixa, lucro líquido, dívida e receita.
Uma empresa com sólida saúde financeira e bom desempenho operacional é mais provável de continuar pagando e aumentando seus dividendos.
4. Leve o indicador Dividend Yield em consideração
O Dividend Yield, ou rendimento de dividendo, mostra a relação entre o dividendo por ação pago nos últimos 12 meses e o preço da ação no momento.
Embora um alto dividend yield possa ser atraente, é importante analisar se os dividendos são sustentáveis a longo prazo e não apenas um atrativo momentâneo.
Por se tratar de um indicador que varia com o valor atual da ação, vale a pena também analisar o seu histórico ao longo dos anos. Assim, você pode entender melhor se um dividend yield alto é de fato uma política da empresa.
5. Fique atento às tendências de setor e mercado
Alguns setores são historicamente mais propensos a pagar dividendos, como o de utilidades públicas, energia, bens de consumo e instituições financeiras.
No entanto, é essencial entender como as tendências do mercado e fatores econômicos podem afetar esses setores.
Por exemplo, cenários onde a taxa básica de juros (Selic) está elevada geralmente proporciona ótimos resultados para os bancos e seguradoras.
Por outro lado, cenários de crescimento e expansão econômica favorecem empresas mais voltadas a bens de consumo e incorporadoras imobiliárias.
6. Diversifique seu portfólio
Ter uma carteira de ativos diversificada talvez seja o único “almoço grátis” no mundo dos investimentos.
Incluir ações de diferentes setores e regiões pode ajudar a mitigar riscos. A diversificação ajuda a proteger seu portfólio contra a volatilidade de um único setor ou mercado.
Além disso, esta diversificação impede que você corra o risco de ir à ruína. Dessa forma, você não perderá todo capital investido caso alguma empresa vá à falência, porque ele estará distribuído em vários investimentos diferentes.
Melhorando sua aposentadoria com proventos de fundos imobiliários
Apesar de ações pagadoras de dividendos serem uma ótima opção, acredito que, para o nosso caso, fundos imobiliários (Fiis) sejam ainda melhor.
Para aposentados, investir em Fiis é a melhor maneira de ter seu capital investido no mercado imobiliário e impulsionar a sua renda da aposentadoria.
Através de Fiis, você consegue investir em diversos imóveis espalhados por todo o Brasil com apenas uma única cota, estando altamente diversificado com pouquíssimo capital.
Além disso, fundos imobiliários são obrigados a distribuir pelo menos 95% dos seus resultados aos seus acionistas mensalmente na forma de proventos.
Isso os torna a classe de investimento mais voltada para geração de renda, sendo ideal para aposentados que precisam de dividendos com regularidade.
Abaixo estão os passos mais importantes para você verificar antes de escolher ótimos fundos imobiliários.
1. Verifique o histórico de distribuições
Assim como as ações, analisar o histórico de distribuições do FII pode dar uma ideia sobre a consistência e regularidade dos pagamentos de dividendos.
Apesar de serem obrigados a distribuir quase a totalidade de seus lucros, Fiis que tiveram péssimos resultados ou prejuízos não são obrigados a distribuir proventos.
Por isso, opte por fundos que tenham histórico de distribuições sólidas e consistentes ao longo dos anos.
2. Analise o Dividend Yield
Como dito anteriormente, você utiliza este indicador tanto para ações quanto para fundos imobiliários.
Mas lembre-se, um yield atraente pode indicar bom retorno, mas é essencial investigar se os dividendos são sustentáveis e se não estão inflados por eventos não recorrentes.
3. Qualidade dos ativos
Avalie a localização, a qualidade e a diversificação dos imóveis que compõem o portfólio do fundo.
Fundos com ativos bem localizados e de alta qualidade geralmente apresentam menor vacância e inadimplência, permitindo resultados e distribuições mais saudáveis de proventos.
5. Entenda o tipo do fundo
Divida os fundos imobiliários em duas classes principais: os “fundos de tijolo” e os “fundos de papel”, e é muito importante conhecer a diferença entre eles antes de investir.
Os fundos de tijolo constituem a classe mais comum e lembram mais o nosso dia a dia, porque são imóveis físicos para alugar para inquilinos.
Fundos de tijolo possuem a vantagem de ser ativos reais, ou seja, são pedaços tangíveis de terrenos, estruturas, prédios, lajes, galpões, entre outros. Isso faz com que seus ativos sejam naturalmente corrigidos pela inflação, o que preserva o seu valor.
Já os fundos de papel são títulos de renda fixa para o setor imobiliário.
Ou seja, são papéis com fluxos de recebimento de dinheiro que variam conforme as taxas, riscos, prêmios, origens e vencimentos.
Assim, quando esses títulos realizam pagamentos, a gestora do fundo de papel se encarrega de distribuí-los ao seus acionistas.
5. Fique atento à taxa de vacância
Uma baixa taxa de vacância indica que a maioria dos imóveis do fundo está alugada, o que tende a garantir uma receita mais estável.
Taxas de vacância elevadas mostram que a gestora do fundo imobiliário não está conseguindo captar ou reter inquilinos para o seus imóveis, o que poderá comprometer a renda por cota distribuída.
5. Gestão do fundo e taxas de administração
A qualidade da gestão é algo crucial no mundo dos fiis, pois, querendo ou não, eles ainda se classificam como fundos de investimento.
Fundos geridos por equipes com experiência e conhecimento do setor imobiliário tendem a fazer escolhas mais acertadas e a gerar mais valor para os cotistas.
Fique atento também às taxas de administração ou qualquer outra taxa que pode estar envolvida no investimento de um fundo específico.
Muitas vezes, taxas elevadas de adminitração ou performance podem fazer com que um investimento bom se torne ruim, pois boa parte do seu capital seria corroído por essas taxas ao longo do tempo.
5. Transparência e relatórios
Priorize fundos que fornecem relatórios detalhados e são transparentes em sua comunicação. A clareza nas informações auxilia na compreensão da saúde e das perspectivas do fundo.
6. Liquidez das cotas
A liquidez significa que você pode negociar um ativo no mercado com facilidade ou transformar em dinheiro em espécie caso necessário.
Fundos com maior volume de negociação na bolsa tendem a oferecer maior liquidez. Isso pode ser importante caso você necessite vender ou comprar cotas rapidamente.
Evite fundos com baixa liquidez, pois eles não apenas podem trazer dificuldades na hora de “sair”, mas seus preços podem ficar altamente distorcidos devido à falta de negociação.
7. Indicador Preço/Valor Patrimonial
Este talvez seja um dos indicadores mais utilizados na hora de investir em um Fii, juntamente com o Dividend Yield.
O Preço/Valor Patrimonial (P/VP), indica a relação do preço atual de uma cota do fundo com o valor dos seus imóveis.
Um índice abaixo de 1 pode indicar que um fundo talvez esteja mais barato do que o que realmente vale seus imóveis.
Já um índice maior que 1 indicaria o contrário, pois seu preço está mais elevado do que a carteira de propriedades contida no fundo.
Entretanto, não se deve nunca observar indicadores de forma isolada, inclusive o P/VP. Dessa forma, uma empresa imobiliária avalia o valor patrimonial de um fundo, tornando-o um valor estimado que pode não refletir a realidade.
Potenciais riscos da sua aposentadoria com dividendos
Apesar de dividendos e proventos serem uma ótima opção para renda de aposentadoria, é extremamente importante que os aposentados entendam os riscos envolvidos nessa estratégia.
Ações, fundos imobiliários, fundos de investimento, BDRs e todos os outros ativos que geram dividendos são classificados em Renda Variável.
Isto significa que, apesar da elevada segurança das grandes corporações e de imóveis robustos, não existe nenhuma garantia de lucros ou recebimento de proventos.
Diferentemente da renda fixa, onde seus retornos entram no acordo antes do investimento, renda variável significa que todos os ativos desta categoria oscilam diariamente e sofrem influências direta do desempenho econômico do país e do mundo.
Dito isso, é fundamental que os investidores estejam cientes desses riscos antes de realizarem qualquer aplicação em renda variável.
Considerações finais
Em resumo, entender e utilizar os dividendos como parte de sua estratégia de aposentadoria pode trazer inúmeros benefícios.
Além de oferecer uma fonte de renda alternativa, os dividendos proporcionam uma camada extra de proteção financeira, especialmente frente às incertezas do INSS e outras fontes tradicionais de renda na aposentadoria.
Investir pensando em dividendos e proventos, seja por meio de ações ou de fundos imobiliários, ainda requer uma abordagem focada e estratégica.
É fundamental selecionar cuidadosamente seus investimentos, visando não só a geração de renda passiva, mas também a segurança e o crescimento do capital investido a longo prazo.
Além disso, é importante lembrar que, no Brasil, os dividendos oferecem vantagens tributárias, sendo isentos de imposto de renda, o que potencializa ainda mais seu impacto positivo na renda do aposentado.
Como cada investidor possui um perfil, situação e objetivos diferentes, o caminho para melhorar sua aposentadoria com dividendos deve começar com educação financeira e, se necessário, com a orientação de profissionais especializados.
Com paciência, disciplina e conhecimento, os dividendos podem se tornar uma fonte robusta e confiável para uma aposentadoria mais segura e confortável durante a sua melhor idade.