A B3 o ACX Group vão criar uma plataforma para negociação de créditos de carbono no Brasil, com lançamento previsto para o trimestre de 2024. Com isso, as organizações planejam conectar um dos maiores mercados de carbono do mundo a companhias que precisam, urgentemente, diminuir o impacto de suas emissões.
A plataforma vai funcionar como um espaço de negociação entre compradores internacionais de crédito de carbono e organizações brasileiras que contribuem para a redução de CO2.
Desse modo, empresas poluidoras obtêm créditos de carbono que, de certo modo, podem compensar o impacto negativo de suas operações sobre o meio-ambiente. A B3, bolsa de valores mobiliários com sede em São Paulo, vai destinar até R$ 10 milhões no projeto.
“O Brasil tem potencial para ser um dos maiores fornecedores de créditos de carbono no mundo e a B3 está comprometida em impulsionar esse mercado no país, fornecendo um ambiente seguro, com transparência de preços e integrado para negociação de créditos que contribua para acelerar a transição para um futuro mais sustentável”, destaca Leonardo Paulino Betanho, superintendente de Produtos Balcão da B3
Por um lado, empresas geradoras de créditos do Brasil poderão entrar na plataforma e registrar os créditos disponíveis para negociação. Por outro, a parceria com o ACX Group, dos Emirados Árabes Unidos, viabilizará o acesso de investidores internacionais a esses emissores de créditos de carbono no Brasil.
Além disso, a B3 pretende “adicionar uma camada de integridade na cadeia de negociação desse produto, para adequada formação de preço” – conforme informou em comunicado.
Como funciona mercado de crédito de carbono
Como mencionado inicialmente, o mercado de crédito de carbono oferece às empresas a oportunidade de compensar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Isso se dá por meio da compra de créditos de carbono gerados por projetos responsáveis pela redução ou remoção de gases de carbono na atmosfera.
Esses créditos podem ser comercializados após verificações que se baseiam em metodologias de certificações internacionais.
Esse modelo não é um consenso, mas pode ser bem melhor do que nada. O que acontece é que empresas do setor industrial, que emitem muito CO2 ou equivalente, são criticadas por, de certa maneira, terceirizar o problema.
Essas companhias não fazem mudanças significativas no seu modelo de negócios e operações, a fim de reduzir seu impacto ambiental. Em vez disso, compram créditos de empresas que têm saldo positivo na redução de emissão de carbono. Dessa maneira, podem cumprir metas de neutralidade exigidas formalmente em alguns países.
Mercado de capitais x sustentabilidade
Por enquanto, essas exigências ainda não obrigatórias no Brasil. Ou seja, já existem projetos nesse sentido, mas ainda não há um mercado regulado de carbono no país. As empresas que optam por neutralizar suas emissões o fazem de forma voluntária.
Por isso, o foco da plataforma B3 e do ACX se concentra, inicialmente, em investidores internacionais. Dessa maneira, contemplam empresas que têm, necessariamente, de obter créditos de carbono para continuar na ativa.
“Estamos animados com essa parceria com a B3 no Brasil. O negócio conecta um dos maiores mercados de carbono do mundo à ampla rede da ACX. Com parceiros fortes e tecnologia de negociação líder no mercado, nosso objetivo é apoiar os esforços do Brasil para promover o desenvolvimento sustentável e expandir seu mercado de carbono”, afirma William Pazos, Co-Fundador e Co-CEO da ACX.
Nesse contexto, o mercado de capitais desempenha um papel importante, viabilizando meio do financiamento (crédito e emissão de dívida), proteção e infraestrutura de negociação.
E o Brasil se destaca como um destino de interesse para investimentos financeiros em títulos temáticos (títulos verdes, sociais e sustentáveis). Segundo a B3, há um rápido crescimento da oferta de produtos temáticos na bolsa brasileira, com foco sustentabilidade e nas práticas ESG.
O desafio da emergência climática e o potencial do Brasil
Vale lembrar que, na COP28, o presidente Lula destacou a importância de agir imediatamente para conter a emergência climática. A meta mundial é limitar o aquecimento global a 1,5°C acima das temperaturas pré-industriais.
Na 28ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP28), o presidente salientou que “o planeta já não espera para cobrar da próxima geração”. A conta chegou antes, reforçou Lula.
Por seu potencial para neutralizar ou reduzir as emissões de carbono, o país representa um grande alvo para investidores com foco em preservação ambiental. Mas esses investimentos precisam vir logo, e enfocar a preservação de ecossistemas já bastante degradados e ameaçados, como a Amazônia.
Durante o evento, o governo brasileiro apresentou seu Plano de Transformação Ecológica. O documento busca nortear ações que permitam à economia nacional combinar crescimento, inclusão social e sustentabilidade. Lembrando que, em 2025, o Brasil sediará a COP 30, que será realizada em Belém (Pará).