A Spotifty anunciou que vai expandir a parceira com da Google Cloud, para explorar modelos de linguagem de grande escala (LLMs), braço de texto da inteligência artificial generativa.
LLM vem da sigla em inglês, que corresponde a Large Language Models. Essa tecnologia permite criar avançados sistemas de inteligência artificial conversacional, que levam a outro patamar a comunicação com os humanos via texto ou voz.
Em outras palavras, são modelos de inteligência artificial que podem aprender e gerar texto a partir de grandes volumes de dados textuais, por meio de machine learning. Pensou ChatGPT? Pois, sim, essa é uma das ferramentas que trabalham esse recurso, junto com sistemas de empresas como Google, Microsoft e Amazon.
Gigante do setor de streaming de áudio, a Spotify busca, por meio dessa parceria, entender melhor as preferências dos usuários e gerar recomendações mais personalizadas. Dessa forma, vai aprimorando a experiência que oferece.
Esse é o mais recente passo da parceria entre a Spotify e a Google Cloud, que começou em 2016 e segue firme. Ao se aliarem e tirarem proveito da expertise de cada empresa, as duas companhias aceleram a evolução do setor de áudio.
Esse trabalho abre à Google Cloud a possibilidade de ter acesso aos valiosos dados da Spotify, que possui nada menos que 550 milhões de usuários ativos em sua rede global. Além do grande volume, essa é uma audiência altamente engajada, o que representa um grupo ideal para treinar e desenvolver LLMs.
Streaming de áudio tem grande potencial no Brasil
O Brasil, especificamente, tem um enorme potencial para experimentações e avanços com relação ao uso da inteligência artificial no streaming de áudio.
Pesquisa da GWI realizada neste ano mostrou que o Brasil e Indonésia lideram o ranking de usuários de internet que ouvem música vai serviços de streaming toda semana. O levantamento foi feito com base em entrevistas com pessoas de 16 a 64 anos de idade (veja gráfico a seguir).
Outro estudo, conduzido pela Kantar Ibope Media no Brasil, revelou que 90% das pessoas consomem áudio durante o dia. Além disso, o relatório mostrou que, entre os novos meios para consumo de áudio, os podcasts e os streamings são os formatos que mais têm se popularizado.
O que isso vai gerar na prática
A Spotify planeja aplicar MMLs em três áreas:
- Descoberta de conteúdo – IA vai analisar o robusto catálogo de música, podcasts e audiobooks da Spotify para melhorar a análise de metadados. O objetivo, aqui, é oferecer recomendações mais relevantes.
- Personalização – essa tecnologia vai aprimorar o entendimento dos hábitos da audiência da Spotify. Dessa forma, a empresa busca sugerir conteúdo cada vez mais sintonizado com as preferências de cada pessoa.
- Segurança – ademais, o uso dos MMLs deve ajudar a Spotify a identificar e remover conteúdo ofensivo ou inapropriado da sua rede. Esse é um diferencial importante nesta época de crescente desinformação e dificuldade de discernir o que é ou não fraudado.
Na medida em que essas iniciativas forem ganhando tração, experiências mais intuitivas e user-friendly poderão ser oferecidas aos usuários, com uma precisão cada vez mais afiada no campo da personalização e das recomendações de conteúdo.
Em efeito cascata, as evoluções no campo da IA generativa, resultantes dessa robusta parceria entre Spotify e Google Cloud, devem ser gradualmente absorvidas por outras plataformas de entretenimento digital.
Alargando os usos da inteligência artificial
Ao anunciar a parceria, a Spotify destacou que essa nova colaboração com a Google Cloud representa um marco para a evolução da tecnologia usada pela plataforma.
Apesar de já investir há bastante tempo em IA, o acelerado desenvolvimento desse recurso nos últimos anos alarga as possibilidades de otimizar serviços e criar produtos.
Esse movimento também visa à diversificação de receitas. A Spotify planeja replicar o sucesso das recomendações no campo da música para outras áreas em que já atua, como podcasts e audiobooks.
Entre os exemplos das investidas da empresa nesses outros setores, estão ferramentas lançadas recentemente, a exemplo de um recurso em tempo real para transcrição de podcasts.
Além disso, a Spotify também desenvolveu um DJ virtual, que usa IA generativa para criar playlists personalizadas e fornecer informações sobre as músicas recomendadas.
Essa parceria deixa bem claras as estratégias da Spotify para aumentar o engajamento em sua plataforma por meio da IA generativa. Ao mesmo tempo, evidencia as diversas oportunidades que essa tecnologia abre para o streaming de áudio. Particularmente no campo de search, recomendação e categorização de conteúdo.
Ética precisa entrar nesse combo
Há, no entanto, um porém. Qualquer organização que pretende explorar os recursos e possibilidades trazidos por MMLs precisa considerar o aspecto ético desses processos.
Ao recorrer a esse recurso para oferecer ambientes mais seguros, a Spotify está respondendo a demandas crescentes com relação à desinformação e preconceito, por exemplo.
Isso se aplica ao ecossistema das plataformas digitais de uma maneira geral, mas, particularmente, ao uso da IA generativa. Isso se deve ao avançado poder de gerar textos e imagens a partir dos prompts recebidos e dos bancos de dados à sua disposição.
Essa habilidade tanto pode resultar em benefícios como em danos, se não houver cuidado com a forma como essa tecnologia está sendo treinada e evoluindo.
Aqui. entra em cena o intenso debate sobre regulação, que precisa se sofisticar na medida em que MMLs e outras vertentes da IA generativa se desenvolvem.
Não se trata de tolher a criatividade e o alargar de horizontes que essa tecnologia representa. Mas de não sublimar as ameaças que traz, sem que haja algum monitoramento e um cuidado rigoroso na forma como é alimentada e treinada.