CPI das Pirâmides
Entrevista Coletiva sobre o relatório final da CPI das Pirâmides (Vinicius Loures/Câmara dos Deputados)

O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Pirâmides Financeiras, que investigou esquemas fraudulentos envolvendo investimentos, reverberou no mercado das criptomoedas. Afinal, trouxe a plataforma de negociação Binance para o centro das atenções.

Os trabalhos da comissão foram encerrados no dia 9 de outubro, com a aprovação por unanimidade do relatório. Com 509 páginas, o documento está repleto de recomendações que incluem projetos de lei e indiciamentos, mas não se referem somente à Binance.

As conclusões sobre a Binance

Em resumo, entre os pontos mais importantes levantados pelo relatório, estão possíveis infrações por parte da exchange de criptomoedas Binance.

O deputado Alfredo Gaspar (União-AL) fez sugestões para que o Ministério Público Federal (MPF) investigue possíveis crimes da empresa que incluiriam:

  • Sonegação e evasão fiscal
  • Lavagem de dinheiro
  • Financiamento ao crime organizado e ao terrorismo

Além disso, a CPI sugeriu o indiciamento do diretor-geral da Binance no Brasil, Guilherme Haddad Nazar. O executivo havia sido ouvido pela comissão em setembro.

Guilherme Haddad Nazar, da Binance
Diretor-geral da Binance no Brasil, Guilherme Haddad Nazar (Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

Atuação com Capitual Instituição de Pagamento S.A

Uma das questões centrais em relação à Binance foi entender como a empresa recebe recursos dos investidores no Brasil.

Atualmente, a exchange mantém o dinheiro de seus clientes em uma “conta-ônibus”. Ou seja, o valor é depositado em uma instituição financeira associada à Binance, e não em nome dos usuários.

Em determinado momento, essa conta teria sido mantida sob titularidade da Capitual Instituição de Pagamento S.A. O que chamou a atenção foi o vínculo da Capitual com outro nome em evidência na CPI: Guilherme Silva Nunes.

Relatório da CPI das Pirâmides
Trecho do relatório que aponta ligação entre Binance e Guilherme Silva Nunes (reprodução)

Nunes ficou conhecido pela relação comercial com Eliane Medeiros de Lima, uma peça-chave no funcionamento da organização criminosa GAS.

Isso levou a suspeitas de que a Binance pode ter um controle pouco rígido sobre os depósitos de seus usuários. Além disso, a forma como o dinheiro é mantido em serviços de pagamento estaria ferindo diversas regras do Banco Central.

Por exemplo, um dos riscos apontados pela CPI é de que a empresa não esteja obedecendo aos mecanismos de prevenção à lavagem de dinheiro.

A comissão também apontou que o modelo de funcionamento da Binance poderia configurar uma pirâmide, caso a empresa (como alega Nazar) realmente não envie ou receba recursos do exterior.

A resposta da Binance

Em notas à imprensa, a Binance negou qualquer prática ilícita suas ou de seus funcionários. Alegou que não há comprovação sobre o que foi incluído no relatório. Além disso, sugeriu que as denúncias se devem à “posição de liderança da empresa no Brasil e no mundo”.

Em resumo, a empresa também se defendeu dizendo que sempre colaborou com os trabalhos da CPI e com outras autoridades para detectar e combater atividades suspeitas. Por fim, afirmou que atua em conformidade com o cenário regulatório brasileiro.

Apesar da seriedade das acusações, a Binance não divulgou nota oficial em seu site nem em redes sociais. No dia da aprovação do relatório, o perfil da empresa no Twitter tinha outro foco: o show de The Weekend patrocinado pela marca e realizado em São Paulo.

Isso significa que a Binance não quis dar visibilidade à citação na CPI? Expressa a confiança da exchange de que o caso não será levado adiante pelo Ministério Público?

Pode ser que ambas as opções estejam corretas. Outra possibilidade é que nenhuma esteja. Talvez um estagiário simplesmente tenha esquecido de publicar a posição da empresa, por exemplo.

Seja como for, em breve saberemos se a empresa sofrerá alguma consequência após as recomendações da CPI.

Possíveis desdobramentos da CPI das Pirâmides

O relatório final da CPI das Pirâmides Financeiras traz uma série de recomendações em relação à Binance e ao diretor-geral Guilherme Haddad Nazar.

Como já foi dito, a empresa e o executivo podem ser indiciados pelo Ministério Público Federal (MPF), caso o órgão acate a recomendação dos deputados.

Em suma, o MPF recebeu todos os documentos e informações coletadas em depoimentos pela CPI em mais de cinco meses de trabalho. O material inclui dados oriundos de quebras de sigilo que seguem confidenciais.

Já entre as recomendações administrativas, destacam-se aquelas feitas a órgãos como o Banco Central (BC) e a Receita Federal do Brasil (RFB).

O BC, aliás, recebeu comentários pouco sutis da comissão em seu relatório final. O órgão foi criticado pelo pouco interesse aparente em investigar a atuação da Binance.

O foco, no entanto, esteve em grande medida no que os deputados viram como táticas de evasão fiscal por parte da empresa. Por exemplo, foi sugerida a instauração de um processo administrativo para recolhimento de impostos de prestadores de serviços de ativos virtuais estrangeiros com atuação no Brasil.

No caso específico da Binance, também é recomendada uma auditoria e possível cobrança dos valores devidos pela empresa em impostos.

“Elas se beneficiam dos bilhões de reais transacionados anualmente em suas operações no País junto a consumidores brasileiros.”

Outro alvos incluem até Ronaldinho Gaúcho

Entre todos os alvos de depoimentos na CPI, nenhum viralizou mais que Ronaldinho Gaúcho. Ele depôs devido ao seu envolvimento com a empresa 18K, que oferecia investimentos com o seu nome e imagem.

A participação do ex-craque da Seleção Brasileira foi até certo ponto caricata.

Na maior parte do tempo, Ronaldinho ficou em silêncio. Inclusive, quando questionado sobre a qualidade dos produtos da Nike, sua antiga patrocinadora — o que arrancou risos da web.

No entanto, o carisma não o impediu de se tornar uma das pessoas indiciadas pela comissão. O ex-jogador Assis, irmão e empresário de Ronaldinho, teve o mesmo destino.

Além disso, a CPI se debruçou sobre outros casos importantes nos últimos anos. Aliás, a lista de empresas e pessoas indicadas reuniu nomes de destaque envolvidos em fraudes como as da GAS Consultoria, Braiscompany e Indeal, entre outras.

Lista de indiciados

Ao todo, a CPI das Pirâmides Financeiras indiciou 45 pessoas e 13 empresas. Confira abaixo a lista completa de nomes.

Pessoas:

  • Adriano Froes
  • Angelo Ventura da Silva
  • Antonio Inácio da Silva Neto
  • Augusto Julio Soares Madureira
  • Caio Almeida Lima
  • Carlos Eduardo de Lucas
  • Changpeng Zhao (fundador e CEO da Binance)
  • Christian Jardiel Guimarães Braz
  • Cristiane Soares Madureira do Nascimento
  • Daniel Ferreira de Sousa Mangabeira Dantas
  • Diego Ribeiro Chaves
  • Diorge Roberto de Araujo Chaves
  • Eliane Medeiros de Lima
  • Fabiano Lorite de Lima
  • Fabrícia Farias Campos
  • Fabrício Spiazzi Sanfelice Cutis
  • Fernando Fernandes Gomes
  • Francisco Daniel Lima de Freitas
  • Fransciley Valdevino da Silva
  • Glaidson Acácio dos Santos
  • Glaidson Tadeu Rosa
  • Gleidison da Costa Gonçalves
  • Guilherme Haddad Nazar (Binance)
  • Ivonelio Abrahão da Silva
  • José Augusto Madureira
  • Larissa Rodrigues Garcia Goulart Ferreira
  • Marcelo Lara
  • Marcia Pinto dos Anjos
  • Matheus Muller Ferreira de Abreu
  • Mirelis Yoseline Diaz Zerpa
  • Ângelo Ventura da Silva
  • Patrick Abrahão
  • Paulo Alberto Wendel Bau Segarra
  • Ramiro Julio Soares Madureira
  • Regis Lippert Fernandes
  • Ricardo Stradiotto
  • Roberto de Assis Moreira
  • Rodrigo Marques dos Santos
  • Rogério Júlio Soares Ferreira
  • Ronaldo de Assis Moreira (Ronaldinho)
  • Tassia Fernanda da Paz
  • Thiago Farias de Araújo Souza
  • Thiago Sarandy de Carvalho
  • Tunay Pereira Lima
  • Tania Silva Santos Madureira

Empresas:

  • 18K Ronaldinho
  • Atlas Quantum
  • Binance
  • Braiscompany
  • Gas Consultoria
  • Grow Up
  • Indeal Consultoria
  • MSK Investimentos
  • OWS
  • RCX Group Investimentos
  • Rental Coins
  • Trust Investing

Acesse aqui o relatório final completo da CPI.

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