Um dos bancos cripto mais importantes é o Silicon Valley Bank (SVB), o qual sofreu a maior falência bancária desde a crise de 2008. A instituição financeira, conhecida por financiar startups do setor tecnológico do Vale do Silício, sofreu intervenção dos reguladores, que a fecharam no dia 10 de março e assumiram o controle dos fundos depositados nela. Ele era o 16º maior banco americano e contava, no fim de 2022, com pouco mais de 200 milhões de dólares em ativos.
Segundo os responsáveis pela decisão, o banco estava com liquidez inadequada e se encontrava insolvente, o que tornou necessária a intervenção como forma de proteger o dinheiro dos depositantes.
Media teria sido implementada para evitar corrida aos saques em bancos cripto e também tradicionais
Entre as causas dos problemas que levaram ao colapso do Silicon Valley Bank, está a queda do valor de títulos de longo prazo em que o banco investiu boa parte de seus recursos, causada pelas sucessivas altas dos juros americanos no esforço do banco central dos Estados Unidos, o Fed, para debelar a inflação.
Como resultado, depositantes, o que incluiu a Founders Fund, empresa de capital de risco do bilionário Peter Thiel, começaram a sacar seus fundos, criando um clássico episódio do que é chamado de corrida aos depósitos, até que o banco não pudesse mais arcar com os pedidos de devolução de fundos, ficando insolvente.
Depositantes de outros bancos podem temer que o mesmo aconteça com as instituições em que eles têm seus fundos, o que causaria um pânico bancário. É esse tipo de contágio, que poderia abalar gravemente o setor bancário americano, que os reguladores estão tentando evitar.
Com essa finalidade, procuraram um comprador para o SVB, já que um bail-out com dinheiro público havia sido descartado pela Secretária do Tesouro, Janet Yellen, e conta com feroz oposição de boa parte dos políticos, que afirmam que a conta ficaria com os contribuintes.
Bail-out é um procedimento em que é feita uma injeção de liquidez em uma instituição, uma empresa, por exemplo, que esteja insolvente, para impedir sua falência.
Segundo a imprensa financeira (Financial Times, Wall Street Journal, Bloomberg etc.), a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), agência federal que segura os depósitos bancários até US$ 250 mil dólares, conduziu no fim de semana um leilão pelo Silicon Valley Bank. Os prazos para oferta de lances, segundo esses veículos jornalísticos, começou no sábado e terminou às duas horas da tarde de domingo.
Autoridades dizem que os clientes não ficarão no prejuízo
Paralelamente aos esforços feitos para encontrar comprador, medidas emergenciais foram sendo tomadas para fornecer segurança aos depositantes do SVB e dos demais bancos quanto à capacidade das autoridades de controlar a situação. O Departamento do Tesouro e a FDIC afirmaram que, na segunda-feira, todos os depositantes, mesmo aqueles cujos depósitos não estão segurados, terão acesso a seus fundos.
Apesar de elogios que recebeu de congressistas de ambos os grandes partidos americanos, a atuação dos reguladores têm sofrido críticas. O Wall Street Journal, por exemplo, perguntou em manchete onde eles estavam enquanto a crise se desenvolvia.
Karen Petrou, sócia da consultoria financeira Federal Financial Analytics, ouvida pelo site Político, afirmou que as autoridades falharam ao não se dar conta a tempo das fraquezas do SVB e de outro banco que entrou em colapso depois dele, o Signature, sediado em Nova Iorque. As autoridades que supervisionam o setor bancário, afirma Petrou, demoraram para agir e, por isso, quando o fizeram, tiveram que intervir maciçamente.
O colapso do Silicon Valley Bank, que veio pouco tempo depois do sofrido pelo cripto banco Silvergate, teve pesado efeito sobre o mercado de criptomoedas, que experimentou fortes baixas.
Um motivo para isso é a ligação do banco com o setor de tecnologia dos Estados Unidos, que vai além do financiamento de empreendimentos em seus estágios iniciais: muitas empresas de tecnologia, inclusive algumas ligadas ao setor cripto, deixavam dinheiro na instituição. Alguns exemplos de instituições ligadas ao setor cripto com fundos depositados no SVB são Circle, Avalanche e BlockFi.
Impacto da falência dos bancos cripto em alguns empreendimentos do setor
USDC Coin (USDC)
A Circle, empresa emissora da segunda maior stablecoin em capitalização de mercado, USDC Coin (USDC), admitiu no dia 10 de março que o SVB era um dos seis bancos em que ela mantinha os fundos que servem de lastro à sua moeda.
No dia seguinte, ela quantificou a situação: dos US$ 40 bilhões de dólares que lastreiam o USDC, pouco mais de US$ 3,3 bilhões de dólares estavam depositados no SVB, de onde ela tenta tirá-los sem sucesso desde o dia 9 de março.
O medo de que o lastro disponível não fosse o bastante para garantir a paridade de USD Coin com o dólar levou a um aumento do volume de vendas do ativo, o que fez com que ele perdesse valor e chegasse a ser cotado a menos de 87 centavos de dólar no dia 11 de março.
Contudo, o ativo foi revertendo as perdas e no domingo já havia voltado a ser negociado a mais de 99 centavos de dólar. As garantias da Circle de que usaria seus recursos e até, se necessário, capital externo para garantir o valor do USDC, somadas às notícias de que os reguladores protegeriam os depositantes provavelmente ajudaram a devolver a confiança no USDC.
Avalanche (AVAX)
Avalanche Foundation é a organização sem fins lucrativos que coordena e supervisiona o desenvolvimento da Avalanche, plataforma de fonte aberta para contratos inteligentes cujo token nativo chama-se AVAX.
A organização admitiu, em sua conta na rede social Twitter, ter pouco mais de US$ 1,6 milhão de dólares no SVB, lamentou os colapsos deste banco e do Silvergate e expressou esperança de que todos os depositantes recebam seu dinheiro.
In light of recent news, we would like to confirm that the Avalanche Foundation has no exposure to Silvergate and a little over $1.6mm of exposure to Silicon Valley Bank. Avalanche Foundation is saddened by the news about SI and SIVB, and hope that all depositors are made whole.
— Avalanche 🔺 (@avax) March 10, 2023
Embora no decorrer do fim de semana o Avalanche (AVAX) tenha experimentado quedas em sua cotação, este voltou aos níveis em que estava antes do começo da crise do Silicon Valley Bank.
BlockFi
Já a BlockFi, plataforma de empréstimos de criptomoedas que entrou com pedido de falência em novembro do ano passado, na esteira do colapso da FTX, tem mais de US$ 200 milhões de dólares depositados no SVB.
Esses recursos, investidos em um fundo de investimento, não estão necessariamente cobertos pela FDIC. É possível que esse emprego de fundos da empresa falida tenha constituído uma violação da lei de falências americana.
Quebra de grandes bancos cripto impactou o mercado como um todo
Mesmo criptomoedas que não estão ligadas a empresas com dinheiro depositado no SVB sofreram desvalorização com o colapso, que veio logo depois da falência do banco cripto Silvergate. Em conjunto, as duas quebras lançaram uma sombra de suspeição sobre o setor tecnológico.
Por exemplo, o Bitcoin, que, no começo de março, estava com cotação superior a US$ 23,6 mil dólares chegou a ser cotado a pouco mais de US$ 20 mil dólares no último fim de semana, isso antes de recuperar parte das perdas à medida que o mercado de criptomoedas se estabilizava com as garantias dadas pelos reguladores americanos e entrar na segunda-feira valendo mais de US$ 22 mil dólares.
Outras criptomoedas importantes seguiram padrões parecidos com o do Bitcoin. A Solana, por exemplo, começou março sendo negociada a mais de US$ 22 dólares. Sob o efeito conjunto das quedas de Silvergate e SVB, chegou a ser cotada a pouco mais de US$ 16 dólares, e entrou na segunda-feira, dia 13 de março, valendo pouco menos de US$ 20 dólares.
A quebra do Silicon Valley Bank (SVB) pode ter fortes efeitos sobre empresas brasileiras de tecnologia, pois, segundo o site de notícias sobre investimentos e negócios Bloomberg Línea, havia entre os depositantes de SVB startups brasileiras do setor tecnológico, algumas das quais não conseguiram sacar a tempo seus fundos. Em alguns casos, o valor a ser recuperado supera os US$ 10 milhões de dólares.
Legalmente, o FDIC não tem obrigação de garantir valores de depósitos superiores a US$ 250 mil dólares, embora talvez o faça para recuperar a confiança do público no setor bancário. Caso isso não aconteça, os depositantes cujos fundos não estiverem protegidos terão que se contentar em ser credores da massa falida e esperar para, talvez, receber seu dinheiro, possivelmente não todo, depois de um processo que pode se arrastar por anos.
O Nubank emitiu, no dia 11 de março, sábado, comunicado ao mercado em que afirmava não ter nenhuma exposição ao Silicon Valley Bank. Com essa medida, espera evitar pânico infundado entre seus acionistas.
Alguns analistas têm defendido que o colapso do SVB é uma prova de que o Fed foi muito longe ou pelo menos muito rápido com seus aumentos sucessivos da taxa de juros e precisa reverter o curso, ou pelo menos deixar que os juros se estabilizem por algum tempo para evitar submeter mais bancos à crescente pressão causada pela perda de valor de parte de seus ativos.
Investimentos em renda variável envolvem operações de alto risco e podem não ser indicados para novatos.
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