tokenização no campo

Neste ano, a feira de inovação de tecnologia agrícola Show Rural Coopavel, que é realizada há mais de três décadas em Cascavel, município do oeste do estado do Paraná, foi o cenário de mais um passo dado na disseminação do uso de ativos digitais no Brasil e na expansão de suas aplicações.

No evento, Wagner Cruvinel, fazendeiro no município goiano de Silvânia, pagou com tokens parte da compra de um trator modelo T8, da New Holland. Este foi o primeiro caso no Brasil de aquisição de máquina agrícola com ativos digitais baseados na produção agrícola.

Segundo o Globo Rural, a transação pioneira foi possibilitada por uma parceria firmada pelo Banco CNH e pela Agrotoken, uma empresa fundada em 2021 na Argentina que iniciou suas atividades no Brasil no ano passado.

Empresa cria tokens que facilita transações agrícolas

A Agrotoken gera para agricultores tokens lastreados na produção armazenada deles, que pode ser de commodities como trigo, milho e soja. Foi com esses “grãos digitais” que Cruvinel fez a compra do trator T8.

Trata-se da aplicação de uma tendência que vem ganhando força, a tokenização de Real-World Assets (ativos do mundo real), produtos financeiros tradicionais ou real assets (“ativos reais”, aqueles que derivam valor intrínseco de suas propriedades físicas, como, por exemplo, commodities, equipamentos e imóveis).

Os ativos digitais gerados por essa tokenização são como stablecoins porque têm seus valores atrelados aos de outros ativos. No caso dos “grãos digitais” gerados pela Agrotoken, por exemplo, o valor dos tokens acompanha índices como o Esalq e o Cepea/B3. Os valores destes e outros índices relevantes podem ser encontrados no site da Agrotoken.

Cada token emitido corresponde a 1 tonelada da commodity que lhe serve de lastro. Assim, 1 token de milho tem o valor de 1 tonelada de milho, 1 token de soja tem o valor de 1 tonelada de soja, e 1 token de trigo tem o valor de 1 tonelada de trigo.

Eles podem ser trocados por serviços e produtos ou usados como garantias em operações de crédito, que são rastreadas com o uso da tecnologia blockchain, facilitando o acesso dos agricultores a capital para usarem em suas atividades.

Segundo o artigo do Globo Rural, Anderson Nacaxe, que é o diretor da Agrotoken no Brasil, a digitalização avança rapidamente no mercado agrícola, e os serviços da empresa auxiliam o agronegócio a democratizar-se ao expandir o acesso dos empreendedores rurais a oportunidades de crédito.

Também foi ouvido pelo Globo Rural, Eduardo Kerbauy, o vice-presidente da New Holland na América Latina. Para o executivo, o uso de tokens lastreados na produção rural na compra de máquinas agrícolas abre novas oportunidades para a empresa, para o setor em que ela atua de modo geral e para a agricultura do Brasil.

Heberson De Goes, presidente para a América Latina do Banco CNH Industrial, afirmou que a instituição incentiva a digitalização porque ela cria condições mais adequadas para a inovação, promove a flexibilidade e permite que a empresa atue de forma mais ágil para atender às necessidades dos seus clientes.

Tokenização voltada para o Agro iniciou na Argentina

Antes de começarem a ser usados no Brasil para a compra de equipamento agrícola, os tokens baseados na produção de graneleira já estavam sendo usados, graças ao ecossistema trazido para o Brasil pela Agrotoken, na compra de produtos como caminhonetes, por exemplo.

A primeira operação com ativo digital baseado em grãos na Argentina foi feita em uma loja da Starbucks, na qual um produtor usou um aplicativo para saldar uma conta com 0,021 token de milho, o que correspondia a pouco mais de US$ 4,20 dólares.

De acordo com Anderson Nacaxe, os tokens lastreados em produção agrícola tiveram grande aceitação na Argentina. Entre os benefícios de seu uso, está o fornecimento de liquidez aos fazendeiros, que ficam com parte significativa de seus recursos nos armazéns imobilizados.

A empresa espera, até o fim de 2023, ter tokenizados em sua plataforma mais de 1 milhão de toneladas de soja no Brasil. Também pode ser adotada em um futuro não muito distante a tokenização de outros produtos além de grãos, como etanol e carne.

Em seu site a empresa apresenta como vantagens do ecossistema baseado em blockchain alguns fatores, entre eles:

  • Criou a descentralização, que dispensa intermediários, reduzindo custos.
  • A transparência, obtida devido ao registro das operações na blockchain.
  • A segurança, derivada do uso de tecnologia de encriptação, que torna difícil que sejam bem-sucedidos ataques de hackers ao sistema.

Além disso, a Agrotoken pretende ampliar os países que ela atua, os produtos que converte em tokens e as possibilidades de uso dos ativos gerados assim.

Tokenização de ativos do mundo real pode ser tendência no setor cripto para 2023

No final do ano passado, um relatório da Messari, empresa de análise do mercado cripto, apontava os ativos do mundo real como uma das tendências que poderiam se destacar em 2023.

Atores do mercado cripto como, por exemplo, o protocolo de finanças descentralizadas MakerDAO, vem aumentando a atenção dedicada aos ativos do mundo real, fato citado por Messari em seu relatório.

Outro ator que vem fazendo uso da tokenização de ativos do mundo real em suas atividades é o protocolo de empréstimos Goldfinch, que explora oportunidades de mercados emergentes como a África.

Na África, as startups de tecnologia têm dificuldades para conseguir acesso a capital, apesar de o continente ser uma área passando por uma explosão na adoção de dispositivos ligados à internet. Além disso, é um mercado em que a demanda por soluções tecnológicas para as finanças vêm crescendo mais rapidamente.

Entre as dificuldades que as startups africanas enfrentam na obtenção de capital, estão a concorrência por fundos escassos com títulos do governo, investimentos em infraestrutura e empreendimentos mais bem estabelecidos e com mais recursos.

A abordagem da Goldfinch permite que os tomadores de empréstimos usem ativos do mundo real como garantia para empréstimos feitos com a tecnologia blockchain. Os emprestadores, no que lhes concerne, podem conseguir bons rendimentos para o capital que disponibilizam.

O estudo IMF 2022 Global Financial Stability Report do Fundo Monetário internacional, o FMI, divulgado no ano passado, estima que a utilização das finanças descentralizadas pode reduzir em até 12% por ano os gastos dos empreendimentos nos mercados emergentes, favorecendo o desenvolvimento local e promovendo melhorias do nível de vida da população.

Investimentos em renda variável envolvem operações de alto risco e podem não ser indicados para novatos.