Apesar do impressionante sucesso técnico que a transição da rede Ethereum (ETH) do mecanismo proof-of-work (usado também pela criptomoeda mais conhecida, o bitcoin) para o modelo de consenso proof-of-stake promete ser, para os investidores a situação é mais complicada e inspira certo ceticismo.
A rede baseada em proof-of-stake depende para a segurança de seu funcionamento a realização de staking (bloqueio) de uma quantidade dos ativos dela. A necessidade de bloqueio de ativos em grande quantidade terá, na opinião de analistas, efeito deflacionário sobre a criptomoeda em questão. Até aí, nada demais.
Queda do valor do ETH 2.0 parece ser o grande problema
O problema para os investidores será a interação do staking para validação com um mercado de criptomoedas em queda. Ao depositar 32 unidades de Ethereum (ETH) em um contrato 2.0 para a realização de staking, o investidor torna-se um validador. Com isso, acaba ativando software de validação que confirma a validade de transações e permite a formação e a manutenção de um consenso sobre o estado da rede.
Como explica o site ethereum.org, a validação é um bem público que protege a segurança geral do ecossistema Ethereum e os recursos de seus participantes, evitando que desapareçam ou que haja dúvidas sobre que ETH pertence a qual usuário da rede.
Como compensação por esse serviço para a comunidade Ethereum, os investidores-validadores são recompensados com novas unidades da criptomoeda. No momento, há pouco mais de 13,5 milhões de ETH em staking, o que corresponde a pouco mais ou pouco menos de um décimo de todas as unidades da criptomoeda que estão em circulação.
Os valores depositados em staking estão sendo remunerados a uma taxa de cerca de 4,2% ao ano.
O investimento em criptoativos pode não ser adequado para investidores novatos, que podem perder o total do valor investido.
Falta de data para saque completa o cenário ruim
No entanto, não há ainda uma data definida para que as unidades de ETH bloqueadas em staking e as recompensas pelo uso delas na validação possam ser sacadas, o que em um mercado de criptomoedas em queda é preocupante.
Estima-se que, em média, os investidores que colocaram seus ETH em staking tenham perdido 55% do valor em dólares deles. Dos que tiveram lucro (menos de um quinto dos depositantes no staking), a esmagadora maioria colocou seus ETH no staking quando a cotação da criptomoeda estava abaixo da marca dos 1000 dólares ao redor de janeiro do ano passado.
Essa situação, em que o prejuízo é disseminado e parece inevitável, levou a uma desaceleração considerável na taxa de novos depósitos em staking, o que faz desconfiar que, uma vez que as pessoas possam sacar seus ETH, os incentivos tal como existem no momento farão com que tomem essa medida sem que esses validadores sejam substituídos por outros em quantidade adequada.
Falta a transição de apenas uma rede de testes antes da rede principal do ETH passar a ser proof-of-stake
Em todo caso, depois de alguns adiamentos, o processo de transição para o regime de proof-of-stake avança. Uma rede de testes possibilita que uma mudança ou novo recurso seja testado antes de ser aplicado à rede principal. Um marco recente da transição foi a passagem da rede de testes Sepolia para o sistema proof-of-stake. Cerca de um mês antes, a principal das três redes de testes do Ethereum, Ropsten, havia passado pelo processo.
Falta agora a transição da rede de testes remanescente, a Goerli, para o mecanismo proof-of-stake, após o qual será, finalmente, a vez da rede principal, efetivamente fazendo a transição. Com os investidores do staking se afogando em prejuízo, porém, existe menos motivo para otimismo do que em um passado não muito distante.
Claro, os movimentos do mercado no futuro próximo talvez animem novamente os investidores e levem-nos a colaborar com a validação da rede. Essa é uma daquelas questões que o tempo responderá de maneira incontestável. Por enquanto, o que há são apostas, as quais, nos momentos, refletem a amarga experiência dos praticantes do staking de ETH com o inverno cripto.