O varejo brasileiro deve fechar 2023 com crescimento de 1,8% e apresentar aumento de 1,5% em 2024, conforme dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços (CNC). Segundo a organização, o consumo essencial (envolvendo segmentos que não dependem tanto do crédito) é o setor com melhores expectativas.
Inicialmente, a estimativa de crescimento prevista pela CNC era de 2% para este ano. Esses números, no entanto, foram revisados um pouco para baixo (1,8%), em consequência do desempenho das vendas em outubro, que caiu 0,3%.
Mas, apesar da desaceleração de outubro, a CNC sinaliza otimismo com relação ao desempenho positivo do varejo o em médio e longo prazo – como exemplificam os crescimentos previstos para 2023 e 2024.
Conforme Fabio Bentes, economista da CNC, o desempenho favorável acumulado em 2023 revela uma suave tendência de recuperação, em relação ao início da crise sanitária, em 2020.
Segundo a organização, essa expectativa positiva se ancora no recuo da taxa de câmbio, de mudanças na condução da política monetária, do recuo consolidado da inflação e de sinais positivos no mercado de trabalho.
A previsão da CNC é de que as compras de Natal neste fim de ano registrem um aumento de 5,6%, quando comparadas com as de 2022.
“À medida que as condições de consumo da população vão melhorando, por conta da queda das taxas de juros e do controle da inflação, as perspectivas dos comerciantes são de um bom fechamento de ano”, afirma José Roberto Tadros, presidente da CNC.
Consumo essencial em alta
Como citado inicialmente, as perspectivas mais promissoras para o varejo brasileiro se concentram no segmento de consumo essencial. Esse setor inclui, por exemplo, combustíveis e lubrificantes (com crescimento esperado de 4,9% em 2023), farmácias, drogarias e perfumarias (+ 4,3%), hiper e supermercados (+ 3,8%).
Por outro lado, áreas de que dependem de crédito não performaram bem neste ano. Entre os exemplos citados pela CNC estão: materiais de construção (queda de 2,1% nas vendas), vestuário e calçados (-6,7%), artigos de uso pessoal e doméstico (-11,3%).
“Alguns fatores desafiadores persistem, como a dificuldade de reação do setor por causa do mercado de crédito restritivo”, avalia Fabio Bentes, economista da CNC.
Impacto nos empregos
De acordo com a análise da CNC, em 2023 a empregabilidade acompanha o cenário de crescimento no setor de consumo essencial. Mas, em 2024, deve se verificar um maior equilíbrio no comércio de uma maneira geral.
Essa estimativa se deve à expectativa de queda de juros em 2024, que promete influenciar positivamente o número de empregos no comércio. Segundo a CNC, a flexibilização da política monetária, com corte da taxa básica de juros (Selic), ainda é recente. Ou seja, só deve ser concretamente sentida no próximo ano– beneficiando, dessa forma, os setores que dependem mais de crédito.
Dados apresentados pela Agência Brasil mostram que, no comércio em geral, foram criadas 105,4 mil vagas de trabalho de janeiro a outubro deste ano. No ano passado, foram 167,5 mil, no mesmo período.
Os supermercados foram os que mais abriram vagas de emprego em 2023, com 49,2 mil postos. Em seguida, veio o setor de combustível e lubrificante (13 mil novas vaga) e o segmento de artigos de uso pessoal e doméstico (mais 4,6 mil vagas).
Entre os setores que menos disponibilizaram vagas de emprego estão o de vestuário (31 mil vagas fechadas) e o de móveis e eletrodomésticos (mil vagas a menos).
Como ficam os salários
Em entrevista à EBC, o economista Fabio Bentes explicou que o salário médio de admissão é uado como referência. Em outras palavras, se o salário médio de admissão cresce muito acima da inflação, isso indica que aquele segmento ou mercado de produção está aquecido.
Segundo o economista, há ganhos reais salariais no comércio, na agropecuária e na indústria. Com base em dados do IBGE, ele afirmou que a massa de rendimento do mercado de trabalho no Brasil cresceu 5% acima da inflação no terceiro trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período no ano passado.
Entretanto, Bentes atribui esse resultado mais ao aumento da renda do que ao crescimento da ocupação. Com isso, ele quer dizer que a massa de rendimento no Brasil está crescendo mais por conta da desaceleração dos preços do que de uma abertura maior de postos de trabalho.