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O mercado da maioria, formado pelas classes C, D e E, representa 76% da população brasileira, e está transformando o setor de varejo no Brasil. Responsável por quase metade do consumo no país, esse grupo acelerou a digitalização, mudou o peso do preço na hora da compra e impulsionou o movimento phygital, que associa os universos físico e digital.

Esses são alguns dos insights revelados por uma pesquisa da PwC Brasil, que se debruçou sobre novos hábitos e demandas desse grupo. Entrevistas com mais de 2.300 consumidores e, também, com líderes de varejo e consumo fundamentam o estudo Mercado da Maioria – como a força da população de baixa renda está transformando o setor de varejo e consumo no Brasil.

Foram consideradas as seguintes rendas mensais domiciliares, com base em dados da Comissão para Definição da Classe Média no Brasil / SAE 2012, referentes a agosto de 2023.

Faixas de renda domiciliar per capita

  • Classe C1: R$ 1.235 a R$ 1.964
  • Classe C2: R$ 850 a R$ 1.235
  • Classe C3: R$ 560 a R$ 850
  • Classe D1: R$ 312 a R$ 560
  • Classe D2: R$ 156 a R$ 312
  • Classe E: Até R$ 156

Cinco tendências para 2024

O estudo apresenta cinco tendências para a transformação do segmento de varejo e consumo no país. O objetivo é ajudar as organizações da área a entenderem os atuais desejos e necessidades dessa população. E, com base nisso, desenvolverem novas soluções e serviços.

Um aspecto interessante que emerge da pesquisa é o significado que a compra representa para as pessoas. O estudo revelou que 61% se esforçam para comprar coisa que não tiveram condições financeiras de ter quando eram mais jovens. Além disso, 71% se sentem realizados quando economizam para comprar um produto e conseguem.

Confira, a seguir, as cinco tendências para o varejo e o consumo em 2024, apresentadas pelo estudo da McKinsey.

1. Além do preço: nova matemática de consumo

Segundo a PwC, o preço não é mais a única prioridade dos consumidores das classes C, D e E. Esse fator influencia, e muito, a decisão de compra. Entretanto, outros critérios ganham mais relevância nessa conta.

É o caso de qualidade do produto e reputação da marca. Além do mais, experiência de compra e praticidade também ganham protagonismo na hora de escolher como gastar.

Conforme essa nova equação entre custo e benefício, a pesquisa revela, ainda, uma preferência por lojas e marcas que oferecem experiências de compra agradáveis.

Outro ponto que influencia a decisão é a facilidade das operações. Esses consumidores querem mais simplicidade e agilidade ao pagar e receber a mercadoria.

  • 66% dos consumidores valorizam produtos de qualidade por preço justo.
  • 45% afirmam que a marca de um produto tem mais influência em suas decisões de compra (com relação a 10 anos atrás).
  • 92% pretendem priorizar marcas e lojas que ofereçam uma experiência de compra agradável.
  • 90% afirmam querer priorizar marcas e lojas que ofereçam praticidade na hora de receber ou levar a compra.
  • Os métodos de pagamento mais usados são: pix (66%), cartão de crédito (61%) e dinheiro (47%).

2. Policonsumidor reinventa experiência de compra

O consumo digital cresceu bastante durante a pandemia de Covid-19, mas as lojas físicas continuam a ter um papel bem importante para o varejo. Nesse contexto, ganha força o movimento de interseção entre essas duas frentes, ou seja, o mercado phygital (que une físico e digital).

A constatação da PwC é que a loja física continuará a existir, mas precisará se reinventar para oferecer experiências envolventes e mais personalizadas. Isso inclui, por exemplo, a incorporação de mais recursos digitais aos seus espaços físicos.

Nesse sentido, é muito importante encontrar um equilíbrio ético entre personalização e privacidade. Conforme o estudo, 62% dos consumidores preferem estabelecimentos que não solicitem muitos dados pessoais.

O investimento em recursos digitais, no entanto, não significa que a humanização do atendimento possa ser subestimada. Pelo contrário. Segundo a pesquisa, interações humanizadas com os consumidores podem gerar identificação, e são mais eficazes do que sistemas tecnológicos impessoais.

3. A nova arena circular do consumo

Uma forte característica do mercado contemporâneo é a relação entre consumidores e influenciadores. Esses influencers avaliam, testam e detalham características, vantagens e desvantagens dos produtos.

Dessa maneira, exercem grande peso nas decisões de compra. Além disso, algumas vezes acabam desenvolvendo suas próprias marcas (com ou sem parcerias com empresas já existentes no mercado).

A economia circular é outro pilar do varejo contemporâneo. E aqui o consumidor assume o protagonismo. Eles entram na arena de vendas, oferecendo, por exemplo, produtos de segunda mão de marcas renomadas, a preços mais acessíveis.

Entre as inovações nos processos de compra e venda também se destacam estratégias de gamificação no universo digital. São iniciativas que ajudam os próprios consumidores a rentabilizarem o consumo. Nesse sentido, as marcas oferecem recompensas e descontos em troca do engajamento das pessoas em suas plataformas.

4. Propósito: consumidor está mais engajado

Em sintonia com o espírito do nosso tempo, causas sociais e ambientais ganham mais peso nas decisões de compra. As pessoas estão mais atentas aos impactos positivos e negativos das empresas sobre a sociedade. E levam isso em conta ao escolher um produto ou serviço.

  • 86% dos consumidores estão dispostos a priorizar marcas e lojas sustentáveis.
  • 60% estão mais preocupados com o impacto das ações das marcas e lojas sobre o meio ambiente.
  • 70% se declaram dispostos a pagar mais por marcas que apoiem causas ambientais.
  • 69% se declaram dispostos a pagar mais por marcas que apoiem causas sociais.
  • 52% já abandonaram marcas que desrespeitaram o meio ambiente.
  • 53% já deixaram de comprar marcas por falta de responsabilidade social.

5. Autenticidade é mais valorizada

O Brasil se divide em muitos Brasis. E os consumidores querem ver essa pluralidade refletida e respeitada em produtos e serviços. Desse modo, é crucial que as empresas reconheçam e valorizem as particularidades de cada região. Só assim, diz o estudo, poderão estabelecer conexões genuínas.

Em outras palavras, lançamentos de produtos e campanhas de marketing devem considerar características demográficas. Além disso, precisam ser coerentes com os valores e práticas de cada empresas.

As pessoas estão mais perspicazes nesse sentido. Dessa forma, valorizam empresas que não apenas falam, mas agem de maneira inclusiva e genuína.

Esse movimento impulsiona a cocriação, com o propósito de estabelecer conexões mais profundas entre as marcas e seu público

Ademais, há uma maior preocupação com a diversidade. O estudo aponta que 50% dos consumidores já deixaram de comprar um produto ou contratar serviços de alguma marca que teve atitudes consideradas preconceituosas.

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