As ações de uma empresa são valores mobiliários que ela emite como forma de coletar recursos para o financiamento de suas atividades. Representam a propriedade de uma parcela do patrimônio líquido da empresa e são negociadas em bolsas de valores, por exemplo, a brasileira B3, sucessora da Bovespa.
Assim sendo, a valorização das ações de uma empresa pode gerar lucro para seus detentores, os acionistas, pois estes podem vendê-las por mais do que gastaram com elas. Por outro lado, os acionistas podem perder dinheiro caso suas ações se desvalorizem.
Ações e dividendos
Outra possível fonte de ganhos com ações de uma empresa são os dividendos. Com o fim de entendê-los, é necessário compreender que o comprador de uma ou mais ações de uma empresa está, de fato, tornando-se sócio dela.
Dessa maneira, ele passa a ter direito a parte dos lucros que a empresa obtiver. Os dividendos são distribuídos entre os acionistas em proporção à quantidade de ações que eles possuem. Por isso, podem ser vistos como um instrumento de que as empresas dispõem para recompensar os acionistas por seu apoio.
Os dividendos podem proporcionar aos acionistas uma bem-vinda renda extra. Por exemplo, se em determinado período, as ações de uma empresa que um investidor comprou sofrem valorização de 10%, e o investidor receber dividendos que correspondam a 5% do valor de seu investimento, sua aquisição das ações gerou lucro de 15% no período em questão.
Assim sendo, muitos investidores levam em conta o histórico e o potencial de geração de dividendos das empresas nas quais pensam em investir. Por consequência, para uma empresa, pagar habitualmente altos dividendos pode ser um diferencial na criação de demanda por suas ações.
Dividend yield é um dos indicadores mais atrativos para novos investidores
Dividend yield (ou seja, rendimento do dividendo) é um indicador que mede o rendimento obtido com os dividendos de uma ação. Ele é o produto de 100 dividido pelo quociente dos dividendos anuais por ação da empresa e o preço corrente da ação.
Dessa maneira, uma ação que custe 100 reais e gere no ano 10 reais de dividendos, consequentemente apresenta dividend yield de 10%.
De modo geral, empresas de grande porte e maduras têm mais chances de distribuir dividendos que startups ou empresas em fase de expansão rápida de seus negócios.
Ademais, boas pagadoras de dividendos costumam apresentar características como posição de liderança no setor em que atuam, atuação em grandes mercados, modelo de negócios resistente às intempéries do mercado e altos patamares de liquidez.
Regras a que estão sujeitas as ações de dividendos
As regras para negociação de ações e pagamentos de dividendos variam de país para país. Por exemplo, no Brasil, segundo a Lei das Sociedades Anônimas, o estatuto social da empresa deve determinar o valor mínimo (dividendo mínimo ou obrigatório) de dividendos que pagará.
Esse valor mínimo costuma ser expresso como um percentual do lucro líquido que a empresa obtiver no período a que os dividendos se referem. Diferentes empresas adotam diferentes periodicidades para o pagamento de seus dividendos, a saber: mensal, trimestral, semestral ou anual.
Caso os estatutos da empresa sejam omissos quanto aos dividendos mínimos, a Lei das Sociedades Anônimas determina que haja distribuição de, no mínimo, 50% do lucro líquido no período relevante.
Além disso, se os estatutos não fizerem referência aos dividendos mínimos e uma Assembleia Geral de Acionistas decidir introduzir regulamento sobre o assunto, ela não poderá estabelecer os dividendos mínimos em porcentagem do lucro líquido inferior a 25%. Na prática, boa parte das empresas fixa em 25% do lucro líquido os dividendos mínimos.
Apesar da determinação legal de que empresas de capital aberto distribuam pelo menos uma parte dos lucros que obtiverem na forma de dividendos, há exceções. Por exemplo, uma Assembleia Geral Extraordinária de acionistas pode decidir pela retenção de dividendos caso a empresa esteja enfrentando dificuldades financeiras ou tenha planos para reinvestir os lucros em seu negócio.
O cenário para 2024
Segundo estudo que a plataforma Meu Dividendo realizou, as empresas brasileiras distribuíram em 2023 30% menos dividendos entre janeiro e 15 de dezembro que no período correspondente de 2022. Essa redução dos dividendos foi puxada, principalmente, por Petrobras e Vale.
Além disso, o E-Investidor, plataforma de informações sobre investimentos do jornal Estado de São Paulo, consultou analistas quanto a suas expectativas para os dividendos em 2024.
De modo geral, eles afirmaram acreditar que a tendência seja as empresas distribuírem dividendos mais elevados em 2024 do que fizeram neste ano. Um dos principais motivos que eles apontaram para isso é a redução da Selic, reduzindo o custo do dinheiro para empresas e consumidores.
Outro dos motivos apontados foi a possibilidade de que um novo ciclo das commodities esteja para começar. Com isso, demos uma olhada em alguns papéis que podem ser interessantes para quem tem uma estratégia focada em dividendos neste próximo ano.
Algumas opções de ações de dividendos interessantes para 2024
Vale (VALE3)
Há fortes expectativas de aquecimento de demanda por minério de ferro. Caso elas se concretizem, é provável que as ações da Vale sofram considerável valorização em 2024. Além disso, espera-se que o dividend yield das ações da empresa mantenham o nível atual, de por volta de 10%.
BB Seguridade (BBSE3)
A BB Seguridade apresentou o maior lucro líquido de sua história em 2023. Seu Retorno sobre o Patrimônio Líquido foi de 91,5%, muito acima dos 55,4% de sua média histórica e dos 67,5% da média dos últimos 3 anos.
Entre as instituições que recomendaram recentemente o papel BBSE3, tanto pelo potencial de valorização como também pelos dividendos esperados, podemos citar Genial Investimentos e BTG Pactual.
Um dos pontos fortes da empresa de seguros do Banco do Brasil é sua exposição ao agronegócio, que gerou para ela bons ganhos em 2023 e deve fazer o mesmo em 2024.
Banco do Brasil (BBAS3)
O Banco do Brasil tem um sólido histórico como pagador de dividendos. Suas vantagens incluem a carteira de crédito, que se concentra em setores resilientes. Por exemplo, o agronegócio e empréstimos consignados voltados para servidores públicos.
Além disso, não podemos descartar os resultados fortíssimos de 2023. Com alta lucratividade, a tendência é que bons proventos sejam distribuídos para detentores de ações do Banco do Brasil em 2024.
Petrobras (PETR4)
Embora haja temores quanto a interferências do governo na empresa, as expectativas para a PETR4 são otimistas. É provável que a Petrobras consiga forte geração de receita, com isso, espera-se que as ações da Petrobras sofram valorização e que haja distribuição generosa de dividendos.
Vale lembrar que a Petrobras tem sido a maior pagadora de dividendos dentre as grandes empresas brasileiras nos últimos anos, tanto que encerra 2023 com um incrível dividend yield de 19,74%. Portanto, há uma expectativa de bons proventos em 2024, ainda que inferior aos de anos recentes.
B3 (B3SA3)
A B3 (B3SA3), que opera a bolsa de valores brasileira, planeja a distribuição de entre 90% e 120% do lucro líquido na forma de dividendos em 2024. A informação é do documento que a empresa entregou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no começo de dezembro.
A medida é uma forma de devolver capital aos acionistas. Outra maneira de fazer isso é o programa de recompra de ações que a empresa pretende levar a cabo a partir de março do ano que vem. Ela deverá retirar até 230 milhões de ações do mercado. Elas serão canceladas ou utilizadas para a execução de planos aprovados pela Assembleia Geral da B3.
PetroRecôncavo (RECV3)
Analistas apontam a sólida posição financeira da PetroRecôncavo como um dos motivos para haver expectativa de dividendos significativamente altos em 2024. Outro fator é a desvalorização que as ações da empresa sofreram em 2023, cerca de 40%, fruto de problemas operacionais.
A maior parte dos analistas acredita que os problemas operacionais da PetroRecôncavo serão superados. Para esse resultado deve contribuir a chegada de José Firmo. O executivo que será o CEO da empresa a partir de primeiro de janeiro do ano que vem tem experiência em setores como petróleo e logística.
Ademais, a desvalorização de RECV3 deixou, no ver dos analistas, baratas as ações da empresa. Isso pode levar a um dividend yield mais alto em 2024.
Taesa (TAEE11)
O grupo privado de transmissão de energia elétrica Taesa é um dos maiores do Brasil. Os analistas acreditam que, em algum momento nos próximos anos, a cotação das ações da empresa e os dividendos dela sofrerão impacto negativo positivo devido ao fim de concessões e ao retorno relativamente baixo daquelas que a empresa obteve mais recentemente.
Ainda assim, há, para 2024, expectativas de bons dividendos. A Toro Investimentos, por exemplo, estima em 9% o dividend yield de TAEE11.
Caixa Seguridade (CXSE3)
A Caixa Seguridade costuma pagar entre 90% e 100% do lucro líquido que obtém na forma de dividendos. Outro ponto positivo é o recente relatório do Itaú BBA, que estimou em 12% o dividend yield de CXSE3 para 2024.
Jalles Machado (JALL3)
A Jalles Machado, empresa que está entre os líderes do setor de etanol e açúcar, apresentou números relativamente decepcionantes no segundo trimestre de 2023. Isso deveu-se, em boa parte, a resultados negativos com hedge e à sua decisão de fazer estoque à espera de preços melhores para seus produtos.
Contudo, há otimismo com relação às ações da Jalles Machado em 2024. Só para ilustrar esse fato, mencionamos que a BB Investimentos selecionou a empresa para fazer parte de seu portfólio de ações que recomenda para 2024.
O principal motivo para isso foi o potencial de valorização que o setor de pesquisa da empresa, subsidiária do Banco do Brasil criada com o intuito de incentivar os negócios no mercado de capitais, identificou nas ações da Jalles Machado.
Banco ABC (ABCB4)
O consenso dos analistas é que ABCB4 combina altas probabilidades de valorização substancial e de pagamento de dividendos considerável. O dividend yield esperado para 2024 é de cerca de 8%.
Conclusão
As ações que pagam dividendos são muito famosas, principalmente entre os iniciantes. Isso porque conferem uma certa dose de previsibilidade (uma vez que geralmente são empresas mais maduras) e oferecem um conforto psicológico (já que o investidor vê os proventos caindo na conta com frequência).
Todavia, um erro muito comum é focar 100% neste tipo de ação. Como já é de conhecimento comum no mercado financeiro, diversificar é de suma importância para obter bons resultados com seus investimentos.
Diante disso, vale a pena incluir em sua carteira de investimentos algumas ações de dividendos, algumas de crescimento, fundos imobiliários, criptomoedas e, frequentemente, produtos de renda fixa.
Em suma, as ações citadas neste artigo são interessantes, mas não servem a todos os investidores. Portanto, estude a fundo cada um dos papéis e compre apenas aqueles que cabem em sua estratégia de investimento.