Boa parte da atenção favorável que a Petrobras vem recebendo dos investidores deve-se às vultosas remunerações que os acionistas têm conseguido neste ano.
De acordo com um relatório da Janus Henderson, uma gestora de ativos britânico-americana, a petrolífera brasileira foi a empresa que mais pagou dividendos no segundo trimestre deste ano, chegando ao equivalente a 9,7 bilhões de dólares.
O terceiro trimestre de 2022 terá visto uma distribuição ainda maior: 87,8 bilhões de reais (R$ 6,74 por ação), o equivalente a 16,71 bilhões de dólares no câmbio atual.
Preço do petróleo beneficiou Petrobras e outras petrolíferas
Como apontou o citado relatório da Janus Henderson, as empresas do setor de petróleo foram beneficiadas pela alta do preço da commodity, o que lhes permitiu responder por mais de dois quintos do aumento dos dividendos pagos no segundo trimestre em relação ao anterior.
Recentemente, contudo, os preços do petróleo nos mercados internacionais, que haviam subido com a invasão russa da Ucrânia, têm caído. Na opinião do diretor de alocação e distribuição da InvestSmart XP, André Meirelles, o recuo do preço da commodity em cerca de 20% nos últimos três meses deve reduzir os próximos dividendos da Petrobras.
O economista Paulo Feldmann, professor da Universidade de São Paulo, lembra, contudo, que o petróleo ainda está sendo negociado a cotações mais altas que aquelas do começo do ano e que os estoques dele estão relativamente baixos.
Isso, junto com a decisão dos membros da OPEP de reduzir a produção diária, deve sustentar os preços apesar das expectativas de queda na atividade econômica mundial.
Apesar da previsão de baixa do petróleo, boa estrutura da Petrobras deve ajudar a empresa a não sofrer
Além disso, segundo Feldman, a empresa brasileira possui grande eficiência operacional e pode se preparar para a situação do mercado que vem se desenhando. Por isso, é bem provável que consiga manter níveis altos de remuneração aos acionistas, mesmo que mais baixos do que os que foram alcançados neste ano até agora.
Para Ilan Arbetman, que é analista da Ativa Investimentos, dificilmente o preço do barril do petróleo ficará abaixo de 90 dólares neste ano e, dificilmente, será muito inferior em 2023.
Como para a Petrobras o custo de break even (o valor em que as receitas equivalem aos custos) é de 35 dólares por barril, a empresa deverá conseguir obter bons lucros mesmo que haja uma queda forte – e, no momento, improvável – da cotação da commodity.
Outra questão a considerar com relação à Petrobras é que sua razão entre EV (o valor da empresa) e Ebitda (abreviação, em inglês, de lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) é cerca de 2,5, inferior à de outras empresas da sua área de atuação.
A razão baixa entre EV e Ebitda da Petrobras indica que a petrolífera tem sido capaz de gerar grandes lucros em relação a seu valor de mercado.
Dividendos da Petrobras devem cair, mas ainda assim serão bons
De modo geral, os analistas de mercado louvam a gestão da Petrobras, que consideram competente, e sua eficiência gerencial, que consideram alta. Essas qualidades, em conjunto com a expectativa de que o preço do petróleo não caia muito, fazem com que os papéis da estatal sigam atraentes.
Para os investidores é um ótimo sinal, mesmo que a chamada farra dos dividendos possa estar perto do fim.
O Itaú BBA mudou sua recomendação quanto às ações da Petrobras de compra para neutra. Isso porque acredita que o faturamento da empresa será bem menor na segunda metade deste ano do que foi na primeira.
Para o último semestre de 2022, ele espera um dividend yield de 7% por trimestre, bastante inferior aos 21% do período entre abril e junho.
Já o banco Inter acredita que os dividend yields das ações da Petrobras em 2023 e 2024 serão de, respectivamente, de 15% e de 13%. Para essas estimativas, a instituição financeira considerou uma cotação média do petróleo de 80 dólares em 2023 e de 75 dólares no ano seguinte.
O investimento em renda variável é arriscado. Não invista dinheiro que não pode perder e estude bastante antes de investir.