Em 2023, a Bolsa de Valores brasileira não registrou nenhuma operação de abertura de capital (IPO). No entanto, as expectativas são de que o mercado de oferta inicial de ações esquente novamente em 2024. A expectativa está voltada especialmente para o segundo semestre, período em que se prevê que a taxa básica de juros Selic caia para um dígito.
Gilson Finkelsztain, presidente da B3, destaca que, apesar dessa perspectiva, o maior volume de operações deve ser de follow-ons — ofertas subsequentes de ações de companhias já listadas — que têm sido predominantes nos últimos cinco anos. No ano anterior, o país registrou pelo menos 20 follow-ons, totalizando movimentações de R$ 30 bilhões.
Gilson Finkelsztain, CEO da B3, revelou em uma coletiva de imprensa que o Brasil possui cerca de 100 empresas aguardando para realizar seus IPOs. Segundo ele, espera-se que as emissões venham de empresas de setores mais tradicionais e maduras. O executivo resumiu a situação dizendo que o mercado atualmente foca menos em promessas futuras e mais em resultados concretos.
Para o CEO da B3, uma taxa estável de 9% pode ser benéfica para a bolsa de valores
Finkelsztain, em suas declarações recentes, destacou que a agenda de emissões no mercado de capitais deve iniciar com follow-ons, principalmente das empresas que se listaram há mais de cinco anos. A Energisa, atuante no setor de distribuição de energia, está prevista para liderar as ofertas subsequentes deste ano, com uma operação esperada para os próximos dias.
Ele ressaltou que o volume de emissões por si só não é um indicativo da retomada do mercado de capitais. Nos últimos anos, esse mercado passou por uma mudança significativa em termos de liquidez e percepção do mercado externo.
Finkelsztain observou que hoje há um consenso de que a abertura de capital fora do Brasil é menos vantajosa, pois as empresas enfrentam menos liquidez e não fazem parte dos índices relevantes. Ele comentou que atualmente os bancos precisam justificar para os clientes as vantagens de se listar no exterior.
Governo deve continuar com as reformas e evitar os “ruídos”
Ele também apontou para uma combinação favorável de fluxo de investimentos estrangeiros em mercados emergentes e a queda nas taxas de juros, beneficiando o mercado local.
Finkelsztain afirmou que uma taxa de juros terminal de 9% não é prejudicial para o mercado de ações, ao contrário de uma taxa de 14%. Ele defende que uma taxa entre 9% e 10% reflete melhor a situação atual, favorecendo a estabilidade do mercado ao longo do tempo.
Do ponto de vista macroeconômico, o CEO defendeu que o governo continue com a agenda de reformas, evitando criar “ruídos desnecessários”, uma abordagem que ele considera possível. Ele acredita que focar no aspecto fiscal é mais importante do que o tamanho do déficit, mesmo que este seja pequeno.
Desempenho operacional da B3
Internamente, o crescimento do volume negociado de ações, atualmente em torno de R$ 25 bilhões diários, promete trazer benefícios significativos para a margem de lucro da B3 como empresa.
Nos últimos dois anos, a B3 conseguiu manter o seu volume de receita, majoritariamente devido ao seu pool de negócios não relacionados a equities, que corresponde a 60% de sua receita.
No entanto, o Ebitda da empresa sofreu uma deterioração devido ao aumento de despesas, como os salários. Com o aumento do volume de negociação e a infraestrutura já estabelecida, a B3 tem a capacidade de expandir suas operações sem um aumento significativo de custos.
O CEO da empresa destacou que, mesmo se o volume negociado dobrar, os custos da empresa não aumentariam em mais de 5%.
Além da bolsa de valores, setor de dívida privada deve se movimentar ainda mais
Cerca de 100 empresas têm se preparado nos últimos três anos para abrir capital no Brasil. No entanto, uma operação de IPO exige um fluxo de recursos mais robusto no mercado, incluindo uma presença significativa de investidores estrangeiros.
Os investidores estão se posicionando para investir no Brasil, mas a concretização desses investimentos ainda depende de fatores globais.
Neste ano, a expectativa é que o principal movimento no mercado de capitais seja a emissão de dívida privada. O destaque vai para instrumentos como debêntures, CRIs, CRAs, LCIs e LCAs, devido à alta demanda por crédito privado.
Entre os setores tradicionais com potencial de IPO, destacam-se energia e utilities. Já as empresas de tecnologia, cujo retorno ao mercado de IPOs é esperado mais tarde, provavelmente serão aquelas que já alcançaram lucro ou estão próximas disso.
O presidente da B3 ressalta que as eleições americanas representam um grande evento global neste ano, com potencial para gerar volatilidade no mercado de capitais. No Brasil, o cenário econômico apresenta-se mais definido, com uma inflação controlada e juros em queda.
Segmentos de listagem da bolsa de valores devem ser revisados
Finkensztain anunciou uma revisão nas normas do Novo Mercado, um segmento da Bolsa onde as empresas adotam voluntariamente práticas rigorosas de governança, administração e transparência.
Importante ressaltar que a Americanas, varejista que enfrentou um grande déficit financeiro no ano passado, negociava suas ações nesse segmento.
O presidente da B3 esclarece que o objetivo dessa revisão é aumentar a segurança para os investidores. Uma audiência pública será realizada, e a redefinição das normas desse segmento será um processo consensual entre as empresas e a B3.
Após isso, as sugestões serão levadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão responsável pela fiscalização do mercado de capitais. Também discutirão os prazos para implementação das novas regras.
Finkensztain destacou que a audiência pública está prevista para o primeiro semestre. Ele ressalta que se trata de uma revisão periódica, essencial para o aprimoramento da governança corporativa. A última revisão ocorreu em 2017.
Oceânica Engenharia pode ser o primeiro IPO da bolsa de valores em mais de dois anos
A Bolsa brasileira pode ter o seu primeiro IPO em mais de dois anos. A Oceânica Engenharia, empresa de soluções submarinas para a indústria de energia offshore, divulgou na quarta-feira (17/01) a intenção de realizar uma oferta pública inicial de distribuição primária e secundária na B3.
Ou seja, caso efetivada, o capital deve ir tanto para o caixa da empresa e investimentos quanto para dar saída a acionistas.
A Oceânica afirma que ainda não estimou o montante potencial da oferta. Entetanto, parte dos recursos seriam direcionados para a aquisição e customização de embarcações, aquisição de máquinas e equipamentos e aumento da posição de caixa da companhia.
Foram contratados para coordenar o processo de IPO os bancos BTG Pactual, Itaú, UBS Brasil, Bradesco, Santander e ABC Brasil.
Desempenho financeiro da Oceânica
A Oceânica teve prejuízo líquido de R$ 2 milhões no 3º trimestre de 2023, revertendo um lucro líquido de R$ 12,7 milhões no mesmo período do ano anterior. O resultado negativo no trimestre deu-se principalmente pelo aumento das despesas operacionais e financeiras.
Já no acumulado dos 9 primeiros meses de 2023, a empresa registrou um lucro líquido de R$ 19 milhões, 88,7% maior do que o observado no mesmo período de 2022.
Vale lembrar que o último IPO registrado na B3 ocorreu em dezembro de 2021, quando o Nubank abriu capital em Nova York e listou BDRs no Brasil (ROXO34). Einar Rivero, colunista do E-Investidor e diretor da Elos Ayta Consultoria, foi o responsável por levantar os dados.
Nasdaq não fica para trás — segundo CEO, mais de 80 estão prontas para abrir capital
A Nasdaq, uma das principais bolsas de valores, se prepara para um ano agitado em termos de IPOs, com mais de 80 empresas prontas para abrir capital.
A CEO da Nasdaq, Adena Friedman, revelou em uma entrevista à Bloomberg TV em Davos que cerca de 85 empresas já solicitaram abertura de capital na Nasdaq, sinalizando prontidão para aproveitar a reabertura dos mercados.
Após um declínio significativo na atividade de IPOs desde o ápice em 2021, a Nasdaq, conhecida por seu foco em ações de tecnologia, tem visto esforços da CEO Friedman para diversificar suas operações. Além das negociações de ações tradicionais, a Nasdaq tem buscado fontes de receita mais estáveis e menos vulneráveis à volatilidade do mercado.
Atualmente, soluções como dados e análises representam aproximadamente 75% da receita da Nasdaq, enquanto as atividades de mercado contribuem com apenas 25%. Friedman enfatiza que, embora o mercado continue sendo a fundação da empresa, a diversificação é essencial para o crescimento futuro.
Com taxas de juros estáveis, investidores podem assumir mais riscos
A CEO da Nasdaq também comentou sobre as expectativas para o aumento dos IPOs em 2024. Ela acredita que, para isso acontecer, os investidores precisam estar dispostos a mobilizar seu capital.
Por fim, Friedman destacou que, se houver uma percepção de estabilização nas taxas de juros, os investidores poderão assumir mais riscos conforme as incertezas do mercado diminuírem. “Há mais oportunidades para mais IPOs este ano”, concluiu ela, mostrando otimismo quanto ao cenário econômico e financeiro.