Na quinta-feira (14/12), o Ibovespa (IBOV), principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), registrou uma alta muito importante. A alta foi impulsionada pelas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos.

O índice atingiu 131.000 pontos durante o pregão, seu pico, e fechou com um aumento de 1,06%, alcançando 130.842,09 pontos. Esse resultado superou a máxima histórica anterior de 130.776,27 pontos.

As ações dos bancos centrais do Brasil e dos EUA foram fundamentais para o avanço do Ibovespa, que conseguiu ultrapassar a importante marca de 130 mil pontos.

Na “Super Quarta”, o Fed optou por manter os juros americanos estáveis, variando entre 5,25 e 5,50%. Apesar de um cenário ainda incerto, o Fed indicou o fim do ciclo de aperto monetário, com previsão de início dos cortes para 2024.

Jerome Powell, presidente do Fed, surpreendeu ao sugerir que os juros já alcançaram seu nível máximo, uma análise corroborada por Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.

A redução da taxa Selic foi um dos elementos que impulsionou o Ibovespa

No Brasil, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, estabelecendo-a em 11,75% ao ano. Surpreendentemente, o mercado já esperava um corte dessa magnitude.

Em um comunicado, o Banco Central antecipa que cortes de magnitude similar podem ocorrer nas próximas reuniões, julgando esse ritmo apropriado para sustentar a política monetária contracionista, essencial no processo de desinflação.

Em resumo, o comunicado da instituição chamou a atenção para o risco fiscal, comentando a importância de atingir as metas fiscais definidas para ancorar as expectativas de inflação e influenciar a política monetária. O Copom salientou a urgência em aderir rigorosamente a essas metas.

Em uma análise do mercado, Fernandes apontou que a recente valorização se deve em grande parte ao otimismo no cenário internacional, o que poderia permitir ao Banco Central do Brasil intensificar a diminuição da taxa Selic em 2024, respeitando os limites viáveis.

Movimentações relevantes do Ibovespa

Nas últimas sessões, as taxas dos Depósitos Interfinanceiros (DIs) continuaram sua trajetória de queda, marcando o quarto dia consecutivo de redução.

Já no cenário do mercado de ações, as blue chips deram um forte impulso ao Ibovespa. Destacando-se, a Petrobras (PETR4) registrou um aumento de 2,17% em suas ações, seguindo a tendência de recuperação dos preços do petróleo.

A empresa Prio (PRIO3), também do setor de óleo e gás, mostrou uma das maiores valorizações do período. Paralelamente, a Vale (VALE3) observou um aumento em suas ações, apesar da recente queda nos preços do minério de ferro.

Por outro lado, o setor varejista enfrentou desafios, com quedas significativas. A Natura (NTCO3) e a Magazine Luiza (MGLU3) registraram desvalorizações de 5,22% e 3,95%, respectivamente, refletindo um período mais difícil para o varejo.

O mercado americano também antecipa um ciclo de reduções na taxa básica de juros

O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, decidiu por unanimidade manter a taxa de juros de referência entre 5,25% e 5,50% ao ano.

No aguardado gráfico de pontos, mais até do que o comunicado, 15 membros do Fed projetaram os juros entre 4,25% e 5% para 2024, com a maioria prevendo taxas entre 3% e 4% até o final de 2025.

O mercado, interpretando as indicações do Fed, concluiu que os juros nos Estados Unidos provavelmente atingiram o ápice do ciclo de elevação e devem começar a cair, provocando um aumento no apetite por risco.

Portanto, espera-se que cortes na taxa de referência dos EUA ocorram em breve, conforme já previsto pelo mercado.

Conforme os dados da Chicago Mercantile Exchange (CME), atualmente existe 76,1% de probabilidade de o Federal Reserve iniciar a redução das taxas de juros em março de 2024.

Esta expectativa ganhou força após a declaração do presidente do Fed, às 16h30, que influenciou o mercado a adotar uma perspectiva mais “dovish” (favorável à redução das taxas de juros).

A expectativa de cortes futuros impulsionou a alta das Bolsas de Valores americanas

Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, ressaltou que o Federal Reserve atingiu um marco importante ontem, indicando o término do ciclo de elevação de juros e o início dos cortes.

Gala informou que o mercado já aposta em reduções de juros para março. Ele deu ênfase ao relatório dos “dot plots”, que mostrou uma expectativa de diminuição da taxa de juros de 5,1% para 4,6% no próximo ano, com 11 diretores prevendo mais três cortes.

Gala observou que o mercado interpretou rapidamente esses indícios como o início do ciclo de cortes, o que provocou a queda do rendimento do título do tesouro americano de dez anos.

Esta mudança levou a aumentos significativos nas bolsas de valores. No final do dia, o título do tesouro americano de 10 anos fechou a 3,913%, com uma redução de 12 pontos-base.

Nos últimos dois pregões, as bolsas de valores norte-americanas também experimentaram altas. O Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq registraram, respectivamente, aumentos de 0,43%, 0,26% e 0,19% nesta quinta-feira.

Ibovespa continua com perspectivas positivas para 2024

Analistas do mercado financeiro mantêm uma perspectiva positiva para a Bolsa brasileira, com expectativas otimistas que se estendem também para 2024.

Bolsa de Valores em alta
Sede da B3, em São Paulo

De acordo com análises da XP, o ciclo de redução de juros no Brasil desempenha um papel fundamental nessa visão bullish. Fernando Ferreira e Jennie Li, estrategistas da XP, estimam um valor justo para o Ibovespa de 142 mil pontos para o ano de 2024.

Eles enfatizam que as ações brasileiras estão atualmente com um valuation descontado. No momento, elas apresentam um preço sobre lucro (P/L) de 8,0, valor este que está abaixo da média histórica de 11.

Ferreira e Li também apontam que setores como Saúde, Educação, Imobiliário, Financeiro, Varejo e Transportes tendem a ser mais sensíveis aos ciclos de juros.

Um analista expressa ainda mais otimismo, prevendo que o Ibovespa alcançará os 155 mil pontos.

Mateus Haag, analista da Guide Investimentos, compartilha a opinião de que o Ibovespa está atualmente “barato”, considerando o valuation, incluindo o preço/lucro e outros indicadores.

A Guide mantém uma perspectiva positiva para o índice nos próximos meses, estabelecendo uma meta de 155 mil pontos para 2024.

Haag enfatiza que a redução das taxas de juros, tanto no Brasil quanto internacionalmente, tende a favorecer os investimentos em renda variável.

Essa diminuição dos juros também afeta diretamente o lucro das empresas listadas no Ibovespa. Ele observa que a economia continua em crescimento, embora de forma lenta, o que beneficia a renda variável.

Além disso, Haag aponta que a atual alocação em ações nos fundos brasileiros é baixa, o que pode gerar um impulso para o Ibovespa no curto prazo.

A expectativa para o dólar é de queda para o médio e longo prazos

José Faria Jr., diretor da Wagner Investimentos, sustenta a visão de que o rali da Bolsa pode perdurar por mais tempo.

No entanto, ele ressalta a importância de se manter atento a certos fatores, sobretudo nos Estados Unidos, que podem influenciar o mercado a longo prazo.

Faria Jr. chama a atenção para o risco de uma recessão, decorrente do agravamento da situação do mercado de trabalho e do término dos recursos financeiros emergenciais da pandemia.

Ele também alerta para a possibilidade de uma política financeira mais flexível resultar em uma nova onda de inflação.

Em relação ao câmbio, o diretor prevê uma tendência de desvalorização do dólar no médio e longo prazos, motivada por um discurso mais conservador do Copom.

Por fim, Faria Jr. conclui que essa postura do Copom é benéfica para o real, argumentando que uma redução menos intensa dos juros favorece a valorização da moeda brasileira.

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