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Depois da febre em torno da IA generativa, o setor de negócios se volta para outro desdobramento da inteligência artificial: a chamada IA geral. Esse conceito é mais holístico e também mais controverso. Sua própria definição ainda não está bem fechada, e não há certeza se vai realmente se concretizar. Mas é bom já ir se familiarizando com as intensas discussões e previsões na área.

Em princípio, a inteligência artificial geral (AGI) poderia ser entendida como uma avançada versão da IA, que poderia atingir o mesmo patamar de cognição humana ou até superior. Em outras palavras, essa IA poderia racionar como uma pessoa humana, ou de maneira ainda mais desenvolvida.

Essa é a base de um conceito estruturado e divulgado recentemente pelo Google DeepMind. O paper “Levels of AGI: Operationalizing Progress on the Path to AGI”, publicado em novembro, propõe um framework para classificar capacidades e comportamentos de modelos de IA Geral.

Esse documento introduz níveis de performance e autonomia da IA Geral, e busca chegar a uma linguagem comum que permita comparar modelos, avaliar riscos e mensurar os progressos relacionados ao desenvolvimento dessa tecnologia.

Cognição similar à dos humanos

É importante salientar que a IA Geral ainda não existe na prática. É um caminho teórico que vêm sendo visualizado e estruturado, a partir da evolução da inteligência artificial que conhecemos hoje.

O que a equipe do GoogleMind fez foi analisar diferentes conceituações da IA geral, identificar o que considera pontos em comum, e, a partir daí, construir seu framework.

Em entrevista ao MIT Technology Review, Meredith Ringel Morris e Shane Legg, cientistas do Google DeepMind, tentaram afunilar um pouco a definição de IA geral que resultou desse trabalho.

Segundo os pesquisadores, a IA Geral deve ter alto desempenho e, ao mesmo tempo, um propósito mais abrangente (e não uma coisa ou outra).

Eles também afirmam que a IA geral deve ser capaz não apenas de executar uma ampla gama de tarefas, mas de aprender a desempenhar essas funções, avaliar sua performance, e solicitar ajuda quando necessário.

Uma questão crucial nesse debate é a avaliação das capacidades da IA, algo que já é complicado no estágio atual dessa tecnologia. Conforme os cientistas do Google DeepMind, se a IA geral chegar efetivamente a ser desenvolvida, sua capacidade precisará ser avaliada de forma contínua – e não por meio de testes específicos.

Os pesquisadores também chamam atenção para o fato de que o conceito de IA Geral não implica, necessariamente, em autonomia. Eles dizem que, frequentemente, há uma suposição implícita de que esses sistemas operariam de forma completamente autônoma. Mas, em teoria, seria possível construir máquinas superinteligentes e completamente controladas por humanos.

“Não tentem construir um Deus”

A análise do MIT Technology Review destaca uma questão elementar, que não estaria presente na discussão e na conceituação proposta pelo Google DeepMind. “Por que deveríamos construir a IA Geral?”, indaga o MIT.

Da mesma forma que a definição da IA Geral ainda não está fechada, o questionamento sobre a própria existência dessa tecnologia segue em aberto para muitos cientistas.

Alguns, inclusive, criticam o próprio fato de a academia apontar o provável surgimento dessa tecnologia e suas habilidades. Como exemplo, o MIT cita Timnit Gebru, fundador do Distribute AI Research Institute. Gebru afirma que a essa hipotética tecnologia soa como uma falsa, e até perigosa, utopia. “Não tentem construir um Deus”, chegou a declarar.

Em meio a todas as controvérsias, o possível desenvolvimento da IA Geral e tudo o que isso implicaria para os negócios, e a humanidade de maneira geral, se mantém como um dos temas mais quentes do mundo.

Como quase tudo atualmente, é um tema que se transforma e evolui aceleradamente. E que deve estar no radar dos líderes corporativos e donos de negócios. Ainda que, por enquanto, apenas como um possível próximo estágio da IA. Um estágio que, se vier a se concretizar, promete impactos profundos.

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