A avaliação negativa do governo Lula junto ao mercado financeiro chegou a 52%. É o que indica a mais nova pesquisa Genial/Quaest, lançada esta semana. Isso representa um aumento de cinco pontos percentuais em relação à aprovação em setembro, que era de 47%. Também caiu o percentual de entrevistados que avalia o governo de forma regular (39%) ou positiva (9%).
Esse foi o segundo aumento consecutivo na reprovação do governo segundo a série de pesquisas Genial/Quaest. Além disso, é a primeira vez desde maio que a avaliação positiva fica abaixo dos 10%. O instituto realiza esse levantamento a cada 2 meses.
Detalhes da pesquisa: Haddad ainda recebe confiança
A pesquisa da Genial/Quaest foi realizada junto a 100 fundos de investimentos com sedes nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. A última coleta foi feita entre os dias 16 e 21 de novembro, por meio de questionários online.
A informação mais importante da pesquisa é a aprovação do governo Lula. Afinal, este mês, houve uma nova deterioração em sua imagem junto ao mercado financeiro:
Os dados reforçam o momento ruim do governo junto a esse segmento, conforme tendência da última pesquisa, realizada em setembro. Aliás, a evolução atual contrapõe-se ao aumento da aprovação observado nos dois levantamentos anteriores.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também viu crescer a rejeição ao seu trabalho. No entanto, a variação foi mais leve neste caso. Além disso, seus números permanecem em um patamar mais elevado que os do governo como um todo.
As opiniões positivas em relação a Haddad caíram de 46% para 43%, enquanto as negativas oscilaram de 23% para 24%. Já o percentual de entrevistados que veem como regular o trabalho do ministro passou de 31% para 33%.
Expectativas em baixa para a economia
Apesar de Haddad manter um índice baixo de reprovação, a expectativa negativa em relação ao futuro da economia (dentro de 12 meses) disparou. Segundo a pesquisa, ela foi de 34% a 55%, enquanto o otimismo desabou de 36% para 21%. Além disso, a parcela dos que acham que a situação ficará igual passou de 30% para 24%.
Por fim, houve um aumento do pessimismo em relação à política econômica do país. A variação foi mais leve, neste caso, mas os números já eram extremos no levantamento anterior. Afinal, pouco mais de um quarto (27%) dos entrevistados se mostra otimista.
Ao mesmo tempo, caiu a expectativa em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2023. No levantamento anterior, apenas 15% dos entrevistados esperavam um aumento abaixo de 3%, que é a projeção atual do mercado. Em novembro, essa passou a ser a opinião da maioria (51%). Ou seja, o mercado já está pessimista em relação à sua própria previsão de crescimento original.
Portanto, após reverter no primeiro semestre a aversão inicial do mercado financeiro, o governo Lula deverá encerrar o ano com popularidade em baixa. Nesse cenário, Haddad parece ser uma peça-chave para tentar recuperar a confiança perdida.
Política fiscal na mira do mercado
Afinal, o que levou a essa deterioração rápida da imagem do governo junto ao mercado financeiro? Nos últimos meses, alguns números positivos pareceram apontar para outro momento da economia brasileira.
Por exemplo, segundo o último Boletim Focus, a previsão do mercado para a inflação neste ano caiu de 4,59% para 4,55%. Além disso, a taxa de desemprego caiu de 8% para 7,7% no terceiro trimestre. Esse é o nível de desemprego mais baixo desde o último trimestre de 2015. Esses dados foram divulgados em meio a um cenário internacional favorável para o Brasil, com expectativa de queda dos juros nos EUA e Ibovespa em alta.
A explicação para a desaprovação do governo pelo mercado foi dada pela própria pesquisa da Genial/Quaest. Para os entrevistados, a política fiscal atual é o principal problema que dificulta uma melhora da economia brasileira.
O diretor do instituto resumiu no X (antigo Twitter) o que levou a uma desconfiança renovada em relação à política fiscal do governo:
4/ Em setembro, o mercado já não acreditava que o governo iria conseguir zerar o déficit em 2024 (95%), mas depois que o governo passou a discutir em público as dificuldades de se chegar nesta meta, o mercado piorou sua avaliação (100%). pic.twitter.com/99yC6eaIzX
— Felipe Nunes (@profFelipeNunes) November 22, 2023
Isso ocorre em um cenário no qual o Banco Central é independente, sem interferência do governo. Além disso, o mercado já estimou os possíveis efeitos da Reforma Tributária. Por isso, a política fiscal se tornou a questão primordial — e o tema de casa que o governo não parece disposto a fazer.
Já era previsto um déficit este ano. Afinal, o governo atual herdou um desarranjo da gestão anterior devido às eleições. Além disso, havia a expectativa de valorização do salário mínimo, aumento dos gastos em diferentes áreas e, também, investimentos. A diminuição das receitas também era esperada, devido à queda da inflação.
Apesar disso, os resultados do governo foram se mostrando piores que o esperado ao longo de 2023. A arrecadação caiu pela 4ª vez seguida em setembro. Além disso, o governo tem se mostrado cada vez menos disposto a sacrificar investimentos para perseguir o déficit zero em 2024.
Lula coloca em dúvida meta fiscal
Enquanto Haddad insiste que a equipe econômica buscará essa meta, o próprio Lula deu uma declaração em sentido contrário no fim de outubro.
Tudo o que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal, a gente vai cumprir (…) E quero dizer para vocês que nós dificilmente chegaremos à meta zero. Até porque eu não quero fazer corte de investimentos de obras. E se o Brasil tiver um déficit de 0,5%, o que é que é? De 0,25%? O que é que é? Nada. Absolutamente nada.
A reação do mercado, que já achava difícil o cumprimento da meta, foi a pior possível. Afinal, pelo menos havia a expectativa de que o governo tentaria atingi-la, o que tenderia a diminuir o déficit. A oficialização de uma nova meta fiscal pode significar o relaxamento das medidas esperadas para esse fim — por exemplo, um corte de despesas pelo governo.
Na pesquisa da Genial/Quaest, cerca de metade dos entrevistados disseram esperar uma nova meta de déficit em torno de 0,50% do PIB.
No início do mês, o governo Lula descartou alterar a meta ainda este ano. Isso significou uma vitória temporária de Haddad sobre setores do Partido dos Trabalhadores (PT) que defendem a medida o quanto antes para assegurar investimentos públicos.
No entanto, o governo ainda pode alterar a meta com apoio do Congresso no primeiro trimestre de 2024. Portanto, está no horizonte tanto dos integrantes do governo quanto do mercado financeiro.
Até lá, Haddad espera ter como principais aliados o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Afinal, o ministro depende de votações importantes no Congresso para melhorar as contas do governo.