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A América Latina é uma das regiões que mais fazem transações com criptomoedas por meio de corretoras. Especialmente via centralized exchanges (CEX). Os dados são de um recente estudo da Chainalysis sobre o setor.

Os analistas observam que os grandes investimentos institucionais na região estão baixos, se comparados à Ásia, Europa e Estados Unidos, por exemplo. Mas destacam que a América Latina impulsiona o setor partir de operações individuais no mercado de criptomoedas. Diante disso, se revela outra característica desse mercado na região: a alta aceitação de grassroots.

Nesse contexto, a pesquisa salienta que o crescimento do mercado cripto na região pode ser entendido como uma reação ao aumento da inflação e à desvalorização das moedas oficiais de alguns países. Consequentemente, cresce o uso de criptomoedas para operações como remessas e pagamentos globais.

Similaridades e contrastes

Embora apresentem comportamentos e movimentos comuns, os países da América Latina têm particularidades quanto à forma como cada um explora o setor de criptomoedas.

No caso do Brasil especificamente, as operações são realizadas principalmente via CEX (60,7%), seguidas por DEX (30,5%), outra DeFi (6,6%) ou outras modalidades em geral (2,2%).

O gráfico a seguir aborda esse tema e traz um destaque especial para a Venezuela. O país apresenta a maior porcentagem de centralized exchanges. As CEXs correspondem a 92,5% das atividades que envolvem criptomoedas no país.

Por outro lado, a exceção fica por conta do México, onde as descentralized exchanges são maioria (ainda que por uma pequena diferença percentual).

Grassroot cripto aquece mercado brasileiro

Quando lança um olhar mais aprofundado para o Brasil, o estudo analisa o declínio das grandes operações institucionais. Porém, adota uma mensagem otimista quando considera o desempenho das operações da chamada middle class de “high-value crypto traders”, assim como de investidores de varejo.

Os responsáveis pela pesquisa preveem, inclusive, que, se essas operações se mantiverem, usuários institucionais podem retornar e até superar o nível de atividades anteriores.

Vale observar, ainda, que apesar de já ter visto tempos melhores, o mercado de criptomoedas no Brasil é um dos maiores da América Latina. Isso ao considerar o montante de valores recebidos (como é, por exemplo, exibido a seguir).

 

Mais uma particularidade do Brasil, sinalizada pela pesquisa, é a maior estabilidade econômica e também do real, em comparação com alguns países vizinhos, como a Argentina – onde o peso está bastante desvalorizado.

Esse contexto gera uma maior demanda por stablecoins na Argentina do que no Brasil. Aqui, há uma maior procura por Bitcoin e altcoins – geralmente mais usados para investimentos de longo prazo. O gráfico a seguir mostra as criptomoedas mais compradas com as moedas fiduciárias de ambos os países.

Impacto das eleições na Argentina

O mercado de criptomoedas é um tema diretamente atrelado às campanhas presidenciais da Argentina neste ano. Isso acontece, em boa parte, devido aos problemas econômicos que o país enfrenta. A inflação já atingiu três dígitos, enquanto o percentual de desvalorização do peso argentino chegou a 51,6%.

“Temos uma inflação muito alta, e há várias restrições quanto à compra de moedas estrangeiras. Isso faz das criptomoedas uma potente opção para as pessoas fazerem suas economias.Na medida em que cresce a adoção às criptomoedas, várias pessoas vão receber seu salário e imediatamente aplicar em USDT ou USDC”
Alfonso Martel Seward, Head of Compliance & AML na Lemon Cash, em entrevista para o estudo.

Dessa forma, alguns candidatos à presidência na Argentina (com eleições neste ano) apresentam planos para usar ativos digitais como uma forma de “reavivar” a economia local.

Um deles é o candidato Javier Milei, que defende medidas radicais para abolir o banco central do país, bem como sua moeda fiduciária. Dessa forma, o país passaria a utilizar o dólar.

Por outro lado, o candidato Sergio Massa é contra a dolarização da economia e aborda o setor por outro ângulo: ele prometeu lançar uma CBDC (moeda digital de banco central).

Venezuela tenta driblar inflação

A Venezuela também é abordada no estudo do ponto de vista de seus problemas econômicos. De maneira semelhante ao que acontece na Argentina, a população venezuelana lida com uma grande desvalorização da moeda oficial,

Nesse sentido, o estudo revela que o país tem um das mais graves taxas de hiperinflação, e que, como resultado, as criptomoedas, particularmente stablecoins, ajudam os venezuelanos a lidar com esse problema.

Isso pode ser ilustrado pela seguinte dinâmica: a compra de criptomoedas com uso o bolívar venezuelano (moeda oficial do país) tende a crescer quando o bolívar perde valor.

Diante desse contexto, o estudo argumenta que a adoção das criptomoedas no país simbolizam o potencial de tecnologias emergentes para promover mais liberdade e qualidade de vida, em nações que mais precisam de ambos.

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